15 junho 2014

Le Monde: Fortaleza é a capital brasileira da prostituição infantil

Foto: reprodução

No início do ano, quando se avizinhava a Copa do Mundo, o Dando Pitacos publicou "Copa do Mundo alimenta a prostituição infantil", afirmando que "na contramão dos investimentos e lucros estratosféricos, muito pouco ou quase nada tem sido gasto no combate à exploração sexual de menores. Ainda que o governo federal sustente que vem trabalhando na questão há uma década, o número de crianças envolvidas na indústria do sexo chegou a 500 mil em 2012, de acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, uma rede de organizações não-governamentais. O número aponta um crescimento desde 2001, quando 100 mil crianças trabalhavam na indústria do sexo, de acordo com dados do UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância.

E tudo indica, até porque é assim que a coisa funciona, que grupos criminosos, inclusive internacionais, estão se organizando para montar uma rede de prostituição infantil em torno dos estádios que estão sendo construídos nas grandes capitais brasileiras. Crianças estariam sendo buscadas nos locais mais pobres do país e levadas principalmente para São Paulo para serem usadas na prostituição, algumas com apenas 11 anos de idade, como acontece na Favela da Paz, um bairro onde centenas de famílias sobrevivem sem eletricidade ou água corrente. À noite, elas vão para a Avenida Miguel Inácio Curi e outras estradas próximas à procura de clientes.

O jornal inglês Mirror publicou uma extensa reportagem escrita pelo jornalista inglês Matt Roper, onde ele relata casos de prostituição infantil nos arredores do Itaquerão, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Segundo a matéria, meninas com idade entre os 11 e os 14 anos cobram entre R$ 10 e R$ 15 para manter relações sexuais com trabalhadores da obra do estádio. Segundo ele, tudo acontece sob os olhos da polícia e de parte da sociedade da capital financeira do Brasil.

Ainda de acordo com Roper, clãs internacionais da máfia da droga põem meninas do Leste Europeu a trabalhar como escravas sexuais não só em comunidades brasileiras, mas também na África, especialmente no Congo e na Somália. O jornalista foi a São Paulo para conhecer pessoalmente algumas das meninas prostitutas em atividade no coração econômico do país."


Foto: reprodução
Ao que parece, pelo menos aparentemente, nenhuma providência foi tomada pelas autoridades brasileiras para combater o problema. No último sábado (14/06), uma extensa e bem detalhada reportagem do jornal francês Le Monde, referindo-se a Fortaleza - CE, afirmou que "a cidade, que hospeda o Mundial, é considerada a capital brasileira da prostituição de menores e um dos principais epicentros do turismo sexual no país", destacando que na região meninas se prostituem toda a noite, alguma oferecendo programas por até R$ 50. A reportagem aborda ainda o crescimento da prostituição infantil (de 100 mil em 2001 para mais de meio milhão em 2013) e ressalta os índices de violência contra a mulher, revelando que "a cada mês, cerca de mil casos de violência contra as mulheres são identificadas por unidades policiais especializadas" e que "no Norte e Nordeste, a cidade ocupa o terceiro lugar na escala de assassinatos de mulheres", chamando a atenção para o fato de que o Ceará é o segundo Estado nordestino em casos estupros.



Como dissemos na postagem sob referência, "este é apenas um pequeno trecho da longa história a ser contada pelo Brasil até a Copa do Mundo. Uma história que não vem de agora, mas que tem décadas de outros relatos. Todos dramáticos e carregados com altas doses de omissão e negligência das nossas autoridades." Por isso mesmo, cabe repetir aqui a pergunta feita na ocasião: "Até quando?"






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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