Li a reportagem abaixo, num belo trabalho de KÁTIA BREMBATTI, da sucursal de PONTA GROSSA do jornal GAZETA DO POVO, e resolvi postá-la aqui no blog. Gostaria que todos a lessem com muita atenção!
Não vou dar o meu “PITACO” sobre o assunto, como sempre faço, criticando e cobrando providências de quem de direito. A foto aí ao lado fala por si: é muito triste!
General Carneiro – O pouco que resta de floresta de araucária no Paraná – só 0,8% do que existiu permanece preservado – está sendo sistematicamente derrubado.
Uma série de fiscalizações ambientais indica que 30 caminhões carregados de toras de árvores nativas circulam livremente todos os dias na região Centro-Sul do estado. São pinheiros que viram carvão; imbuias que já saem da mata transformadas em palanques de cerca; e cedros, na forma de cavaco, que alimentam caldeiras.
Araucárias de mais de 100 anos e com 1,55m de diâmetro foram encontradas no chão, estaleiradas, prontas para serem transportadas para serrarias. Fiscais acharam chapas de compensado feitas de pínus nas lâminas externas e recheadas com madeira nobre. Esse foi o cenário encontrado por operações conjuntas do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Federal realizadas nos últimos seis meses. A ação resultou em 31 autos de infração, com multas que totalizam R$ 6 milhões, e na apreensão de 1,3 mil metros cúbicos de madeira – quantidade suficiente para encher 86 caminhões. São muitos os envolvidos que estão sendo investigados.
Prenúncio da extinção
A araucária é uma árvore milenar e alguns especialistas acreditam que a redução drástica na quantidade de espécies já significa o prenúncio da extinção, tendo em vista a diminuição das probabilidades de combinação genética. Além disso, é a chamada floresta com araucária que está em risco. Nesse tipo de composição ambiental, o pinheiro é a árvore que mais se destaca, mas todas as demais espécies de animais e vegetais que dependem dessa formação estão ameaçadas.
“Cada espécie no ambiente tem uma função determinada, já que na natureza nada existe ao acaso. Muitas vezes desconhecemos essa função. E o desaparecimento de uma espécie causa um desequilíbrio na cadeia que envolve a alimentação de outros seres e a manutenção dos recursos naturais.”, explica Karina Luiza de Oliveira, bióloga da ONG Mater Natura. (KB)
Prefeito que foi autuado reclama da fiscalização
Madeireiro já autuado pelo Ibama, o prefeito de General Carneiro, Ivanor Dacheri, alega que a cidade é dependente da exploração florestal e reconhece que atividades ilegais são mantidas no município como forma de garantir emprego e renda para a população
Cidade vive em torno do corte de árvores
General Carneiro, cidade de 14,5 mil habitantes no Sul do Paraná, vive em torno da cultura da madeira. Já na entrada, o Monumento ao Pioneiro ostenta uma enorme tora com o nome da cidade entalhado.
As fiscalizações partiram de um estudo de prioridade de área de combate ao desmatamento. O levantamento foi realizado em parceria pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo Ibama, em todo o Brasil. E, no Paraná, o mapa apontou que a região mais afetada e que exige mais atenção dos órgãos ambientais é a Centro-Sul – onde estão as áreas mais bem preservadas de floresta de araucária. Essas matas ainda estão em pé, acredita o superintendente estadual do Ibama, José Álvaro Carneiro, porque a topografia montanhosa e a dificuldade de acesso pelas estradas representavam desafios que podiam ser protelados enquanto outras regiões mais acessíveis eram exploradas.
Carneiro acrescenta que na área em que se concentra a fiscalização confluem quatro das seis maiores bacias hidrográficas do Paraná. O Rio Iguaçu, que aumenta em quase dez vezes o volume ao passar pelo Centro-Sul, por exemplo, depende essencialmente da presença da vegetação para continuar sendo abastecido de água.
O helicóptero tem sido um aliado essencial na comprovação do desmatamento. É que os madeireiros usam estradas de pouco movimento para minimizar as chances de encontrar fiscais e delatores, agem preferencialmente à noite e evitam derrubar áreas que chamem muita atenção. À exceção do desmate para transformar a terra em área de lavoura, não são mais devastadas áreas grandes. “Aproximadamente 80% do desmate é de corte seletivo. São tiradas as árvores que mais interessam economicamente. Assim, a área fica empobrecida, viabilizando o corte total num momento futuro, e não aparece nas imagens de satélite”, explica o superintendente do Ibama.
Os sobrevôos rasantes de helicóptero servem para identificar esse tipo de desflorestamento. Muitos flagrantes são percebidos na vistoria aérea e rendem cerca de três meses de trabalho de fiscalização em terra. “Como seria possível, dentro de uma fazenda enorme, achar onde está a derrubada? Não vamos encontrar nada ao lado da sede da propriedade ou na beira da estrada”, salienta.
As investigações ainda estão apurando quem são os proprietários de terras, os madeireiros e os receptadores das toras. Até agora, 12 inquéritos foram instaurados pela Polícia Federal. Segundo Carneiro, há desmatadores contumazes. Pessoas que sabem como funciona a burocracia estatal – ou que algumas pessoas são facilmente corrompidas – continuam cortando árvores nativas na certeza da impunidade. Eles acreditam que sempre vão conseguir protelar ou mesmo contestar as multas recebidas. Mas os esforços de repressão e os entraves burocráticos para a autorização de corte já tiveram efeitos e acabaram tirando o valor comercial da araucária. Dificilmente, por exemplo, ela vai para a fabricação de móveis. A madeira do pinheiro é negociada basicamente no mercado clandestino, transportada e serrada à noite. Ou queimada em fornos de carvão, como uma forma de tentar apagar os vestígios do corte. As toras legalizadas, vindas de áreas de reflorestamento, são usadas principalmente na construção civil.
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
É um absurdo ainda existirem cidades e prefeitos como este de General Carneiro, que estimulam o desmatamento... estimulam ainda a destruição de uma árvore, a araucária, da qual restam menos de 1% da cobertura original (que há pouco mais de 50 anos cobria quase todo o território do Paraná e também partes de São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul).
ResponderExcluirÉ ridículo,revoltante isso! Será que eles vão ficar muito mais ricos destruindo estes 1% de uma floresta tão importante para a manutenção do clima e da biodiversidade local?
O mais incrível é saber que estas cidades que querem acabar com os pinheirais estão em uma das regiões mais pobres do Paraná.Sempre viveram da madeira,e mesmo assim não enriqueceram! É sempre assim, a indústria madeireira no Brasil é uma atividade suicida. Poucos enriquecem e o povo fica na miséria.E prefeitos populistas,como o de General Carneiro,ainda colocam a população contra os ambientalistas,dizendo que nós somos "contra o desenvolvimento".Que desenvolvimento é este??Nos grotões amazônicos isso ocorre aos montes e deveria parar,assim como aqui no Centro-Sul esta indústria já deveria ter parado de praticar crimes há muito tempo!
Seria muito melhor deixar as nossas florestas em paz! Todos ganhariam!!!
Os governos e empresas deveriam pagar pelos serviços ambientais destas poucas florestas que restam. Estes proprietários têm uma responsabilidade pela água que bebemos, pelo ar que respiramos e até pela terra onde produzimos alimentos, pois tudo isso vai acabar se as florestas acabarem! Mas como sempre,não vão associar os fatos. Assim como não associam as catástrofes das enchentes em Santa Catarina ou mesmo em São Paulo ao desmatamento, ocupação de encostas, assoreamento e poluição dos rios, impermeabilização do solo, etc. Será que São Pedro é o culpado de tudo isso? Claro que não, né?
Um dia ainda vão agradecer aos ambientalistas. Isso se ainda houver mundo para vivermos!!!