Nada como começar o ano falando de mulher, a obra-prima da criação divina, e melhor ainda quando a mulher é Luana Piovani, a quem o passar do tempo só fez ficar mais linda. Grávida de 5 meses do surfista Pedro "Scooby" Vianna, mais madura e língua solta como nunca, a atriz foi entrevistada pela revista Trip e mostrou que continua disposta a dizer o que pensa da vida, a viver com intensidade e a responder à altura as provocações que lhe são endereçadas, mesmo que isso lhe traga consequências ou arrependimentos posteriores. Ela dá a entender que não tem medo do caminho mais difícil e que não está disposta a se transformar em um produto manipulável, como vem acontecendo com boa parte de seus pares no mundo midiático, artístico e televisivo, mesmo que isso lhe custe o rótulo de inconsequente.
Abaixo, alguns trechos da entrevista, e as fotos extras guardadas para a edição dos 25 anos da Trip, nas bancas desde o dia 16 de dezembro último.
"Eu te conheço há 15 anos e vejo uma mudança. dá a impressão de que você sacou que esse seu ímpeto precisa ser atenuado. A maturidade traz isso, você percebe que Às vezes é melhor engolir um sapo. dá para ver isso acontecendo em você, mas em dose menor do que em outras pessoas. Faz sentido?
Sim, faz sentido! O amadurecimento vem. Depois de todas as rasteiras você baixa a bola mesmo. Mas, ao mesmo tempo, eu acho que a batalha de trabalho que eu iniciei aos 14 anos faz com que eu tenha essa segurança do que eu sou e do que eu represento, o que eu posso conquistar com as ferramentas que Deus me deu e eu aperfeiçoei. A cada dia me valorizo mais, porque eu fiz escolhas que sempre foram muito diferentes das tradicionais. Sabe palavra cruzada, que você pode comprar a superdifícil ou a fácil? Eu sempre peguei a superdifícil. Eu podia estar fazendo novela, podia estar fazendo todas as campanhas do mundo, podia ter posado pra Playboy três vezes, eu podia estar com a minha ilha em Angra, andando de helicóptero, mas eu não quero! Quero que as pessoas me respeitem como ser humano, quero que elas entendam que os paparazzi não têm direito de me seguir e fazer da minha vida uma novela. Eu podia ter colocado um fio dental e ter dado três reboladas, mas não era isso que eu queria.
E por que você continua falando não pra Playboy, por exemplo?
Porque quero poder fazer um trabalho de exposição de corpo e de sensualidade, porém num patamar acima, sem ficar posando de quatro, sem ficar botando dedinho na boca, fazendo cara de “vem me pegar”. Quero fazer um trabalho mais artístico, mais atrelado à atitude, com a gargalhada, com o não fazer cara de nada, com o simplesmente estar ali. De novo, é a história de não escolher a cruzadinha fácil, e a Tripsempre optou pela cruzadinha muito difícil. No mês passado vi que tinha saído a edição sobre educação. Eu falei: “Cara, eu critico tanto a educação no Brasil, preciso devorar essa Trip”, para que eu tenha mais argumentos. Lembro de falar para o Pedro: “Olha por que a Trip é a Trip: todo mundo faz matéria sobre Enem, melhor escola, melhor faculdade... eles fizeram uma matéria com a pior escola do Brasil!”. Então é justamente você nadar contra a correnteza, e eu me identifico demais com esse movimento.
O novo ensaio que sai na revista em dezembro está maravilhoso, e é o quarto em 15 anos. Como dizia aquele comercial antigo, qual o seu segredo de beleza?
Adoro! Cara, eu acho que é a consciência. A consciência é o segredo de tudo, não só da beleza, é do bem-estar como um todo.
Como a gravidez mexe com isso?
Olha, o fato de eu estar grávida é um pouco complicado, porque eu sempre lidei com a beleza, com a boa forma física e tal. E você chega num momento em que vai engordar. Ao mesmo tempo, dentro de você existe um registro: “Não engorde”. Lembro de algumas vezes me olhar no espelho e pensar “gente, eu preciso emagrecer”, mas logo depois, “cara, tô maluca! Eu tô grávida!”. Vou, na melhor das hipóteses, engordar 10 kg. Cara, isso é uma vida, uma loucura! Mas faço análise, sou uma ótima condutora de mim. É uma questão de bom senso. Quando eu precisava emagrecer pra fazer Trip ou pra desfilar na escola de samba eu dava uma trabalhadinha.
O que é essa trabalhadinha?
É cortar o carboidrato à noite, só comer pão no café da manhã, comer pouco no almoço, viver de sopa, de carne.
Mas musculação, essas coisas...?
Ah, você dá uma trabalhada na musculação. Eu estou há sete anos com meu personal, mas agora nesta gravidez ele mal me viu porque estou trabalhando direto. Daí eu falei: “Em janeiro eu posso”. Ele respondeu: “Mas, pô, você vai começar a fazer musculação com sete meses de gravidez? Não indico, vai para uma hidroginástica mesmo, vai fazer caminhada”. Sempre fiz exercício físico, nunca existiu sedentarismo na minha vida.
Essa história de se sentir mais sensual na gravidez rolou com você?
Não. Tô me sentindo igual. E tem essa coisa de engordar, e como eu estou engordando sem malhar dá uma gelatinada no corpo, você se sente uma coisa meio “blaaumabalum”, meio malemolente. É baixo-astral, mas eu tô grávida, depois vai voltar tudo a ser como era, porque eu sou superdisciplinada.
Então teremos o ensaio Luana aos 40?
É engraçado que eu estava falando com a Dulce, que é a stylist do ensaio, e eu disse: “Este é o meu último”. E ela: “Que teu último nada! Imagina você com 40 anos! Aí mesmo é que você vai querer fazer”. Falei: “Será?”. O menino vai estar pequeno, ainda não vai ter tanta dor de cabeça, mas eu tô pensando no menino.
Então a dúvida é o dos 50, né?
Taí dona Bruna Lombardi que não nos deixa mentir... Aquela foto da perna dela com aquele músculo da bunda marcado... Eu fiquei invejosa, né?
Tem a história da libido da grávida, das alterações hormonais etc. nesse departamento do sexo mudou alguma coisa?
Cara, continua igual. Talvez até, pra contradizer todas as lendas, tenha baixado um pouco. Porque tem uma mudança hormonal, que às vezes é para um lado, às vezes é pro outro... Quando essa coisa forte vem, eu vou mordendo o Pedro, sabe? Mas eu não tô subindo pelas paredes, amor de manhã, de tarde e de noite. Porque eu acordo às sete da manhã, chego às nove da noite exausta! É tirar a maquiagem, tomar banho, comer a porra da proteína com a sopa, deitar e dormir. E ele também cansado. Mas é claro que a gente tem uma vida sexual deliciosa, eu não virei uma gravidinha parada, não!
Você acha que vai ser uma mãe meio louca, correndo atrás da cria, protegendo?
Eu acho que vou ser uma mãe meio louca, porque eu sou meio louca, no excelente sentido da palavra. E fui criada empinando pipa, na rua, brincando de esconde-esconde, com meninas e meninos, não tinha muito esse medo de coisas sexuais, não tinha essa coisa de bullying... Mas minha mãe sempre foi muito rígida com a gente no colégio, de a gente ter medo de ter uma nota vermelha. Se ela chegava do trabalho às oito da noite e eu falava que não tinha feito a lição, eu sabia que ia tomar uma sova. Então eu acho que vou ser uma mãe que vai deixar o filho solto, não vou superproteger, quero que ele suje a roupa, sabe? Mas também quero ser muito rígida, acho importante estabelecer os limites. Eu chamo minha mãe e meu pai de senhor e senhora até hoje.
(...)
Na sua última entrevista para a Trip, cinco anos atrás, você disse que ia dar uma parada com o chopinho e o cigarrinho. O que aconteceu de lá pra cá?
Cara, vou te dizer que, desde o dia em que eu tomei o meu primeiro chope, nunca deixei de tomar. E o cigarro virou mesmo meu hábito desde que passei por essa tragédia da agressão, ele foi muito minha muleta. E, de lá pra cá, eu me transformei numa fumante. As pessoas me falam: “Luana, como é que você faz dieta e não para de beber?”. Cara, eu não sei explicar... Mas, quando se engravida, gira uma chave dentro da gente, não tem explicação, não faz mais falta! Não vou dizer que nunca mais botei uma gota de álcool na boca. No meu aniversário, a gente estava em Los Angeles e eu tomei três taças de champanhe e uma cerveja. Mas eu fiz isso uma vez. Cigarro parece que eu nunca fumei na minha vida, não tenho a menor vontade de acender um.
Nos Estados Unidos a bebida é chamada de spirit, porque ela teria o poder de liberar o espírito. O que ela faz com você quando bebe?
A minha analista tenta entender muito isso, porque, ao mesmo tempo em que eu sempre gostei muito de beber, eu sempre me preocupei muito com isso. E, pelo fato de eu beber todo dia, sempre tive medo de me tornar alcoólatra. E a minha mãe é abstêmia, então tem uma culpa que vem de cima para baixo. A minha mãe acha que eu sou o ser humano mais bebum que existe! Quase um Pagodinho. Eu falava muito disso na minha análise, e ela pegava pesado, me perguntava: “Por que você tem que se dopar, se drogar?”. Porque eu acho que a vida a seco é muito chata, e a minha tem um peso ainda maior. Eu não sei o que é privacidade, como é bom estar no anonimato. Só quando você perde é que você sabe que teve. É muito incômodo ser observado 24 horas por dia. Você não pode tirar a calcinha da bunda, não pode coçar o seu nariz, não pode estar com o olho inchado porque o seu vô morreu. Porque tudo vira notícia, e as pessoas especulam. Então, porque seu vô morreu você foi demitida... É muito pesado. E eu me dopo pra não notar isso, pra brincar que eu não estou vendo. Se vou à praia, já vejo cinco caras correndo ao meu redor, e todas as pessoas que estão perto de mim se constrangem pela situação. Porque ainda tem isto: umas pessoas olham com curiosidade, e muitas com pena. Elas ficam constrangidas. E você tem que fingir que tá tudo bem.
(...)
Você gosta de brigar, né?
Eu sou filha da minha mãe, né? Mas não é brigar, brigar dá uma sensação pejorativa. Mas é brigar pelos seus direitos. A gente vive num país ainda muito novo, que ainda oferece pouquíssima educação para a sua população, o que faz com que ela tenha zero noção dos seus direitos como cidadã. Então qualquer pessoa que levante o dedo ou o tom de voz pra lutar pelos seus direitos é vista como briguenta, e eu sou essa pessoa. Eu me lembro, quando era pequena, da minha mãe comprando leite de caixinha, vinha uma caixinha com o leite estragado e ela se dava ao trabalho de voltar ao supermercado lá longe e reclamar.
Mas tem também um prazer pelo enfrentamento, não tem?
Teve as polêmicas no twitter, a história com o Profissão repórter... Teve, sim, justamente porque chegamos àquele lugar do meu direito como cidadã. Eu não tô aqui pra ser personagem do circo de ninguém. Quero e devo ser respeitada como ser humano, porque eu pago os meus impostos, conheço os meus direitos, cumpro com os meus deveres. Eu estava indo almoçar com o Pedro, e daí veio uma menina correndo na minha direção com mais dois. Então já teve aquele constrangimento, né? As pessoas te olhando, com pena, você fazendo cara de débil mental, fingindo que aquela porra toda não está acontecendo. Veio essa mulher com o microfone na mão, se apresentou, falou: “Oi, Luana, eu queria saber o que você acha dos paparazzi”. O Profissão repórter era sobre isso, o que eu só vim descobrir depois. Eu falei assim: “Eu não só não gosto deles, como não tenho nenhuma declaração a fazer sobre eles”. Continuei andando e fui almoçar. Na volta, o cinegrafista ligou a câmera e começou a me filmar, daí eu fui na direção dele e falei assim: “Isso é uma falta de respeito, essa imagem é minha e você não pode me filmar, eu já falei que não quero fazer parte dessa matéria”. Daí ele desligou a câmera e parou. Só que é óbvio que isso tudo foi usado. Agora, fazendo um paralelo, como é que você acha que eu me sinto trabalhando dentro dessa empresa?
É isso que eu ia perguntar. É a mesma casa em que você está trabalhando...
É uma loucura, me dá dor na boca do estômago.
Você reclamou?
Não, porque não adianta nada, porque aquilo ali é um lugar imenso, onde tem 75 mil coisas que acontecem ao mesmo tempo, 1 milhão de caciques pra 1 trilhão de índios. Enquanto eu conseguir trabalhar desse jeito – com eles, mas em paralelo –, é assim que eu vou levar a minha vida. Eu já entendi que não posso trabalhar em panelas que não são as minhas. Agora é muito triste, porque o que eu acho que eles deviam ter feito é não ter utilizado a minha imagem.
Você deu entrevista a um jornal alternativo falando que fumava maconha, e isso repercutiu com estrondo. Por que ainda é assim?
Porque os interesses econômicos em relação à legalização da maconha ainda não existem. Tudo nesse teatro social gira em torno de interesses políticos e econômicos.
Você parou de fumar maconha na gravidez?
Parei de fumar pra gravidez. Quando eu fiz Casseta e Planeta, perguntei pro Bussunda: “Bussunda, querido, o que você diz quando alguém pergunta sobre maconha, sobre droga?”. E ele disse, citando alguém que eu infelizmente não lembro quem: “Eu me tornei uma pessoa pública, não posso mais responder sobre esse tipo de coisa”. É estranho, porque com bebida não tem essa coisa. Me explica por que se pode beber nesta terra como se fosse a coisa mais incrível do mundo? Gente, o Edmundo matou três! Olha quanta gente morre. Eu, por exemplo, não dirijo, mas desde que se instalou a lei seca foi a maior felicidade! Eu só vejo meus amigos reclamando, e eu sou a mais feliz do mundo! Porque eu acho que, se você vai beber, você tem que ir de táxi! Todos os dias é só tragédia de bebum dirigindo. E parece que diante disso tá tudo bem.
Você faria a propaganda de cerveja?
Faria porque eu bebo! Na verdade, eu nunca quis fazer por uma posição minha. É aquilo: a gente vai amadurecendo e vai deixando um pouco de ser tão radical. Jamais faria essa propaganda óbvia de loirinha de biquinho rodeada por morenos de barba malfeita de balcão. Acho que tem que fazer uma mulher chegando ao balcão e falando: “Por favor, cê me vê uma gelada? Mas do cu da foca, tá?”. Daí ela olha pro lado, tem dois caras e ela vira e fala: “Vocês tão sozinhos? Tão precisando de companhia?”. Isso foi o que eu sempre fiz na minha vida. Por que a mulher ainda está nesse lugar de objeto sexual? O mundo mudou, as mulheres estão ganhando mais do que os homens já tem tempo! A gente tem uma presidente no poder! Por que a mulher precisa estar de calcinha e sutiã pra dizer que bateu o carro? Ainda se coloca a mulher nesse lugar pequeno...
Você acha que a Gisele posa de boba fazendo esse papel?
Eu acho que a Gisele tá cagando pra gente, amor. Tá com a conta gorda, não tá nem aí pro que as cucarachas do Brasil estão pensando. Ela tem um homem maravilhoso, um filho maravilhoso, uma mansão em Los Angeles maravilhosa...
Mas você não acha que a Gisele, que é uma das referências femininas no Brasil, tem uma responsabilidade sobre essa imagem que ela projeta?
Não. As pessoas acham que os artistas têm que ter essa responsabilidade. Mas eu não concordo. Temos a responsabilidade de sermos bons cidadãos, de cobrar dos políticos que a gente elege, de cuidar para que esse planeta sobreviva pros nossos netos. A gente não está aqui pra catequizar ninguém. As pessoas me questionam: “Ah, mas você faz a mulher invisível, que tá de calcinha e sutiã o tempo todo”. Mas eu não estou de Luana, eu estou contando uma história, uma fantasia, porque o personagem do Selton é casado, e muito bem casado, com uma mulher que ganha três vezes o que ele ganha. É completamente diferente. Eu não vendo uma coisa que eu não consumo. Eu não vendo sopa que te emagrece, eu não vendo remédio que te deixa bonita.
(...)
Você mencionou há pouco nossa presidente. Você está contente com a Dilma, com o que ela está fazendo?
Contente eu ainda estou longe de estar. Mas, por exemplo, esse bando de demissão que ela fez dos corruptos que estavam em volta, eu acho muito bom. O Lula não fez isso, né? Ele ficou brincando de estar com a venda sobre os olhos. E eu quero morrer de ódio disso. Eu já me sinto mais digna por ter uma mulher como ela que está fazendo isso.
Como foi o seu encontro com o Pedro?
Foi maravilhoso. A nossa história é hilária. Eu tinha acabado de terminar um relacionamento e decidi viajar no Carnaval. Falei: “Vou me picar para evitar possíveis dores de cabeça”. Porque eu conheço o Carnaval carioca e me conheço... Mas voltei de viagem um dia antes do desfile das campeãs e decidi ir. Organizei o bonde das solteiras... Éramos umas sete, oito meninas juntas. Nós ainda fizemos o videozinho do “All the Single Ladies”, todas animadíssimas, veio todo mundo se arrumar em casa... E fomos com tudo, bem cedo. Deu umas 11h30, pouquíssima gente no camarote e chega o Pedro sozinho. Ele deu de cara com a Veri e com a Nicole, duas amigas em comum. Ele já olhou pra mim e disse: “Nossa, você é mais bonita pessoalmente”. Daí eu pensei: “A noite hoje é minha! Cheguei não tem nem meia hora e já me dei bem”. Depois de uns 10, 15 min, eu chamei a Nic e falei: “Nic, você avisa esse menino que, se ele ficar aqui, eu vou abater!”. Ela não falou nada. Deu uma meia hora e ele disse pra Nic: “Olha só, eu vou agarrar essa mulher”. E ela também não veio me trazer o recado. Daí começou o show do Zeca Pagodinho, e eu: “Meu Deus, eu amo Zeca Pagodinho, eu quero dançar com ele, meu sonho é fazer uma propaganda com o Zeca”. Ele falou: “Duvido que você vá lá dançar com o Zeca”. E eu: “Coitado, você não me conhece mesmo, garoto”. Não deu 10 min, o Zeca olhou e disse: “Luana Piovani?”. E me botou no palco pra sambar. E eu olhei pro Pedro e falei: “Viu?”. Tipo, se fodeu. Depois de um tempo, a gente se cruzou numa rampa. Daí eu meti a mão no peito dele e disse: “Vem cá, você tava onde? Você sumiu”. Daí ele: “Opa, tipo, foi notada a minha ausência”. E, desde então, ele não saiu mais do lado, já botou a mãozinha na cintura e não sei o quê... e eu falava: “Guenta a van, que aqui não vai dar, espera a van”. Isso até virou um bordão entre a gente.
E na van vocês já se beijaram?
Já. E daí a gente nunca mais se separou. Depois de dois meses a gente estava morando junto e com três meses e meio eu fiquei grávida.
(...)
Você não ficou triste quando separou de seu ex-namorado Felipe Simão?
Olha, não fiquei. Tem umas coisas na minha vida que, apesar de parecerem ruins, são uma grande graça recebida. E eu aprendi isso, depois de tantos tropeços. Eu comecei a enxergar o que a vida estava querendo me dizer. Dessa vez ela me deu vários sinais que eu fiz questão de não ver. E aí a vida falou: “Bom, vou dar uma rasteira para ela acordar”. Então foi até um alívio, porque era um relacionamento muito difícil, era uma constante porradaria, insegurança, ciúme, pegação no pé. Até que você fala: “Caralho, por que ele não acredita em mim?”. Você se sente um criminoso preso injustamente.
Quando acontece esse tipo de coisa, você sofre?
No momento sofro e não tenho vergonha de dizer. Mas eu tenho essa faculdade, esse mestrado e esse doutorado, né? Eu não nasci para sofrer. A última vez em que eu sofri muito foi aos 27 anos. Foi quando o Marquinho Palmeira terminou comigo... Sofri uns 40 dias, aí falei: “Não tá dando, o que é isso, senhores e senhoras, com 27 anos na cara, com a vida toda organizada...”.
Por que ele terminou com você?
Porque ele é muito mais maduro e viu que nós nunca íamos dar certo, apesar de a gente se gostar muito. E hoje sei que para um relacionamento dar certo não basta o amor. Tem que ter afinidades mesmo, e nós não tínhamos. Eu tinha folga e queria ir pra Nova York, ele queria ir pra fazenda, cuidar da plantação orgânica dele. Aquela coisa bucólica não é pra mim.
Falando de fazenda, você me lembrou do Dado Dolabella (risos)
Sei, o outro defunto...
Foi uma fase em que você ficou muito exposta, se envolveu em umas situações erradas. O que aconteceu ali? Você estava meio cega?
Não sei. Se a gente partir do princípio de que o amor cega, sim, eu estava cega. Foi um período meio punk. No fim da minha segunda volta com ele rolaram vários boatos ruins, que têm a ver com a síndrome do pequeno poder da Globo. Neguinho te tacha como a estrela do ano porque você pediu um queijo de minas pra comer. As pessoas se aproveitaram desse momento frágil em que eu estava depois de ser agredida para pulverizar pequenas histórias. Saíram uns três boatos de que eu, em vez de agredida, tinha virado agressora! E isso nunca aconteceu. Então a sociedade marrom, que são as pessoas que vendem fofoca, resolveu fazer do meu momento frágil um circo, e me colocou de fera nele. Agora, a grande cagada foi eu ter voltado pra ele! Foi nesse momento que eu estava cega, porque a gente tinha se separado da primeira vez por conta de uma agressão física, não comigo. Ele agrediu a mãe dele, e a mãe dele me ligou falando isso. Aí minha mãe disse: “Mas ele agrediu a mãe dele, como é que você vai voltar?”. E eu passei por cima. Então esse foi o meu momento de cegueira.
Qual o seu lado que você menos gosta?
Ai, eu ainda tenho um lado de rancor dentro de mim, um rancor atrelado à crítica. Porque eu sempre fiz a cruzadinha muito difícil, eu sou crítica com quem escolheu a fácil. Eu não deixo de julgar as meninas do fio dental que rebolaram. Eu acho que podiam ter escolhido outra coisa. Podiam estar no meu time, me ajudando. E, quando eu vejo, estão lá. E é louco que as pessoas aplaudem, e daí eu fico puta da vida! Porque eu vejo que estou sozinha, né?
Se tivesse uma régua para medir sua carreira como atriz, em que estágio você acha que está, de 0 a 100?
Acho que eu tô no 70. Ainda preciso crescer muito, ainda me falta fazer os clássicos, mas já fui de A a Z. Depois que eu fiz o monólogo Pássaro da noite para 50 pessoas que me aplaudiam extasiados, eu faço Brecht, faço Shakespeare, faço qualquer coisa.
(...)"
Fonte: Revista Trip
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |