16 março 2014

Policial morto chegou a viver nas ruas e vendeu balas para sobreviver

O aspirante Leidson Acácio Alves em três momentos de sua vida (foto: reprodução)

O aspirante a oficial da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro - PMERJ, Leidson Acácio Alves, de apenas 27 anos, morto na última quinta-feira (13/03), depois de levr um tiro na cabeça no Parque Proletário, Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, teve uma adolescência conturbada. Dos 13 aos 16 anos, por exemplo, em razão de problemas na família, chegou a viver nas ruas de Nova Iguaçu - RJ, onde sentiu frio, fome, medo e chegou a vender balas para sobreviver. Aos 16 anos, depois de receber ajuda de uma igreja, voltou a estudar e conseguiu concluir o ensino médio.

Aos 17 anos, conheceu Jaqueline de Oliveira Machado, com quem se casou no ano passado. Para sustentar a casa, ele também foi borracheiro, costureiro e pedreiro, contou João Pedro Machado, soldado da Marinha, cunhado de Acácio.

O sonho de se tornar um policial militar surgiu na época em que ele trabalhou em blitzes da Operação Lei Seca, colando adesivos em carros apreendidos. Sua formatura como aspirante a oficial aconteceu em dezembro último. Em breve ele seria promovido a tenente. O incentivo veio do capitão Vinicius de Oliveira, comandante da UPP da Vila Cruzeiro, com quem fez questão de trabalhar.

Ainda de acordo com João Pedro, o sonho de Acácio era integrar o Batalhão de Operações Especiais - BOPE:

- Ele vivia 24 horas para Polícia Militar. Sentia orgulho quando vestia a farda e se esforçava bastante, desde quando entrou para a Academia Dom João VI, em Sulacap, que forma oficiais da PM - contou.

No velório, em prantos, a mãe dele se despediu:

- Que ele descanse em paz. Ele morreu como um herói.

Hoje (15/03), outro policial militar foi baleado de raspão no braço e no rosto durante uma operação do 14º Batalhão nas favelas Vila Aliança e Coreia, em Senador Camará, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O sargento, que não teve o nome divulgado, foi socorrido por colegas e levado para o Hospital Estadual Albert Schweitzer, em Realengo, e não corre o risco de morrer.

Todo nós sabemos, e o policial também, que sua atividade é de risco. Que o "até logo" dado à família quando sai de casa para o trabalho, pode trasformar-se em um inesperado "adeus". É parte de sua rotina. O que não entendo é a omissão da sociedade e dos órgãos de defesa dos direitos humanos em relação ao assassinato de policiais. O que está acontecendo no Rio de Janeiro, por culpa das autoridades (in)competentes, é uma verdadeira caçada a policiais militares, homens ou mulheres, jogados na arapuca em que se transformaram as Unidades de Polícia Pacificadora - UPP's, um projeto interessante, mas que pela pressa da propaganda política, vem sendo implantado sem a estrutura necessária, o que deixa o policial entregue à própria sorte, jogado em comunidades dominadas por centenas de bandidos, sempre portando armas de grande alcance e poder de destruição.

A comprovação desse verdadeiro absurdo está na iniciativa tomada pelo próprio secretário de segurança, José Mariano Beltrame, que ontem (14/03) anunciou a transferência de uma companhia de instrução do BOPE para o Complexo do Alemão, com o objetivo não só de reforçar o patrulhamento, mas também de "treinar" os policiais que atuam na região. Porta arrombada, tranca de ferro. É sempre assim: quando o interesse político é visto como prioridade, a vida é humana usada como moeda de troca.

A inércia da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e de outros órgãos do gênero não chega a incomodar, até porque eles nunca se manifestaram em apoio às famílias de nenhum dos policiais assassinados. Mas, e nós? Por que não nos insurgimos contra essa situação absurda? Ou será que o policial que morre no exercício da função vale menos que o bandido que ele combate?




Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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