A diferença entre o macaco Tião e o palhaço Tiririca

Minha primeira eleição para presidente foi em 1989. Antes disso, se não me falha a memória, só podíamos escolher os vereadores e deputados estaduais e federais. Era “proibido” votar para presidente, governadores e senadores da República. Coisas do regime revolucionário...

Era comum, quando se queria protestar, dar o voto a um personagem qualquer, até mesmo um animal. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 1988, quando a turma do Casseta e Planeta lançou a candidatura não oficial do Macaco Tião para a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Com mais de 400 mil votos, ele virou uma celebridade, chegando em terceiro lugar numa eleição que tinha 12 candidatos.

Tião foi parar no Guinness World Records como o chimpanzé mais votado do mundo, mas como não era um candidato reconhecido pelo Tribunal Regional Eleitoral – TRE, os seus votos foram anulados. 

As pesquisas estão a dizer que o palhaço Tiririca deverá ser o candidato a deputado federal mais votado no Estado de São Paulo – SP, exatamente onde está um dos colégios eleitorais mais esclarecidos do país. Como isso é possível?

A partir das eleições de 1996, o eleitor ficou impossibilitado de votar no Macaco Tião ou qualquer outro personagem, já que a urna eletrônica substituiu as cédulas de papel onde ele podia escrever o nome que lhe dava na telha. Agora, como se sabe, o candidato é escolhido pela digitação do número que lhe é atribuído antes do pleito, quando ele faz seu registro no Tribunal Regional Eleitoral – TRE.

Logo, não mais podemos protestar votando no Macaco Tião. Ficou melhor ou pior? Eu acho que ficou pior, porque o voto de protesto a que me referi não levou o Macaco Tião a ser o prefeito da Cidade do rio de Janeiro, primeiro porque ele chegou em terceiro lugar, e depois porque não era um candidato reconhecido oficialmente pelo sistema. Mas agora, minha gente, o voto que aparentemente é um protesto, uma brincadeira, vai fazer do palhaço um deputado federal!!! Tiririca vai ganhar uma cadeira no Parlamento, e quando nela se sentar vai ter a obrigação de legislar sobre o meu, o seu, o nosso destino, o destino de toda a sociedade brasileira!!!

Não aceito a idéia de que a candidatura do palhaço Tiririca possa representar uma parcela da população. Que população? A dos palhaços? Isso é pura besteira, até porque se assim fosse, deveríamos abrir possibilidades para candidaturas representativas também dos ladrões e corruptos, o que já existe, a bem da verdade, mas não de forma oficial, não com o reconhecimento do Tribunal Regional Eleitoral – TRE, o que não impede que eles, os ladrões e corruptos se disfarcem e participem do pleito eleitoral, enganando o eleitor menos avisado, que vota sem conhecer seus reais objetivos.

Mas no caso do nosso personagem a coisa é diferente! O eleitor o conhece e sabe que ele é uma piada. E vai votar nele por que? Para protestar? Para demonstrar uma suposta insatisfação? Ou porque sabe que votar no Tiririca não muda nada, pois “pior do que está não fica”, como diz o slogan da campanha do candidato? E o resto da sociedade? E o eleitorado comprometido com os destinos do país?

Muitos erros foram cometidos em nossa história política, e mais um está batendo à nossa porta: o histórico do nosso Parlamento nos últimos anos tem mostrado que o político nos enxerga como palhaços, e isso porque agimos como palhaços! Tanto isso é verdade, que estamos a ponto de escolher um legítimo representante de classe: o palhaço Tiririca!

O Brasil está perdendo o bonde da razão: o nosso circo não está precisando de novos palhaços ou de um palhaço-mor, mas de mudanças na programação da companhia. Precisamos trocar o malabarismo e as acrobacias da corrupção, da troca de favores, do corporativismo, dos arranjos de gabinete, isso para lembrar apenas alguns dos problemas, por uma legislatura ética e efetivamente voltada para os interesses do cidadão, objetivo que não será alcançado em um show de picadeiro, mas com atitudes sérias e, principalmente, uma boa dose de vergonha na cara!

Sobre o Autor:

Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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