20 junho 2009

RATOS VIVOS E GATOS MORTOS


Eu não queria simplesmente "copiar" o texto, mas não resisti. A matéria saiu no Segundo Carderno do jornal
O GLOBO (18/06). Quem assina é CORA RÓNAI.

Leia com atenção!






Nunca antes na história desse país se viu tanta roubalheira e tanto descaramento num endereço só. O Senado está abusando da paciência dos brasileiros, e o pior é que, pelo que se vê, pode abusar à vontade. O máximo que acontece a um senador pego em flagrante é ter de devolver o produto do roubo -- como se, com isso, ficasse tudo bem. E fica, não fica? Os princípios básicos da moral e da justiça não valem no Congresso Nacional, onde a imunidade parlamentar, instituída com o nobre intuito de defender a democracia, virou uma excrescência insólita que apenas garante a impunidade dos criminosos.

É assustador (e nojento) perceber que, no Congresso Nacional, exibe-se hoje o que o Brasil tem de pior, a começar pelo coronel José Sarney, nos tomando a todos por otários. Ele tem razão, porque aqui estamos, otários que somos, pagando os impostos mais pesados do mundo para que nada jamais falte às excelências, suas famílias e agregados. Ele tem razão também quando diz que a atual crise não é sua, mas do Senado. Num senado decente, ninguém lhe daria bom dia, e os demais senadores teriam vergonha de serem vistos em sua companhia. Pois lá não só o elegem presidente da casa, como fazem questão de abraçá-lo depois de um discurso sem-vergonha como aquele de terça-feira.

Está ficando muito cansativo falar sobre a roubalheira, ler sobre a roubalheira, escrever sobre a roubalheira. Um escândalo é sepultado por outro que é enterrado por um terceiro e assim sucessivamente. As manchetes de hoje são iguais às do mês passado e serão iguais às do mês que vem; nem os personagens mudam. A crônica que foi escrita no começo do século e do milênio poderia ser republicada ano após ano, ano após ano, ano após ano...

Os safados estão conseguindo nos vencer pelo tédio.


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Como todos os brasileiros que estão acompanhando as eleições iranianas, eu também tive vontade de me enfiar debaixo do sofá, de pura vergonha, ao ouvir Lula dar apoio incondicional ao presidente golpista Ahmadinejad. Se, como o coronel Sarney, Lula também acha que tudo que o contraria é intriga da imprensa, que pelo menos circule pelo Twitter antes de dizer a primeira coisa que lhe vem à cabeça.


A luta dos iranianos na internet tem sido comovente. Com quase todas as comunicações bloqueadas no país, eles têm usado as redes sociais, que estão fora do alcance das garras dos aiatolás, para contar ao mundo o que está acontecendo lá. Notícias não param de chegar ao Twitter, que até cancelou uma parada de manutenção na madrugada de terça; e Facebook e Flickr têm recebido incontáveis fotos das manifestações, que blogueiros fora do Irã se encarregam de espalhar.

Há uma grande comoção online, e a ajuda chega de todas as maneiras. Um dos gestos mais significativos partiu do The Pirate Bay, popularíssimo site de downloads, que vestiu-se de verde e mudou o nome para The Persian Bay, apontando links para um fórum de discussões (iran.whyweprotest.net) e para ferramentas de segurança individual na rede.


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Os funcionários da Prefeitura que trabalham no Piranhão, na Cidade Nova, foram recebidos na segunda de manhã com uma cena de horror: os cadáveres de 18 gatos que viviam no terreno vizinho estavam caprichosamente alinhados na grama, na calçada que dá acesso à estação do metrô.


Ninguém sabe com certeza o que aconteceu, mas segundo uma das versões espalhadas por email, o massacre teria sido perpetrado por traficantes do São Carlos, que teriam soltado pitbulls entre os gatos. É a história mais inverossímil e mais mal contada que já ouvi.

Alguém consegue imaginar um bando de traficantes saindo do morro com seus cães, levando-os à prefeitura, soltando-os entre os gatos, esperando que trucidem todos, recolhendo-os e levando-os de volta para casa?!

Acionada pelos protetores, a Sepda (Secretaria de proteção e defesa dos animais) emitiu uma nota:

"Enviamos um médico veterinário ao local para averiguar o ocorrido e, segundo o técnico, os animais apresentavam lesões compatíveis com mordedura de animais maiores. Todos os felinos foram encaminhados para o Instituto Jorge Vaitsman para cremação. A Sepda irá investigar o que causou os óbitos."

Está tudo errado: desde quando se cremam as provas do crime? A prefeitura precisa explicar isso melhor. Muito melhor. Também precisa explicar como é que alguém consegue assassinar vinte gatinhos nas suas barbas sem que um único vigilante perceba o que está acontecendo. Bagunça tem limite. Maldade também.

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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Um comentário:

  1. Preferi comentar aqui, até porque sou fã incondicional da CORA RÓNAI.

    Ela tem razão quando diz que "o Senado está abusando da paciência dos brasileiros, e o pior é que, pelo que se vê, pode abusar à vontade. O máximo que acontece a um senador pego em flagrante é ter de devolver o produto do roubo -- como se, com isso, ficasse tudo bem. E fica, não fica? Os princípios básicos da moral e da justiça não valem no Congresso Nacional, onde a imunidade parlamentar, instituída com o nobre intuito de defender a democracia, virou uma excrescência insólita que apenas garante a impunidade dos criminosos".

    É verdade! Hoje, no Brasil, quando o político corrupto (ativo ou passivo, não importa!) é apanhado, corre prá devolver o produto do ato ilícito. Pronto! Tudo como dantes no quartel do Abrantes!

    Imaginemos uma cena: Num assalto a um banco, o bandido é cercado pela polícia na saída e se atira ao chão, gritando: "perdi! Devolvo tudo o que roubei!" Como no Senado, as pessoas dele se aproximariam, o cumprimentariam efusivamente e ele sairia calmamente do local, sem nenhuma punição! É O QUE ACONTECE HOJE EM TODO O BRASIL, NAS CÂMARAS MUNICIPAIS E ASSEMBLÉIAS LEGISLATIVAS. NA CÂMARA DOS DEPUTADOS E NO SENADO TAMBÉM, OBVIAMENTE!!!

    Dá nojo sim, é verdade, "perceber que, no Congresso Nacional, exibe-se hoje o que o Brasil tem de pior, a começar pelo coronel José Sarney, nos tomando a todos por otários. Ele tem razão, porque aqui estamos, otários que somos, pagando os impostos mais pesados do mundo para que nada jamais falte às excelências, suas famílias e agregados".

    Num Parlamento decente, como diz a CORA, ninguém sequer cumprimentaria SARNEY e qualquer senador teria vergonha de ser visto em sua companhia.

    Mas ao contrário, até o PEDRO SIMON correu para cumprimentar SARNEY. Uma decepção, pelo menos prá mim, que achava que ele não chafurdava na mesma lama que os outros!

    Realmente está ficando muito difícil falar sobre corrupção no Brasil, pois "um escândalo é sepultado por outro que é enterrado por um terceiro e assim sucessivamente. As manchetes de hoje são iguais às do mês passado e serão iguais às do mês que vem; nem os personagens mudam. A crônica que foi escrita no começo do século e do milênio poderia ser republicada ano após ano, ano após ano, ano após ano..."

    Genial a sua matéria, CORA! Só discordo do finalzinho, quando você que "os safados estão conseguindo nos vencer pelo tédio".

    Isso não vai acontecer! Não vamos nos calar, JAMAIS! Querem mais uma razão prá isso?

    Leiam este comentário postado no blog da CORA:

    "Cora e demais amigos.

    Gostaria muito que alguém do Maranhão comentasse aqui e me corrigisse caso eu escreva alguma bobagem, mas escrevo baseada nos relatos de parentes meus que moraram no MA por algum tempo.

    A fazenda dos coronel Sarney é de vaquinhas holandesas, que ficam no mais absoluto conforto, no ar condicionado em pleno sertão maranhense, enquanto a população do estado morre sem ter postos de saúde, morre na ignorância do analfabetismo e de fome.

    A familia Sarney domina as rádios e as emissoras de TV e dessa forma controla as informações, e mais: contrata "funcionários" em regime de escravidão em suas fazendas.

    Meu tio é juiz trabalhista, recebeu um processo de trabalho escravo e julgou e condenou o réu como ele mesmo diz: com os rigores da lei.

    Pois bem amigos, em 1 mês ele estava morando em outro estado, assim: de repente! Sua família estava sendo ameaçada, poucas pessoas da família sabem disso, as filhas, hoja adultas, nem suspeitam".

    Está lá no blog da CORA RÓNAI. CONFIRA!

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