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| Jênice com Maria Clara (Foto: AE/Evelson de Freitas) |
O avanço da medicina já permite que bebês sejam elaborados em laboratórios, onde são concebidos via fertilização assistida com a seleção prévia de embriões, e tenham seus tecidos (sangue do cordão umbilical ou parte da medula óssea) usados, algum tempo depois de nascerem, em transplantes cujo objetivo é curar irmãos mais velhos portadores de doenças genéticas, o que se torna possível porque eles são geneticamente selecionados para nascerem sadios.
Para que o bebê seja saudável e não tenha genes associados a nenhuma doença familiar, normalmente herdadas do pai ou da mãe, o processo seleciona gametas, garantindo que ele venha a ser um doador de tecidos 100% compatível com o irmão. Sem a técnica, chamada de diagnóstico pré-implantacional, as chances naturais dele nascer com capacidade para a doação seriam de apenas 25%.
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| Maria Clara, Maria Vitória e os pais (Foto: AE/Evelson de Freitas) |
- Quando, além da vontade divina, a medicina possibilita que este bebê possa, por meio de procedimento tranquilo e nada traumatizante, fazer com que a irmã se livre de uma doença que ela iria enfrentar pelo resto da vida, isso é algo mágico - disse Jênice, a mãe das meninas.
Para que a intervenção cirúrgica fosse feita, Maria Clara ficou internada apenas algumas horas. O pedacinho de sua medula, retirado após anestesia e sucção por seringa, passou quase despercebido, e no dia seguinte ela recebeu alta e voltou para casa. Maria Vitória, a irmãzinha receptora, é que precisou ficar hospitalizada por mais tempo, fazendo quimioterapia para eliminar a medula antiga e se adaptar à nova.
Médicos e geneticistas afirmam que para a utilização do processo só é preciso que as famílias não planejem bebês com o único intuito de transformá-los em “medicamentos” para os familiares.
- Não há uma normativa definida e nem uma discussão intensa sobre o assunto porque ainda são raros os casos de um filho gerado para salvar o outro - explica Mariangela Badalotti, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana - SBRH.
Na Inglaterra, país que utilizou este tipo de fertilização pela primeira vez em 2001, poucos transplantes desta natureza foram feitos depois, e alguns deles, por questões éticas, foram parar na Justiça, o que fez com que o procedimento tivesse que ser aprovado por um órgão regulamentador, o que já existe mais.
No Brasil, ao menos por enquanto, não há qualquer legislação sobre a seleção prévia dos embriões e nem acerca do que fazer com os materiais genéticos que não são usados por não serem compatíveis ao transplante ou portadores do gene associado à doença, que podem ser descartados, congelados ou doados para pesquisa.
Cláudia Gomes, especialista em reprodução humana do grupo Huntington, entende que todo procedimento que envolva vidas humanas deve ser regulamentado, depois, é claro, de um debate com a "sociedade e entidades envolvidas". Para ela, evitar doenças genéticas previamente conhecidas pela família é “maravilhoso”.
- E isso já é possível. Acho válido selecionar um embrião para salvar um irmão. Mas acho melhor ainda evitar que um primeiro filho nasça com uma doença, que aumenta o risco de vida e traz riscos biológicos".
E você, o que acha dos bebês programados para salvar?
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Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
