02 janeiro 2014

Copa do Mundo alimenta a prostituição infantil

Foto: reprodução

A prostituição, inclusive a infantil, já foi tema em diversas oportunidades aqui no Dando Pitacos. Com a aproximação da Copa do Mundo, o Brasil, que é o país anfitrião, entrou numa corrida maluca para terminar os seus principais estádios de futebol. Um deles, a Arena Corinthians, em São Paulo, está sendo preparado a toque de caixa para o jogo de abertura, no dia 12 de junho, entre Brasil e Croácia, confronto que deve ser visto por metade da população do planeta. Para tanto, centenas de trabalhadores vindos de todas as partes do país já estão em São Paulo para trabalhar na construção do estádio. Para facilitar seu deslocamento e também por falta de recursos, eles se alojam nas favelas próximas. O aumento da oferta de emprego traz a reboque a explosão da prostituição infantil, organizada por grupos criminosos, sem a atenção devida por parte das autoridades.

Segundo dados oficiais, a Embratur espera que a Copa do Mundo atraia 600 mil visitantes estrangeiros para o Brasil, que aqui devem gastar cerca de R$ 25 bilhões em viagens pelo país. Segundo a Fifa, baseada em um relatório da consultoria Ernst & Young, o torneio deverá injetar cerca de R$ 113 bilhões na economia brasileira. Por sua vez, o governo irá gastar aproximadamente R$ 33 bilhões em estádios, transporte e outras obras de infraestrutura até o início do torneio, além de R$ 10 milhões em propaganda.

Na contramão dos investimentos e lucros estratosféricos, muito pouco ou quase nada tem sido gasto no combate à exploração sexual de menores. Ainda que o governo federal sustente que vem trabalhando na questão há uma década, o número de crianças envolvidas na indústria do sexo chegou a 500 mil em 2012, de acordo com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, uma rede de organizações não-governamentais. O número aponta um crescimento desde 2001, quando 100 mil crianças trabalhavam na indústria do sexo, de acordo com dados do UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância.

E tudo indica, até porque é assim que a coisa funciona, que grupos criminosos, inclusive internacionais, estão se organizando para montar uma rede de prostituição infantil em torno dos estádios que estão sendo construídos nas grandes capitais brasileiras. Crianças estariam sendo buscadas nos locais mais pobres do país e levadas principalmente para São Paulo para serem usadas na prostituição, algumas com apenas 11 anos de idade, como acontece na Favela de Paz, um bairro onde centenas de famílias sobrevivem sem eletricidade ou água corrente. À noite, elas vão para a Avenida Miguel Inácio Curi e outras estradas próximas à procura de clientes.

O jornal inglês "Mirror" publicou uma extensa reportagem escrita pelo jornalista inglês Matt Roper, onde ele relata casos de prostituição infantil nos arredores do Itaquerão, palco da abertura da Copa do Mundo de 2014. Segundo a matéria, meninas com idade entre os 11 e os 14 anos cobram entre R$ 10 e R$ 15 para manter relações sexuais com trabalhadores da obra do estádio. Segundo ele, tudo acontece sob os olhos da polícia e de parte da sociedade da capital financeira do Brasil.

Ainda de acordo com Roper, clãs internacionais da máfia da droga põem meninas do Leste Europeu a trabalhar como escravas sexuais não só em comunidades brasileiras, mas também na África, especialmente no Congo e na Somália. O jornalista foi a São Paulo para conhecer pessoalmente algumas das meninas prostitutas em atividade no coração econômico do país.

Poliana, de 14 anos e há apenas três meses na prostituição, diz que não faltam clientes. Ela vende seu corpo para os trabalhadores da Arena Corinthians por menos de 4,7 dólares. Ela mora em uma pequena casa escondida em um labirinto de vielas, com esgoto a céu aberto, onde os trabalhadores vão para comprar o "serviço" das meninas.

De acordo com o relato de Roper, Poliana saiu de casa na mesma noite em que sua mãe morreu.

Foi na noite em que minha mão morreu. Eu tinha sido tentada a me prostituir antes – algumas amigas minhas estavam fazendo e queriam que eu também o fizesse. Mas quando ela morreu, eu perdi o controle. Eu saí na rua naquela noite e não sabia como iria encontrar dinheiro para comer ou pagar o aluguel. Não demorou muito para encontrar pessoas que querem pagar. Havia um monte de homens do estádio querendo sexo", contou a menina ao jornalista. Há duas semanas atrás ela descobriu que está grávida, mas não pretende deixar a prostituição. Todos os dias, na hora do almoço, ela marca encontros com clientes em um dos hotéis perto da favela.

Thais, 16 anos, órfã e viciada em crack, foi trazida para a Favela da Paz por outra jovem prostituta e se acomodou em uma garagem, onde tem relações sexuais com até 15 homens/dia.

A maioria dos meus clientes estão na construção. Eles sempre pagam, mas eu nem sempre me tratam bem". Mas o que eu posso fazer? Meus pais estão mortos, eu preciso de dinheiro. Se não fossem os homens que trabalham no estádio, eu não sei o que eu faria", desabafa Thais.

Este é apenas um pequeno trecho da longa história a ser contada pelo Brasil até a Copa do Mundo. Uma história que não vem de agora, mas que tem décadas de outros relatos. Todos dramáticos e carregados com altas doses de omissão e negligência das nossas autoridades. Até quando?






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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