02 julho 2012

Divulgação de vídeo de Cachoeira causa desespero na rataiada

Falar de política no Brasil é complicado. É assunto que não interessa ao povão, preocupado com o futebol, a novela das oito e com a Fazenda (isto na falta do BBB, é claro). Mas acredito que vocês ainda se lembram do primeiro escândalo do governo Lula, que surgiu a partir de um vídeo em que o ex-assessor parlamentar do Palácio do Planalto, Waldomiro Diniz, aparecia negociando propina com o contraventor Carlinhos Cachoeira. Depois de Diniz, a bola da vez foi o subprocurador da República, José Roberto Santoro, que deixou o cargo depois da divulgação do áudio de um depoimento prestado pelo contraventor em seu gabinete.

Desde que Cachoeira foi preso, não sem razão, políticos dos vários partidos vivem na corda bamba. Afinal, ninguém sabe quantas gravações ele fez e que conversas secretas podem ser tornadas públicas, o que deixa a turma do Parlamento com os nervos à flor da pele, principalmente em véspera de eleições.

A divulgação ontem à noite de um único vídeo gravado por Carlinhos Cachoeira, acreditem, gerou um clima de pânico entre parlamentares dos vários partidos no Congresso Nacional (os acostumados à corrupção, é claro!), que começam a acreditar que o bicheiro gravou e armazenou muitos outros vídeos de suas negociações com políticos. Se isto for verdade, o surgimento de novas imagens pode complicar a situação de muitos caciques das principais legendas.

Em contato com a imprensa, parlamentares afirmam que a metodologia de Cachoeira sempre foi a de gravar as conversas com políticos e autoridades, expediente que permitiria que eles fossem pressionados e chantageados em caso de necessidade, mesma estratégia, aliás, usada por Durval Barbosa, no escândalo que derrubou o ex-governador José Roberto Arruda (DF), o conhecido Mensalão do DEM.

A grande dúvida, e daí o desespêro entre os políticos, é saber o que é que a Polícia Federal já arrecadou em termos de gravações e vídeos e o que ainda está em poder do grupo de Cachoeira. A turma do PT, por exemplo, está especialmente preocupada porque teme que o vazamento desse lote de vídeos possa atingir políticos filiados ao partido, como aconteceu ontem à noite, quando a reportagem do Fantástico mostrou um vídeo encontrado pela Polícia Federal no dia da Operação Monte Carlo, na casa do ex-cunhado de Carlinhos Cachoeira. Nele, o prefeito de Palmas, Raul Filho (PT) negocia financiamento de campanha com o grupo de Cachoeira, em troca, é claro, de favores. O vídeo é de 2004 e foi gravado durante a campanha que elegeu, pela primeira vez, o prefeito da capital do Tocantins.

Acompanhe trechos da gravação:

- Viu, Carlinhos, o que a gente busca é o seguinte: nós temos um projeto político, um projeto de poder no Tocantins. Palmas é um estágio - explica Raul.

Mostrando interesse pelo "projeto", Cachoeira pergunta:


- Mas Raul, o que você está precisando lá, hein?

Depois oferece ajuda para a campanha: 

- Você acha que um grande show seria bom para você lá na reta final?.

Raul responde com naturalidade:

- Ah, com certeza!

Ainda de acordo com o vídeo, Raul e Cachoeira conversam por quase uma hora. E o futuro prefeito fala sobre as oportunidades que poderiam ser exploradas pelo grupo de Cachoeira.

- Lá é tudo mesmo na base do arranjo, sabe. Palmas tem uma série de oportunidades a ser explorada, no campo imobiliário, transporte. Lá tem uma questão que nós vamos rever, a concessão de água.

Sobre a possível parceria, Raul acrescenta: 

- Essa composição, isso depende muito de vocês, em que área vocês querem atuar.

No fim da reunião, o contraventor deixa claro que vai ajudar e o que espera receber em troca:

- Eu posso falar que até sexta vou dar uma posição para você do show e o que nós podemos entrar aí em verba. Você vê com o Alexandre aí qual o nicho que a gente pode participar posteriormente.

O vídeo postado não está mais disponível devido à "reivindicação de direitos autorais da Rede Globo de Televisão", o que você pode conferir clicando aqui!


Não é a primeira vez que políticos e autoridades são flagrados em negociações com Carlinhos Cachoeira. Antes de Raul Filho, o deputado Rubens Otoni (PT-GO) também foi apanhado com as calças na mão, negociando contribuição de campanha com o contraventor. Outros vídeos devem surgir. Tomara que surjam! Muitos deles! Não importa o candidato ou o partido político. O que nós queremos, como cidadãos, é ver essa corja na cadeia, o que sei, é difícil, mas não impossível. Afinal, não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe!

Agora me responda, bem aqui no pé do ouvido: A rataiada tem ou não motivos para se preocupar?





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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