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23 janeiro 2010

Narciso e o general

Soldado brasileiro socorre menino haitiano


Há dias autoridades brasileiras vêm demonstrando um certo desconforto com o que chamam de "liderança" nas ações de socorro ao povo do HAITI, país destroçado por um terremoto, que segundo as informações mais atualizadas, teria matado cerca de 120 mil pessoas. Essa situação ficou bem caracterizada na reportagem de O GLOBO (17/01 - pág. 31), onde se lê que "o ministro do Gabinete de Segurança Institucional Jorge Félix, e o Itamaraty enfatizaram que a prioridade no momento é salvar vidas. Mas deram sinais de que existe no governo uma preocupação velada com a perda de liderança para os Estados Unidos e o risco de um duplo comando".

Hoje, 23 de janeiro, o mesmo O GLOBO destacou (pág. 27):

"No dia em que as tropas brasileiras fizeram sua maior ação humanitária desde o terremoto no Haiti, o general Floriano Peixoto, chefe militar da Minustah, disse que a atividade tinha como objetivo mostrar ao restante do mundo a presença do Brasil na área e, ainda, que quem está no comando de toda a missão militar e humanitária no Haiti é "um general brasileiro".

- É importante que haja uma percepção mundial da importância do Brasil - disse Floriano Peixoto".

Em um outro trecho da reportagem O GLOBO registra: "Ao contrário do coronel João Batista Bernardes, chefe das forças militares no Haiti, que procurou minimizar a política na ação de ontem, o general Floriano Peixoto foi direto ao ponto:

- É uma forma de marcar presença. Não podemos perder a oportunidade de mostrar o comando do Brasil nesta lamentável tragédia.

E reforçou a importância:

- Quem está no comando é o general Floriano Peixoto - afirmou, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa, seguindo num misto de desculpas a autopropaganda: - Não tendo tido muita visibilidade porque estou envolvido no trabalho de articulação".

Eu achei, desde o início, que o objetivo das equipes de socorro que partiram para o Haiti, e das forças da ONU que lá estão, dignamente representadas pelo Brasil, diga-se de passagem, fosse, num primeiro e dramático momento, socorrer as vítimas da catástrofe, e depois, obviamente em parceria com o governo local, tentar reerguer o país. Mas parece que a coisa não é bem essa, já que no meio do socorro há uma visível preocupação, pelo menos por parte do general Floriano Peixoto, de como o Brasil "vai sair na foto" do bonde da história.

É uma pena! O Brasil, por causa do narcisismo de um general, está perdendo uma grande oportunidade, isto sim, de provar ao mundo que a solidariedade não tem preço nem bandeira, e que quem a pratica não precisa de reconhecimento, pois lhe basta a consciência do dever cumprido, e claro, tão importante quanto isso, o choro agradecido das vítimas arrancadas com vida dos escombros de tão triste acontecimento.

Na verdade, general, os heróis dessa missão são os soldados brasileiros e dos outros países também envolvidos na missão de socorro ao povo haitiano, que não comandam nem se preocupam com a repercussão de seus atos de bravura pelo mundo: apenas salvam vidas, e como se vê da foto que ilustra esta postagem, anonimamente! Com certeza, general, você perdeu uma enorme oportunidade de ficar calado!...