O texto abaixo foi postado no blog "ÁRVORES PARA SEMPRE", e está sendo trazido para cá, na sua forma original, com a autorização do amigo GABRIEL BERTRAN, um bravo defensor da causa ambiental.
Já faz muitos anos que ouvimos falar dos problemas dos mananciais de água nas grandes metrópoles brasileiras, e temos como caso mais grave e emblemático o de São Paulo. Emblemático principalmente por seu gigantismo. Uma área com 18 milhões de habitantes, que há décadas cresce sem parar e sem planejamento, possui também um grave problema em relação à disponibilidade hídrica. São Paulo já capta água há mais de 100 Km de distância, bombeando água proveniente de lugares como o sul de Minas Gerais ou a bacia do Rio Piracicaba, com custos altíssimos de eletricidade e de tratamento. Isso porque a população poluiu praticamente todas as fontes próximas da capital, tais como as represas Billing e Guarapiranga, e continua poluindo e destruindo essas fontes.
Para piorar, conforme matéria no jornal O Estado de São Paulo da última quarta-feira (24 de junho), a Assembléia Legislativa do Estado aprovou uma lei que regulariza cerca de 200 mil "imóveis" na beira da Represa Billings! Absurdo dos absurdos, esta regularização nada mais faz além de concretizar e legalizar o que está absolutamente errado! São mais de 1 milhão de pessoas que simplesmente não deveriam estar ali, pois estão poluindo a água que outros milhões consomem! Estas leis populistas, de regularizações, vêm geralmente acompanhadas de "compensações ambientais" que nunca são cumpridas. Isso vale tanto para ricos quanto para pobres no Brasil. Todos se aproveitam da impunidade que reina no País, e quem perde somos todos nós e, é claro, a natureza. Claro, é um trabalho hercúleo desalojar tamanha quantidade de pessoas, e realocá-los em conjuntos habitacionais. Mas primeiramente elas não deveriam ter se instalado lá. Sabemos dos graves problemas de distribuição de renda, baixos salários, sub-empregos, tão conhecidos no Brasil; os quais levam milhões à exclusão do "mundo formal". Não podemos negar que a grande maioria destes habitantes dos mananciais vivem em condições precárias de higiene e saúde, utilizam-se de "gatos" para não pagar energia elétrica, as crianças sofrem de sub-nutrição e muitos outros problemas. Faz-se um parênteses na questão de saúde, a qual passa pela falta de educação e consciência dessas pessoas, que levam-as a jogar todo tipo de lixo e detritos dentro destes mananciais, agravando ainda mais o problema ambiental. Ou seja, além da retirada da vegetação, que mantém as águas saudáveis, uma quantidade incomensurável de lixo e esgoto é atirada nestas mesmas águas!
Voltando à questão de como e porquê estas populações foram instalar-se em locais que deveriam ser "travados" (e até o são no papel, na Lei dos Manaciais), muitos fatores os levaram para lá. Não vamos nos prologar muito analisando-os, mas fora a falta de dinheiro ou crédito para comprar terrenos "legais" por parte destas populações, muito da conhecida safadeza de nossos políticos, aliada a de lideres religiosos locais, como as "pastorais" da igreja católica, consorciam-se para incentivar as invasões, dando "terrenos" a pessoas geralmente ignorantes, em troca de votos e outros favores. Este processo arrasta-se a décadas e já é bem conhecido, principalmente nos entornos da represa Billings. Aí, para completar, vem uma lei como a desta semana e legaliza tudo o que foi feito de errado! Isto só leva as pessoas a sentirem-se mais encorajadas a invadir mais e mais. Alia-se a todo este processo o desprezo do brasileiro a tudo o que é "mato", que deve ser derrubado, e a tragédia está instalada... Quando irão aprender que o "mato" mantém a água e o ar puros, dentre muitos outros benefícios? O que fica na paisagem em torno das outrora tão belas represas é um rastro de destruição, barracos horríveis e sem o mínimo conforto a seus habitantes, lixo e esgoto por toda parte, peixes e outros animais mortos e... quase nenhum verde!
É preciso seguir exemplos como o de Nova York. Claro, alguns dirão que os Estados Unidos e outros países desenvolvidos poluíram o planeta inteiro. De fato, mas nestas sociedades sérias e consolidadas, quando uma lei é aprovada, ela é seguida. E a cidade de Nova York há tempos faz a lição de casa em termos de conservação das águas. A prefeitura da maior cidade americana comprou áreas distantes da área urbana da cidade. São áreas - muitas vezes pertencentes a outros municípios - que circundam as represas e rios que abastecem a metrópole. Estas áreas são preservadas com suas florestas em pé, e a ocupação é totalmente proibida. Com isso Nova York consegue uma água de qualidade e com um custo de tratamento químico bem mais baixo. Ao contrário disto, a SABESP, em São Paulo, gasta cada vez mais com produtos químicos, dada a qualidade cada vez pior das áreas que circundam São Paulo, justamente por permitirem ocupações desordenadas nos mananciaias! Exemplos existem em outras partes do mundo, como o programa de reflorestamento de beiras de rios que a Alemanha empreende. Sim, repito que são países que já muito destruíram e poluíram. Mas mostram terem aprendido com erros seculares. O que o Brasil, infelizmente, não aprende.
A mesma ocupação desordenada que mencionamos na Billings ocorre, também, na Serra da Cantareira, na Zona Norte da Grande São Paulo. Esta é outra região de manancial e, justamente lá, ocorre um verdadeiro "estupro" a um dos últimos remanescentes de mata atlântica perto da capital. E este "estupro" é empreendido tanto por pobres quanto por ricos. Tanto favelas quanto condomínios de luxo sobem o morro. Imobiliárias compactuam com o desmatamento, vendendo terrenos ilegais para os mais diversos usos. No caso dos "ricos", vende-se a idéia de "morar junto à natureza". A hipocrisia é tão grande, que daqui a pouco esta natureza onde quer se estar perto, não existirá por culpa dos moradores que tanto a "desejam". Desejam mas destróem-a violentamente. Geralmente essas "casas de rico", em sua maioria, utilizam-se de um paisagismo vil, inútil, composto basicamente por arbustos importados. As plantas nativas do Brasil, abundantes no local, são extirpadas, em troca de uma ridícula "limpeza" destes arbustos, que afastam pássaros, não sombreiam nem fertilizam a terra. Isto provém, também, de uma falta de conhecimento ambiental quase total. Prova que tanto ricos quanto pobres no Brasil não possuem a consciência ambiental em sua cultura. Outros absurdos encontrados na mesma Serra da Cantareira são os detritos jogados em beiras de estradas, cursos de rios. Detritos de todos os tipos, provenientes de festas que ocorrem nos "buffets" da região, ou mesmo de motoristas mal educados que tudo atiram pelas janelas dos carros. Mais uma prova do desprezo pelo "mato". O mato absorve tudo, agüenta tudo... São absurdos em cima de absurdos.
A pressão populacional é imensa, sabemos. Todos dizem que "São Paulo não pode parar", mas a continuar neste ritmo, terá que parar por falta de água. A locomotiva do Brasil é ambientalmente decadente há muito tempo e parece que ninguém vê! E este exemplo não isenta outras capitais brasileiras, como Rio de Janeiro ou Curitiba. Os mesmos problemas ocorrem, em menor escala, também nos subúrbios destas cidades.Voltaremos a falar destes assuntos em breve. Mas que fique o alerta: já passou do tempo de cuidarmos de nossas fontes de água!
Quer conferir o original? (clique aqui).
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Amigo Gabriel:
ResponderExcluirEm primeiro lugar, fico feliz em te ver na trincheira, na luta!
Vou repetir aqui o comentário que fiz no seu "ÁRVORES PARA SEMPRE":
"O sistema canalha do troca-troca faz parte da história brasileira, infelizmente.
Há anos a camarilha política faz qualquer negócio por um voto. Primeiro foi o "frete" para o local de votação (só de ida, é claro, porque depois de votar o sujeito era largado a pé!). Depois vieram as promessas de emprego, as ofertas de dentaduras, as ligaduras de trompa.
O (des)governo atual, cercado de marqueteiros mais habilidosos, até porque pagos com fábulas de dinheiro, criou o imbatível "bolsa família", que ajuda na manutenção do miserável, mas nada faz prá tirá-lo da miséria, pois se assim o fizesse perderia seu poder de manipulação.
A moda agora, desgraçadamente para o meio ambiente, é a "doação/legalização" de terras em troca do poder, em troca do voto! Um exemplo disso são as milícias no Rio de Janeiro - RJ, que vendem lotes a preço de banana, mesmo em áreas de proteção ambiental, visando, além de um dinheirinho imediato, a recompensa do voto futuro e a institucionalização do crime no poder!
As autoridades brasileiras? Vão muito bem, obrigado!!!"
A LUTA CONTINUA, GABRIEL!!!
Como é possível tanta barbaridade! Como é que políticos agem dessa forma e não são punidos?
ResponderExcluirEssa é a mais pura realidade: "A moda agora, desgraçadamente para o meio ambiente, é a "doação/legalização" de terras em troca do poder, em troca do voto! Um exemplo disso são as milícias no Rio de Janeiro - RJ, que vendem lotes a preço de banana, mesmo em áreas de proteção ambiental, visando, além de um dinheirinho imediato, a recompensa do voto futuro e a institucionalização do crime no poder!
Que autoridades???
É uma vergonha, realmente. Essa turma deveria estar atrás das grades.
ResponderExcluirGostei da pergunta da Augusta Weber: "Que autoridades?".
É uma grande verdade: "O sistema canalha do troca-troca faz parte da história brasileira, infelizmente.
ResponderExcluirHá anos a camarilha política faz qualquer negócio por um voto. Primeiro foi o "frete" para o local de votação (só de ida, é claro, porque depois de votar o sujeito era largado a pé!). Depois vieram as promessas de emprego, as ofertas de dentaduras, as ligaduras de trompa".
Sei que a postagem é do blog, mas quem foi o autor? Gostaria de saber.
É lamentável, Roberto, mas você tem toda a razão desse mundo. Concordo com tudo o que você escreveu no seu comentário logo aí acima.
ResponderExcluirComo diz o nosso amigo Boris Casoy, "ISSO É UMA VERGONHA"!!!
Querida Lia Tomazinni, o texto nos foi enviado pelo amigo e coladorador Gabriel Bertran. O blog dele, o "ÁRVORES PARA SEMPRE" está linkado logo na introdução da postagem.
ResponderExcluirUm abraço...