03 janeiro 2012

Racismo, constrangimento ou pura rotina de bares e restaurantes brasileiros

Quem está acostumado a frequentar barzinhos e restaurantes de qualquer cidade brasileira já se habituou a ver crianças pobres, negras ou brancas, geralmente vendendo algum tipo de produto, serem retiradas de seu interior, às vezes até de forma agressiva. Isso acontece a todo instante e eu nunca ouvi falar que a polícia tenha indiciado alguém por constrangimento ilegal ou racismo.

Na última sexta-feira de 2011, Cristina (ela não revelou o sobrenome), uma espanhola de 42 anos, e o marido Jordi, também espanhol, registraram um boletim de ocorrência no 36º Distrito Policial, na Vila Mariana - SP, porque o filho do casal, um menino etíope de apenas 6 anos de idade, teria sido expulso da Pizzeria Nonno Paolo, no bairro Paraíso, Zona Sul da cidade. O dono do restaurante teria confundido a criança com um menino de rua, e a partir daí surgiu a controvérsia:

- Ele me disse "um senhor me botou para fora", em catalão, que é a nossa língua. Perguntamos se ele estava ferido e ele disse que foi segurado pelo braço, mas não foi machucado - relata Cristina.

- O menino saiu procurando os pais dele. Mas ele foi para o lado errado. Os pais estavam de um lado e ele foi para outro - conta José Eduardo Fernandes Neto, que seria o gerente do restaurante.

O garoto, que não fala português, foi encontrado pela família a um quarteirão de distância do local.

- Foi um desespero, a primeira coisa que eu pensei foi que alguém havia levado ele embora e que não iríamos vê-lo nunca mais - disse a mãe, técnica de administração acadêmica na Universidade de Barcelona.

A família, que chegou ao Brasil em 17 de dezembro, disse estar muito abalada. A tia que hospeda o casal, Aurora, afirmou que o garoto evita falar sobre o caso e que estava chorando quando foi encontrado pelos pais.

- Ela chegou aqui chorando, com o marido. Eu voltei com ela para saber o que houve e um funcionário admitiu que havia colocado o menino para fora.

Como já disse, o casal espanhol fez um boletim de ocorrência no 36º Distrito Policial, na Vila Mariana, ainda na sexta-feira. O caso foi registrado como constrangimento ilegal, mas a polícia investiga a hipótese de racismo.

A família voltou ontem, segunda-feira (02/01) para a Espanha, mas vai acompanhar o caso e estuda entrar na Justiça caso a investigação não prossiga.

Pizzeria Nonno Paolo

A Espanha, todo mundo sabe, é um dos países que mais discrimina raças na Europa, mas se ficar comprovado que o menino foi alvo de xenofobia (aversão a pessoas e coisas estrangeiras) ou racismo (tratamento desigual e injusto ou violência contra pessoa que pertence a grupo, cultura ou etnia diferente), não se discute, os responsáveis devem ser punidos, já que atitudes como esta não mais podem ser aceitas em pleno século XXI, principalmente no Brasil, onde a miscigenação racial é marca registrada, e mais ainda em São Paulo, cidade que sempre recebeu e acolheu as gentes de todas as partes do mundo. Só acho que o mesmo comportamento deveria ser adotado em relação às crianças brasileiras, negras ou brancas, não importa, apesar de entender, e aí vamos deixar de lado a hipocrisia, que não é agradável ser incomodado quando se está em um momento de lazer com a família e amigos. É preciso diferenciar as situações: Impedir que as pessoas sejam incomodadas é uma coisa. Tratar crianças de forma constrangedora ou racista é outra bem diferente. O bom-senso precisa imperar e a lei deve cumprida, sempre. 


Fonte: G1



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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