A questão do crack, um problema de saúde pública até aqui desprezado pelas autoridades do país, já foi abordado por diversas vezes aqui no Dando Pitacos: "Crack: a epidemia da vez", "Crack: um problema de saúde pública", "As meninas do crack" e "Seria cômico, se não fosse trágico..." foram os títulos das matérias através das quais o blog tentou chamar a atenção das pessoas para o problema. O tema de hoje nasce de uma pesquisa mandada fazer pela Assembleia Legislativa de São Paulo - SP. De acordo com os dados por ela colhidos, 67% dos indivíduos atendidos no sistema público de saúde no ano passado em razão do uso crack tinham até 30 anos de idade.
O levantamento apresentado hoje (13/12) pela Frente Parlamentar de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, faz parte do Mapa do Crack, e reuniu dados de 299 municípios paulistas que concentram 74% da população do Estado, cerca de 32 milhões de habitantes. Além de mostrar que o crack é a droga ilícita mais presente em 47% das cidades, um outro detalhe que chama a atenção é o percentual de 6% dos atendimentos a indivíduos com até 13 anos de idade e já viciados nesse tipo de entorpecente.
- São cerca de 3 mil crianças que já estão no mundo do crack - afirmou o deputado Jooji Hato, um dos integrantes da frente parlamentar.
Os usuários com idades entre 14 e 20 anos somaram 21% dos atendimentos. Mas a maioria dos indivíduos atendidos, cerca de 40%, têm idades entre os 21 a 30 anos, dados que segundo o médico Sergio Duailibi, pesquisador do Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas - INPAD, mostram a necessidade de novas políticas de atendimento público.
- Atendimento especializado a adolescentes é quase nulo. O início (do uso de crack) está sendo cada vez mais precoce - afirma o médico especialista, que também é professor da Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, para quem o atual sistema, que junta adolescentes e adultos, sem distinção de sexo, vem acarretando diversos problemas, já que "o risco de serem violentados ou de violentarem, de brigas e de fugas é muito grande”.
Ainda de acordo com o trabalho desenvolvido pela Assembléia Legislativa paulista, o crack já superou o álcool como a droga mais presente nos atendimentos públicos em 58 dos 299 municípios pesquisados, 19% do total. A região que tem o quadro mais grave é São José do Rio Preto, onde o crack já é o entorpecente mais utilizado. Os números sugerem também que os municípios que mais sofrem são os com população entre 50 mil e 100 mil moradores. Nessas cidades, a média do número de atendimentos a viciados de crack foi de 3,39 por mil habitantes (a média geral, dos 299 municípios, foi de 1,63 por mil), o que demonstra, segundo os coordenadores da pesquisa, que o tráfico está migrando dos grandes centros urbanos, mais aparelhados e acostumados a enfrentar o problema, para cidades menores.
Aliás, um levantamento nacional feito pelo mesmo Instituto Nacional de Políticas de Álcool e Drogas - INPAD, aponta o Brasil como o maior consumidor de crack do mundo, esclarecendo que em 2011, cerca de 1,3 milhão pessoas usaram a droga pelo menos uma vez, e São Paulo é o Estado onde se concentra a maioria dos usuários: uma multidão de 800 mil pessoas. O que estão esperando as autoridades brasileiras para combater, com iniciativas objetivas e a nível nacional, esta verdadeira praga?
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |