Primeira edição do JB |
Ainda não eram cinco da manhã do dia 9 de abril de 1891, uma quinta-feira, quando na fachada do prédio de nº 56, da Rua Gonçalves Dias - RJ, foi hasteado o pavilhão do Jornal do Brasil, uma das maiores plataformas da informação no país. No dia 01 de setembro, ou seja, na próxima quarta-feira, depois de tantos serviços prestados aos brasileiros por mais de um século, a versão impressa do JB deixará de circular. Sai de cena o famoso Jotinha!
Como primeiros colaboradores, o JB contava com a nata da intelectualidade da época. Com efeito, lá estavam o Barão do Rio Branco, Rodolfo Dantas, Aristides Espínola, Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, que logo se juntaria à equipe. Juntos, eles ajudaram a romper a série de gazetas e diários e fundar um verdadeiro jornal.
Depois de longa agonia financeira agravada por processos trabalhistas, o bom e velho JB, berço de notáveis jornalistas que marcaram época, sairá de vez do papel, tornando-se o primeiro jornal 100% digital do país. Para tantos brasileiros que se acostumaram a ler o noticiário objetivo e as análises de conteúdo de seus jornalistas, como os grandes Barbosa Lima Sobrinho e Carlos Castelo Branco, entre tantos outros expoentes da história do jornalismo pátrio, o fim da edição impressa do Jornal do Brasil deixa um vazio difícil de ser preenchido.
Ao longo dos seus 119 anos de história, o Jornal do Brasil representou a ambição profissional de uma geração, tendo um papel de destaque na cobertura política, especialmente durante o governo militar. O JB se destacou particularmente na corajosa cobertura da promulgação do AI-5, ato institucional que suspendeu garantias constitucionais do país.
Depois de investir em novos equipamentos no fim dos anos 1950, o jornal empreendeu uma reforma gráfica que se tornou referência, com a implantação da diagramação vertical e a valorização dos espaços brancos das páginas. Como consequência, viveu longo período de pujança e prestígio, que lhe aumentara substancialmente a tiragem e os anunciantes.
Também na parte cultural, o Jornal do Brasil foi um grande inovador, lançando um suplemento literário, o Ideias, que revelou alguns dos principais poetas e escritores do país. No fim dos anos 1980, o jornal era imbatível, vendendo mais de 180 mil exemplares nos dias de semana e cerca de 250 mil aos domingos.
Jornais custam a morrer e com o JB não foi diferente. Quando o empresário Nelson Tanure arrendou o jornal em 2001, o JB tinha uma circulação diária de 76 mil exemplares. Em 2003, iniciou um esforço de recuperação, chegando a alcançar 100 mil exemplares em 2007, mas, em seguida, voltou a experimentar dificuldades. Em março de 2010, quando a circulação diária havia minguado para cerca de 20 mil exemplares, já circulava a informação de que Tanure iria acabar com o jornal impresso, como havia feito com o Gazeta Mercantil em junho de 2009. Hoje os boatos se concretizam e o conteúdo do JB, símbolo do jornalismo de qualidade do século passado, fica disponível apenas pela internet, com custo de assinatura mensal. Fecha-se, sem dúvida, uma das mais belas páginas do jornalismo brasileiro.
Fui funcionário do Jornal do Brasil na década de 80, depois de passar por um rígido critério de seleção que durou mais de 30 dias. Naquela época o JB estava saindo do chumbo e informatizando toda a sua impressão. Era um trabalho apaixonante. As matérias vinham da revisão e eram datilografadas, em máquinas IBM esfera, numa folha de papel especial, onde se adicionavam diversos códigos. As folhas eram encaminhadas a outro setor, onde uma enorme máquina as lia e transformava o escrito em uma fita perfurada. Essa fita era levada ao computador. Ali nascia a edição do jornal. Nós trabalhávamos em turnos. Eu "pegava" às 19:00 horas e só era dispensado com o "fechamento" do jornal, o que acontecia normalmente entre 01:00 e 02:00 horas da madrugada.
Como deixei registrado acima, "jornais custam a morrer", e o Jornal do Brasil, ao menos na minha lembrança, será eterno!
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Pois é. Infelizmente, perdemos o JB. Eu era leitor assíduo até alguns anos. Meu pai era assinante e eu aprendi a gostar e conhecer os seus colunistas, que hoje estão em outros jornais daqui do Rio.
ResponderExcluirVida que segue.
É isso aí, amigo Alberto!
ResponderExcluirUns caem para que outros sigam adiante. Como você disse, "vida que segue".
Um trabalhei lá. Era um lugar especial!
Um abração...
Olá meu amigo Roberto!
ResponderExcluirRealmente é uma grande perda e uma lástima enorme ver um jornal como o JB acabar! Na época do fechamento da Gazeta Mercantil me bateu muita tristeza, agora mais essa! Acho que não importa o tempo que passe, o JB será eterno naquilo que tão bem fazia. Estamos numa era difícil onde bons valores estão sendo perdidos e substituídos por banalização. Infelizmente há muito trabalho pela frente para tentar resgatar um pouco de dignidade e fazer tais valores ressurgirem.
Grande beijo,
Jackie
É isso aí, Jackie!
ResponderExcluirQuando entrei no JB, acho que em 1980, uma das primeiras coisas que ouvi de alguns colegas é que o jornal não tomava partido de notícias, apenas noticiava, pois esse era o seu papel.
Eu era um pequeno funcionário, mas cheguei a conhecer alguns jornalistas famosos e posso te garantir que o trabalho deles era muito lindo, como é o trabalho de qualquer jornal. Mas o JB era único!
Um grande abraço...