01 agosto 2010

ZIZI POSSI

Há alguns dias postei aqui o texto Estrelas Negras, numa referência a Anita Baker e Amy Keys, duas extraordinárias intérpretes norte-americanas, anexando os vídeos onde elas interpretam Sweet Love e Separate Lives, respectivamente.

Hoje a estrela é Maria Izildinha Possi, a nossa Zizi Possi, um verdadeiro colírio para os olhos, ouvidos e coração.

Paulistana do bairro do Brás, típico reduto de imigrantes italianos, onde nasceu a 28 de março de 1956, Zizi Possi estudou piano e canto na infância e mudou-se para Salvador aos dezessete anos, onde estudou composição e regência. Após dois anos de curso, abandonou a faculdade e fez teatro com o irmão, o diretor de teatro José Possi Neto, na mesma época em que participou da montagem do musical Marilyn Miranda. Em um projeto para a prefeitura soteropolitana, trabalhou como professora de música para crianças — filhos de prostitutas no Pelourinho —, gravou jingles comerciais e participou de especiais da televisão local, transferindo-se posteriormente para o Rio de Janeiro.

A convite do então diretor artístico Roberto Menescal, Zizi assinou contrato com a gravadora Philips, que posteriormente transformou-se em Polygram (atualmente Universal Music), que lançaria quase todos os discos. O primeiro LP gravado foi Flor do Mal (1978) e o primeiro grande sucesso foi a canção Pedaço de Mim, gravada para um disco de Chico Buarque, autor da canção, que também dá título ao segundo álbum, datado de 1979, no qual outras duas canções se destacariam: Nunca e Luz e mistério.

Paralelamente ao lançamento do disco e espetáculo Um Minuto Além (1981), ganhou o primeiro prêmio, de cantora-revelação pela Associação Paulista de Críticos de Arte - APCA, Dê um Rolê (1984) e Amor e Música (1987). Os discos nesta época tinham uma linha mais comercial, principalmente de canções para trilha sonora de telenovelas e atendendo a tendências mercadológicas.

Originalmente idealizado para a montagem do ballet teatro do Balé Teatro Guaíra (Curitiba, 1982), o espetáculo O Grande Circo Místico foi lançado em 1983. Zizi integrou o grupo seleto de intérpretes que viajaram o país apresentando o projeto, um dos maiores e mais completos espetáculos teatrais já apresentados, para uma plateia de mais de duzentas mil pessoas. Zizi interpretou a canção-tema O Grande Circo Místico, composta pela dupla Chico Buarque e Edu Lobo. O espetáculo conta a história de amor entre um aristocrata e uma acrobata e a saga da família austríaca proprietária do Grande Circo Knie, que vagava pelo mundo nas primeiras décadas do século.

Valendo-se ainda do filão engajado da pós-ditadura e feminismo, cantou, ainda que com uma participação individual diminuta, no coro da versão brasileira de We Are the World, o hit americano que juntou vozes e levantou fundos para a África ou USA for Africa. O projeto Nordeste Já (1985), abraçou a causa da seca nordestina, unindo 155 vozes num compacto, de criação coletiva, com as canções Chega de mágoa e Seca d´água. Elogiado pela competência das interpretações individuais, foi no entanto criticado pela incapacidade de harmonizar as vozes e o enquadramento de cada uma delas no coro.

Em 1986, lançou aquele que seria o maior sucesso, a música Perigo, que integrou a trilha sonora da novela Selva de Pedra, da Rede Globo, que a torna extremamente famosa em todo o Brasil.

Em 1989, outro lançamento, considerado por muitos, inclusive pela própria Zizi, um de seus melhores discos: Estrebucha Baby — trabalho que marcou o afastamento do padrão comercial radiofônico da época, recebido com frieza e que foi um fracasso comercial. Neste disco também se definiu a saída da gravadora (o diretor artístico da época, hoje dono de padaria), o fim do casamento de 6 anos com o pai de sua filha, e o retorno à cidade natal - São Paulo.

O espetáculo temático Sobre Todas as Coisas permaneceu em cartaz por dois anos e o repertório deste reunia canções consagradas entre outras do repertório do disco anterior. O grande sucesso deste acabou por originar o álbum homônimo, lançado em 1991 pela pequena gravadora Eldorado, em formato acústico, acompanhada por Marcos Suzano (percussão), o multi-instrumentista Lui Coimbra (violoncelo, alternando-se com violão e charango), Jether Garotti Júnior e as participações especiais de Alex Meireles e Pier Francesco Maestrini (piano), iniciativa que soou como inusitada, surpreendente e inovadora à época.

O CD, relançado em 2006 com uma tiragem limitada de mil cópias, foi um sucesso instantâneo - apesar de não veiculado pela imprensa, pois representou, esteticamente, uma mudança radical e vendeu mais que os discos que ela fizera até então. De quebra, concorrendo com Marisa Monte e Leny Andrade, por esse álbum Zizi ganhou dois prêmios: o extinto Prêmio Sharp (atual Prêmio Tim de Música) e pela APCA, de melhor cantora e melhor CD de MPB em 1991. Sobre Todas as Coisas foi reconhecido posteriormente como um divisor de águas na carreira. Devido ao afastamento da linha comercial e a transferência para essa gravadora independente onde conquistou maior liberdade na escolha do repertório, os trabalhos estavam desacreditados e com baixa expectativa de venda, mas a vendagem surpreendeu e o disco foi muito elogiado pela crítica especializada, onde explorou influências mais densas e teatrais, enquanto o subsequente era mais leve e jazzístico.

O segundo trabalho nesse caminho foi Valsa Brasileira (1993), lançado desta vez pela independente Velas, fundada por Ivan Lins e o parceiro Vítor Martins. O repertório trouxe regravações de canções pouco conhecidas de compositores consagrados, com destaque para a faixa-título, de autoria da dupla Chico Buarque e Edu Lobo, tal como fizera com a faixa-título do trabalho anterior, também da dupla de compositores. A partir de então, ambas as canções seriam regravadas em voga por toda a MPB.

Com este álbum, que simulou uma incursão pelos arranjos eletrônicos, Zizi ganhou novamente o Prêmio Sharp de melhor disco de MPB, entrando no rol das grandes cantoras deste gênero. Valsa Brasileira também foi muito elogiado pela crítica especializada, devido ao repertório seletivo, cuidados técnicos e arranjos apurados. O espetáculo originado deste disco também obteve relevante sucesso, fugindo ao padrão mercadológico vigente.

A última obra da trilogia acústica é Mais Simples (1996), que marca o retorno à mesma gravadora multinacional da qual havia saído sete anos antes e o repertório apresentava canções consagradas e pouco conhecidas da MPB e do samba entre outras canções inéditas de compositores novatos e pouco conhecidos. O sucesso de vendagem voltaria quando do lançamento da primeira produção totalmente em uma língua estrangeira, Per Amore (1997), no qual interpretou clássicos da música italiana e garantiu à cantora um disco de ouro, um de platina e um duplo de platina. O maior sucesso do disco foi a faixa-título, originalmente gravada pelo tenor italiano Andrea Bocelli, que fez parte da trilha sonora da novela Por Amor, de Manoel Carlos, impulsionando o repertório, composto basicamente de canções napolitanas pouco comerciais. A ideia da gravação surgiu da comemoração das bodas de ouro dos pais, naquele mesmo ano — e também por ser neta de italianos.

Nessa época, Zizi presenciou a maior diversificação de presenças de gerações nos espetáculos. Recebeu ainda o Troféu Imprensa, na categoria Melhor Cantora do Ano. Prosseguiu com o segundo álbum em italiano, Passione (1998), considerado a continuação do anterior, que lhe garantiu novamente um disco de ouro e de platina. A retomada do repertório brasileiro se deu no álbum subseqüente: Puro Prazer (1999), no qual concretizou um antigo projeto de gravar voz e piano. Tendo como destaque a gravação de Disparada e concorrendo com a artista argentina Mercedes Sosa, uma das cantoras que maior influência exerceu na carreira, Zizi desta vez perdeu o prêmio Grammy Latino, em três categorias, para a colombiana Shakira. O repertório trouxe regravações dos antigos sucessos entre outras canções consagradas inéditas na voz, comemorando os dez anos de parceria entre a cantora e o pianista Jetther Garotti Júnior.

Em 2000, a Universal Music lançou a caixa tripla Três vezes Zizi, trazendo os discos em italiano e ainda Puro Prazer, devido ao total de um milhão de cópias que os três venderam em conjunto. Nesse mesmo ano, a gravadora relançou os discos gravados na primeira fase, através da série Tudo e foi premiada na Itália em 2003 no Prêmio Carosone Internazionale

A pedido de Marcelo Castelo Branco, presidente da Universal Music, lançou Bossa, onde recriou canções nacionais e internacionais, de outros gêneros neste estilo. O disco, ao contrário do que havia sido proposto pela gravadora, não teve nenhum lançamento oficial nem qualquer trabalho por parte da empresa para divulgação ou distribuição. Os shows de lançamento em SP e RJ forma bancados pela própria cantora. Isso causou uma crise entre Zizi Possi e a Universal, e a cantora solicitou veementemente seu desligamento do cast, o que veio a conseguir no final da sua temporada no Canecão - RJ, em 2002. Esta crise de credibilidade de apalavramento da empresa para com a artista a levou a desistir definitivamente de longos contratos com gravadoras.

Em decorrência de problemas familiares sérios, Zizi entra em um processo de depressão, que durou aproximadamente três anos.

O retorno à mídia se deu com o lançamento daquele que foi o trabalho mais recente da carreira: Para Inglês ver e Ouvir (2005) que contém clássicos da música internacional, norte-americana e inglesa. O projeto, surgido através do repertório preparado pela cantora para atender ao convite da respeitada casa paulistana de espetáculos noturnos Bourbon Street, foi gravado no Teatro Frei Caneca, também em São Paulo. Entre os méritos este conta ser o primeiro disco ao vivo lançado em 27 anos de carreira, o primeiro em inglês e o segundo DVD lançado, após Per Amore (originalmente lançado em VHS em 1998)

Ao longo da carreira Zizi se consagrou como cantora popular através dos sucessos como: Nunca, Luz e mistério, Meu amigo meu herói, Caminhos do sol, Engraçadinha, Eu velejava em você, O amor vem pra cada um, Dê um rolê, Luiza, Perigo, Esquece e vem, Noite, A paz e principalmente Asa morena. Esta última, do disco homônimo lançado em 1982, foi um sucesso radiofônico e comercial.

Ex-mulher do produtor musical Líber Gadelha (fundador da gravadora independente Indie Records em 1997) é mãe da cantora Luiza Possi, nascida em 26 de junho de 1984 na capital fluminense.

Espalhe-se no sofá, relaxe, assista esse vídeo e deixe o seu coração viajar!


Fonte: Wikipédia

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin

8 comentários:

  1. Que Post Fantástico!
    Amigo Roberto:
    O seu artigo está absolutamente completo e impecável. Uma verdadeira aulinha sobre a grande trajetória de sucesso marcada por essa grande estrela da musica popular brasileira quer queiram ou não já entrou para a história.
    Parabenizo-o pela exaustiva pesquisa para nos brindar com mais um post de qualidade!
    Parabéns pela excelente matéria!
    Fraternalmente,
    LISON.

    ResponderExcluir
  2. Valeu, Lison!

    O sacrifício e o trabalho compensam, primeiro porque a Wikipédia ajuda muito, e segundo porque homenagear Zizi Possi é um grande prazer. Sua voz afinadíssima, sensibilidade e sensualidade justificam qualquer esforço.

    É como eu digo na postagem: é sentar no sofá, no chão, onde você quiser, relaxar, assistir ao vídeo e deixar o coração viajar!

    Um abração...

    ResponderExcluir
  3. Muito bom,
    A música que mais gosto de ouvir na vóz de Zizi é "A páz".
    Um grande abraço
    Giba

    ResponderExcluir
  4. Obrigado pela participação, Giba!

    "A paz" também foi um dos grandes sucessos de Zizi Possi. Aliás, ela tem várias músicas de muito sucesso.

    Um abração...

    ResponderExcluir
  5. Roberto,sem dúvida a Zizi Possi é uma diva!Uma pérola branca!Adorei ler a historia dessa maravilhosa interprete,que voz doce.Dá gosto de ouvir,não consigo entender porque cantoras como a Zizi Possi,Elba Ramalho,Maria Bethania e etc,não tem o devido espaço que merecem na mídia.
    Bjos

    ResponderExcluir
  6. Você acertou em cheio, Cecília! Ela é uma pérola!

    A questão de cantoras como ela aparecerem mais ou menos na mídia é comercial e cultural. As gravadoras e órgãos de comunicação (rádio, televisão, etc) dão preferência, logicamente, ao que é mais popular, e nesse nosso país de pouca cultura o funk e o rebolation, pra citar apenas dois exemplos, vendem muito mais do que Zizi Possi, Adriana Calcanhotto, Fafá de Belém, Elba Ramalho, Gal Costa, Isabella Taviani, Isaura Garcia, Leila Pinheiro, Maria Rita e outras.

    É uma pena, porque em nome do dinheiro (que é quem manda, infelizmente), somos privados de mais qualidade e cultura.

    Um beijão...

    ResponderExcluir
  7. Parabéns pela postagem, Roberto.
    Fico feliz por descobrir o seu blog!
    Vida longa!

    ResponderExcluir
  8. Obrigado, Paulo Henrique!

    Também fico feliz pela sua descoberta. Vamos conversando pela aí!

    Vida longa pra você também!

    ResponderExcluir

A existência de qualquer blog depende da qualidade do seu conteúdo, e mais do que nunca, do estímulo de seus leitores. Por isso, não saia sem deixar seu comentário!