02 janeiro 2012

Rio de Janeiro: paraíso da "farofa" brasileira e mundial

Quem chegasse à praia de Copacabana no amanhecer do primeiro dia de 2012 não iria acreditar em seus próprios olhos. Depois de tanta beleza e comemorações, o lixo. Uma turista de São Paulo, mais civilizada talvez, chegou a pedir que as câmeras não registrassem a imundície estampada nas areais brancas da mais famosa praia do mundo, numa tentativa de preservar a imagem da cidade. A moça vinda de São Paulo, indignada, dizia que o Rio não merecia ser tratado de tal maneira, e logo no réveillon "verde", que buscou homenagear a Conferência Ambiental Rio+20. Sem dúvida alguma, mais um péssimo exemplo para o mundo civilizado!

O trabalho dos garis teve início às 5h da manhã, logo que que o dia começou a clarear, e pouco tempo depois tinham sido recolhidas 370 toneladas de resíduos, quantidade 25% maior em relação ao ano passado. O educado público que ali foi dar as boas vindas ao Novo Ano, dois milhões de pessoas na estimativa da Polícia Militar, não deu a menor bola aos pedidos das autoridades para que levassem seus sacos plásticos e recolhessem seu próprio lixo.

Aliás, nem mesmo as lixeiras que estavam espalhadas pela orla foram utilizadas de forma efetiva, claro, sempre com uma justificativa bem fundamentada.

- A lixeira está muito longe. Os garis vão recolher daqui a pouco, então jogo aqui mesmo. Não tem problema - foi o que disse, por exemplo, o porcalhão Thiago Santos, um jovem operador de telemarketing de 22 anos, dando bem a ideia de sua nenhuma educação e das dificuldades de se conscientizar a população.

Segundo dados da Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos, o trabalho de limpeza nas praias, desde o Leme até o Recreio, mobilizou cerca de 3.800 garis. Para a Secretaria Municipal de Saúde, a maioria dos 1.645 atendimentos realizados entre as 17h do dia 31 dezembro e as 5h30m do dia 1º de janeiro, nos 7 postos médicos montados na orla de Copacabana, acreditem, foram por cortes nos pés e nas pernas ou intoxicação alcoólica.


Na areia, que em razão da grande quantidade de barracas e tendas espalhadas mais parecia um camping, as pessoas não se importavam em dividir o espaço de comidas e bebidas com a sujeira. Não raro, "patricinhas" enrolavam seus caríssimos vestidos até a cintura, e abaixando-se, urinavam na areia. O lixo atirado ao mar, talvez até por uma revolta natural com  o tamanho pouco caso e desleixo, era devolvido às areais pela maré, num festival de garrafas, latas e plásticos, que se misturavam às flores oferecidas a algumas divindades religiosas. Muito axé e nenhum asseio e educação.

Em toda a orla da cidade, logo depois da festa da virada, a Comlurb recolheu 645 toneladas de lixo, 6% a mais que em 2011, quando o volume de resíduos retirado das praias foi de 610 toneladas. Além dos 3.800 garis a que já nos referimos, a empresa utilizou 300 viaturas e 85 equipamentos para limpeza da orla.

E a coisa só não foi pior porque uma operação de combate à desordem, realizada pela Secretaria Especial da Ordem Pública - Seop, em parceria com a Guarda Municipal, retirou das ruas, desde a madrugada de sábado, 337 barracas de camping montadas nas areias de Copacabana e do Leme, além de apreender com ambulantes não autorizados: 3.701 bebidas diversas; 129 botijões de gás; 50 quilos de camarão; 100 quilos de alimentos diversos, como farofa, carnes e frutas; 50 quilos de milho; 127 chapéus e bonés; 192 camisetas; 136 taças de plástico; 97 capas de chuva; 62 copos luminosos; 35 copos de plástico; 10 carroças; três carrinhos de ferro; 19 óculos; 20 guarda-chuvas; 18 cangas; 22 cordões luminosos; oito adereços; sete cadeiras de praia; 12 caixas de isopor; 11 churrasqueiras; seis tendas; seis mesas; cinco bancos de plástico; um balde de alumínio; uma lona e quatro barras de ferro para sustentação de barracas. Além disso, agentes da Seop ainda ainda multaram 1.078 veículos e rebocaram 202 por estacionamento irregular, só em Copacabana e no Leme. A fiscalização também percorreu bairros vizinhos e impediu que 10 ônibus de turismo estacionassem irregularmente na Avenida Pasteur, em Botafogo, e no Jardim de Alah, em Ipanema. E em plena virada do ano, de sábado para domingo, na praia da Barra da Tijuca, agentes da Seop retiraram quatro lonas que delimitavam o espaço na areia, impedindo a livre passagem, e apreenderam com ambulantes irregulares, 300 quilos de flores, três botijões de gás, uma churrasqueira, nove isopores, sete mesas e uma lona.

E pra fechar esse assunto pouco cheiroso e nojento, pergunto: Você sabia que o terceiro maior orçamento da prefeitura da Cidade Maravilhosa é o da Comlurb, que gasta por ano cerca de R$ 1 bilhão coletando lixo dos prédios e das ruas? E que a grana consumida só para recolher a lambança que os farofeiros fazem nas ruas, parques e praias cariocas chega perto dos R$ 550 milhões? E o pior de tudo, que esse dinheiro daria para construir 100 escolas num ano, ou 150 creches, ou 200 clínicas da família? Pense nisso, e não jogue na calçada ou pela janela de seu carro os resíduos da sua má educação!


Fonte: O Globo



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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