Plagiar por plagiar, além de aético e imoral, é crime. É iniciativa de quem não tem criatividade e competência para criar e simplesmente copia, sem lembrar autoria e origem. A prática deve ser combatida e denunciada por todos nós, blogueiros profissionais ou não. Mas pelo amor de Deus, reproduzir uma obra, pela sua qualidade e até interesse público, nomeando, claro, seu autor e fonte, é quase uma obrigação. Eu, pelo menos, penso assim.
É o que acontece em relação ao texto genial que você vai ler abaixo, assinado por Luiz Antonio Simas, mestre em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor de História do ensino médio. Ele é considerado um dos profissionais mais importantes do Rio de Janeiro em sua área de atuação. Publicou em parceria com o caricaturista Cássio Loredano, o livro O Vidente Míope, sobre o desenhista carioca J. Carlos, indicado pela Revista de História da Biblioteca Nacional como uma das publicações mais relevantes da área no ano de 2007. Desenvolve pesquisas sobre a cultura popular carioca, mais especificamente nos campos do futebol e da música popular. Foi o responsável pela pesquisa da exposição Todas as Copas, evento realizado no Brasil e nos Estados Unidos durante a Copa do Mundo de 1994. Seu trabalho foi considerado pela FIFA como um dos mais completos levantamentos já realizados sobre a história dos mundiais de futebol. É atualmente consultor da área de carnaval do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro.
O texto foi publicado no blog da Maria Helena. Quem o enviou a mim foi a AnaKris.
"Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/ o cravo ficou feliz/ e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?
É Villa Lobos, cacete!
Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: "Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas". A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.
Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém (não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda) foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.
Vivemos tempos de não me toques que eu magoo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical. O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar (...), cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".
Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde. Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto".
Genial, genial, genial...
Muitos querem ser detentores da verdade, puxando sempre a sardinha para suas conveniências.
ResponderExcluirAbraços forte
Dei uma passadinha rápida por aqui e deixo um grande abraço a todos que por aqui passar,
ResponderExcluirMARIVAN
Valeu, Marivan!
ResponderExcluirUm abraço...
É isso aí, Príncipe!
ResponderExcluirEu também adorei o texto, e vou repetir pra você o que disse pra Claudia (Cacau) no diHITT:
Gostei tanto do texto "que não tive "vontade" de postá-lo no Dando Pitacos, eu me senti "obrigado".
Eu não conhecia o autor, Luiz antonio, e pesquisando sobre ele, descobri que, apesar de conceituado mestre em história, é um sujeito comum, que gosta de samba, bebe cerveja, vai ao Maracanã e, infelizmente, torce pelo Botafogo, rsrsrs...
A vida, assim, fica mais fácil pra todo mundo. Sabe porque? Por que se vive e se deixa viver!
Estamos ficando enojados dos "donos da verdade", "do conhecimento", "do caminho que devemos seguir", "com quem devemos andar", "como devemos falar"! Isso é patrulha! Isso é coisa de gente alienada, e eu, pelo menos até aqui, ainda sou um cara normal!
O cravo não pode "brigar" com a rosa? Isso é coisa de gente doente!"
Um abração...
Carlos,
ResponderExcluirque coisa mais doida essa!!!!
quer dizer que tudo que aprendi na infância agora é considerado politicamente incorreto????
kkkkk...cantei samba Lelê até cansar, atirei pau no gato, brinquei de roda com o cravo brigando com a rosa, e não virei nenhuma delinguente que mata gatos, espanca crianças ou coisas assim...
Otimo o texto, parabéns por postar!
bjus!
É isso, Kassya!
ResponderExcluirVocê resumiu bem: fizemos tudo isso e somos cidadãos de bem!
Um abração...
Excelente texto, C. Roberto! Assino embaixo tudo o que foi dito! Na verdade, sinto-me aviltada por essa onda do 'politicamente correto'. Daqui a pouco, seremos impedidos de abrirmos a boca, sob o risco de sermos processados por um artigo qualquer do CPC!
ResponderExcluirSinceramente, amigo, no meu entender, este país só tem uma saída: Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, vulgo, Galeão!
BEIJOSSSSSSSSS
Você é inteligente e espirituosa até na hora do protesto, Neusa!
ResponderExcluirRealmente, daqui a pouco só vai nos restar uma saída: Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, vulgo, Galeão!
Um grande abraço...
Olá, Roberto!
ResponderExcluirPor mais que eu respeite a opinião alheia e tente ardorosamente entender as motivações que levaram o autor(a) a escrever tal artigo, DISCORDO visceralmente do texto.
Perdoe-me, Roberto, sei que posso parecer profundamente pedante, mas as ideologias impulsionadas pelas cantigas de roda, ou músicas do cancioneiro popular são, para se "pegar leve", destruidoras de conceito moral.
Sou professora e sei o que falo!
Crianças que escutam que "Atirei o pau no gato", vão achar que bater nos felinos é coisa normal!
Cansei de ver alunos meus rindo às tantas porque conseguiram "Atirar o pau no gato"! (Veja bem: no gato, não no cachorro!).
"Seu cabelo não nega, mas como a cor não pega, eu quero o seu amor", ouvida desde pequeno, imagine no que surtirá nos adultos? Que a negra só serve para "aquilo"!
Os mais antigos dizem que cansavam de ouvir coisas desse tipo: "Está namorando aquela crioula? Ah, mas a cor não pega, né?", entre risos de deboche.
E com isso, muitas crianças cresceram bastardas, os mulatos, frutos de união entre negras com brancos, que levaram a sério essa ideologia cretina...
Se começarmos a achar normal tudo o que o folclore consagrou, então vamos começar a acreditar que mulher que namora padre vir mula-sem-cabeça e que qualquer que coisa que suma dentro de casa, foi o Saci-Pererê quem levou...
Temos que tentar acabar com certos conceitos antigos para quebrar o ciclo e assim formar cidadãos mais dignos e menos preconceituosos para o futuro!
Um abraço,
Mary:)
Minha querida Mary:
ResponderExcluirUma das coisas que mais defendo é a liberdade de pensamento. Por isso acho que você tem todo o direito de expressar sua opinião, da qual eu discordo, se você me permite.
Na minha visão, só vai "atirar o pau no gato" de forma literal; achar que "a negra só serve para "aquilo” ou usar de forma pejorativa a palavra "crioula", quem não foi educado pelos pais, pela família, não pela escola, e é isso que está faltando no Brasil: colocar as coisas nos seus devidos lugares!
Ensinar a criança a espeitar o ser humano, independentemente da cor, religião ou opção sexual, perdo-me, não é tarefa da escola, de professores, mas obrigação dos pais!
Tenho centenas de amigos negros, a quem nunca desrespeitei por chamar de "crioulo", até porque o respeito não está na expressão usada, mas no caráter e na intenção de quem a utiliza.
"Fui na Espanha, ganhei uma medalha, fui no Japão, ganhei um bofetão" não significa que o povo japonês seja agressivo!
Preconceito, no meu entender, não é matéria escolar, mas parte da cartilha das famílias realmente interessadas na educação de seus filhos. Acho que a escola está se metendo onde não deve. Os conceitos de educação, respeito e moral dos meus filhos, por exemplo, não lhes foram passados por nenhuma escola ou professor. Foram aplicados dentro da minha casa, e estão firmes em seus corações até hoje. São cidadãos de bem, com formação profissional superior (à exceção do caçula, que ainda estuda) e nunca, veja bem, nunca precisaram que alguém lhes dissesse o que é respeitar um seu semelhante, seja ele preto, branco, amarelo, vermelho, evangélico, espírita, ateu ou agnóstico. Nunca maltrataram um animal, e jamais acreditaram que quem namora o padre vira mula sem cabeça ou que as coisas porventura desaparecidas dentro da nossa casa foram roubadas pelo Saci-Pererê. Isso é educação familiar e nada tem a ver com a escola ou seus professores, que eu acho, não deveriam interferir nos critérios de educação das famílias.
Essa é a minha opinião, Mary, apesar de respeitar a sua!
Um grande abraço...
Roberto, eu não tinha tido tempo de ler todo o texto daqui, então voltei para comentar mais tarde e caí lá..fiz o comentário em cima do seu (sem duplo sentido também) e dos da Mary e Rob, porque conhecia o assunto ( até a metade este daqui).
ResponderExcluirÉ bem humorado! Gostei ! Principalmente desta coisa da idade em que estou entrando agora, na qual a gente sente dores,porque trabalhou demais a vida toda e abusou, e perde coisas( cabelo inclusive) e pessoas, e recebe uma mixa aposentadoria(e mãe e dona de casa, não recebe nada!)...bem, já comentei isto em meu blog outro dia, também acho o fim, chamarem de "melhor idade". Ó, terceira idade tá de bom tamanho.. velhice ..hummm...quase!mas, "melhor idade??" só porque a gente tem mais tempo pra ficar sozinho, ou enxerga menos e por isto não pode ver muita coisa? ou ainda porque pode ficar com alzeimer e esquecer tudo ? kkk.... ai, meu Deus, tô entrando nesta no próximo ano!Acho que então vou dar uma baita festa!
Abraço, Vera.
O texto é ótimo, Vera!
ResponderExcluirAlém da discussão sobre os "politicamente corretos", digamos, em excesso, ele é carregado de bom humor, não é verdade?
Um abração...
Sem querer discutir a legitimidade da questão educativa do texto - a moda de alterar palavras das canções folclóricas - me atenho apenas ao argumento do autor do texto de que a canção folclórica é de Villa Lobos. Como assim? A canção é folclórica!!!!!! E o que tem as 16 Cirandas a ver com isso, se são arranjos pianisticos ou seja, nem letra tem? Embora o argumento da autoria seja irrelevante, na minha opinião, teria sido menos pior se tivesse citado o primeiro Guia Pratico, com cento e poucas canções RECOLHIDAS pelo compositor brasileiro em questão, entre elas " o cravo brigou com a rosa".
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