28 fevereiro 2013

Isadora Faber, do "Diário de Classe" deve ser observada, diz o Financial Times


Isadora Faber, a menina de Santa Catarina que criou o "Diário de Classe", uma comunidade virtual no Facebook "curtida" por quase 600 mil pessoas, está na lista dos 25 brasileiros que segundo o jornal inglês Financial Times, devem ser observados nos próximos meses. A reportagem foi publicada na semana passada.

A lista inclui seis categorias: política, arte, entretenimento, social, negócios e esportes. Isadora foi relacionada na categoria "social" e ao mencioná-la o Financial Times faz a seguinte descrição:

"Esta garota de 13 anos abriu uma página no Facebook para relatar os problemas de sua escola pública em Florianópolis, no Sul do Brasil. No 'Diário de Classe', Isadora destaca as dificuldades do sistema educacional, reportando as carteiras quebradas, os banheiros sem porta e a falta de transparência nas contas da escola. Neste processo, atraiu 500 mil seguidores e garantiu um encontro com o ministro da educação".

Além de Isadora, também compõem a lista o jogador Neymar, do Santos, o artista Romero Britto, a jornalista Talita Rebouças, a judoca Sarah Menezes, 1ª brasileira a conquistar uma medalha de ouro no judô em Olimpíadas, e a modelo Gisele Bündchen.

Isadora diz que ao criar o Diário de Classe não imaginava que sua iniciativa teria tanta repercussão. Ela só queria que as portas e fechaduras de sua escola fossem consertadas e que houvesse uma melhoria nas aulas, ideia inspirada em iniciativa semelhante, que lhe foi mostrada pela irmã.

A página foi criada no dia 11 de julho, e a primeira postagem foi sobre os problemas estruturais da escola municipal onde estuda, a Maria Tomázia Coelho, no bairro Santinho: a porta do banheiro feminino cheia de rabiscos. Depois ela mostrou o vaso sanitário sem tampa, a porta sem fechadura, os fios do ventilador à mostra, os bancos do refeitório quebrados, o balde utilizado como lixeira, e por aí a fora.

A partir de então, as pressões foram muitas. Além da hostilidade de alguns colegas e até mesmo professores, os pais da menina foram chamados duas vezes à escola.

- Eles ameaçaram me processar, queriam que tirasse a página do ar. Enfim, não gostaram nada da história - contou Isadora, explicando que pior que isso foi a ameaça de morte feita por uma mulher no próprio Facebook.


Mensagem postada no Facebook (foto: reprodução)

- Se isso é brincadeira, é de muito mau gosto. Com essa onda de terror que Florianópolis vive atualmente, é bem assustador. Por que é tão difícil exercer a cidadania? Por que tentam calar quem busca seus direitos? Ano passado minha casa foi apedrejada e minha vó acabou ferida. Agora isso? - desabafou Isadora em seu Diário de Classe.

Isadora tem razão! O exercício da cidadania é sempre doloroso e extremamente complicado. Um dos problemas está no pouco caso das pessoas em relação às discussões sobre temas que realmente interessam à coletividade. Dou um exemplo: para conseguir pouco mais de um milhão de assinaturas num manifesto contra a vergonhosa eleição de Renan Calheiros para a presidência do Senado, foram necessárias várias semanas de mobilização pela internet. Mas cada "paredão" do BBB da Globo recebe, em média, 25 milhões de ligações telefônicas. Outro obstáculo é a manipulação política que distorce certas iniciativas. As agressões sofridas pela cubana Yoani Sánchez quando de sua visita ao Brasil estão aí para comprovar isso. Manifestações orquestradas por partidos políticos tudo fizeram para calar a blogueira, que se bate exatamente pela liberdade de expressão, coisa que o mundo inteiro sabe, não existe em Cuba, sua terra natal, há cinquenta anos. Na minha opinião, não importa se ela recebe a ajuda de outros países em sua luta. O importante é que ela é justa, pois não se pode conceber a vida sem liberdade.

Por isso, achei interessante a iniciativa do Financial Times. Gente como Isadora precisa, sim, ser observada, muito mais que Neymar ou Gisele Bündchen. Ela é uma semente, que bem cuidada, pode gerar frutos capazes de alimentar a cidadania de gerações futuras. Aliás, você já imaginou se um terço das pessoas que frequentam o Facebook a imitasse e tentasse mobilizar sua comunidade para os problemas que ela enfrenta, principalmente pela omissão dos políticos? Muita coisa aconteceu na escola dela depois da criação do Diário de Classe. Até o ministro da Educação entrou em cena!  Será que algumas coisas boas também não poderiam começar a acontecer na vida destas pessoas e de suas comunidades? Alguns dizem que tudo começa com um sonho. Por que não sonhar com dias melhores e tentar transformar o sonho em realidade? Reflita sobre isso e deixe o seu comentário.








Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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