Nascem por dia no Brasil, frutos de uma gestação precoce, cerca de 23 bebês, filhos de mães pouco mais que meninas. Quase 9 mil partos entre adolescentes foram registrados em 2011. Uma juventude inteiramente perdida.
Na última sexta-feira (09/03), às 8h da manhã, M., uma adolescente de 17 anos, chega à Unidade de Saúde de Boa Vista, na Serra, município da Grande Vitória - ES. Ela veio trazer a filha de 1 mês e 6 dias para uma consulta de rotina com a pediatra.
A garota engravidou do namorado, de 19 anos, e teve que abandonar os estudos. Deixou de lado a boneca e os sonhos para cuidar da filha. Se pudesse voltar atrás, M. pensaria duas vezes.
- Eu tinha o sonho de ser médica. Tive que deixar isso de lado por causa da minha neném. Não me arrependo do que fiz, mas descobri que gravidez não é brincadeira, é coisa séria e deve ser encarada assim. Hoje estou madura para pensar dessa forma. Quando fiquei grávida, não tinha ideia - lamenta.
Na mesma sala de espera da unidade de saúde, C., outra menina mãe, conta sua história.
- Eu tenho 17 anos. Tenho uma bebê de um ano e três meses e estou grávida da minha segunda filha.
Ela explica que começou a namorar cedo, escondido dos pais.
- Eles não queriam que eu namorasse, por isso decidi arrumar um filho. Agora eles não podem falar mais nada. Vivo com meu namorado. Minha família me deixou de lado - diz a menina, que afirma não estar arrependida do que fez, já que a filha é a alegria de sua vida.
A médica pediatra Sylvia Bahiense tenta explicar estes comportamentos inconsequentes e rebeldes.
- Essas meninas acham que elas nunca vão ficar grávidas, não vão pegar uma doença sexualmente transmissível. Por isso, se entregam - afirma.
Ela trabalha há cerca de 10 anos com adolescentes grávidas e conta que as meninas estão começando a vida sexual cada vez mais cedo.
- Já conheci crianças com 10, 11 anos grávidas. São crianças carregando outras crianças - explica.
A Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo - Sesa registrou, em 2011, quase 9 mil partos entre crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. A cada dia nascem, pelo menos, 23 bebês de gestação precoce.
O numero de mulheres grávidas com idade entre 15 e 19 anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, de 1980 para cá aumentou em cerca de 15%, o que significa que 700 mil mulheres recém saídas da aolescência estão se tornando mães a cada ano no Brasil. Desse total, 1,3% são partos realizados em garotas de 10 a 14 anos, um fato que não deve preocupar apenas as famílias, mas a sociedade como um todo. Boa parte das crianças hoje geradas por outras crianças e adolescentes irresponsáveis, quando sobrevive, é jogada no mundo sem nenhum preparo ou estrutura. Sem outra alternativa, serão adotados pelo tráfico de drogas ou se transformarão em zumbis do crack.
Ainda de acordo com o IBGE, "quando uma adolescente engravida, geralmente ela se vê numa situação não planejada e até mesmo indesejada. Na maioria das vezes a gravidez na adolescência ocorre entre a primeira e a quinta relação sexual. E quando a jovem tem menos de 16 anos, por sua imaturidade física, funcional e emocional, crescem os riscos de complicações como o aborto espontâneo, parto prematuro, maior incidência de cesárea, ruptura dos tecidos da vagina durante o parto, dificuldades na amamentação e depressão. Por tudo isso, a maternidade antes dos 16 anos é desaconselhável.
O jovem casal deve ter em mente que um filho inesperado pode significar ter que rever seus projetos de vida, interromper os estudos ou cancelando planos futuros de vida profissional. Uma criança exige atenção, amor, dedicação, além dos cuidados físicos. Durante muito tempo ela será totalmente dependente dos pais, que deverão educá-la e contribuir para a formação de seu caráter".
Mas o problema não existe apenas no Brasil, e as complicações oriundas da gravidez e parto precoces são a causa mais comum da morte de adolescentes com idade entre 15 e 19 anos em todos os países pobres e em vias de desenvolvimento, onde as gestações precoces também representam um grande impacto nos sistemas de saúde por conta dos problemas sanitários que geram.
Este foi um dos temas recentemente discutidos pelo Comitê Executivo da Organização Mundial da Saúde - OMS, que se reuniu em Genebra, onde os países-membros buscam fórmulas para frear o elevado número de casos de gravidez precoce.
Os nascimentos de filhos de mães adolescentes representam 11% do total mundial, uma porcentagem que chega a 23% quando são contabilizadas as doenças e problemas de saúde derivados da gestação e do parto. Além disso, existe uma forte ligação entre a gravidez precoce e os abortos praticados em condições inapropriadas. Segundo dados de 2008, são praticados anualmente em jovens mulheres de entre 15 e 19 anos de países em desenvolvimento aproximadamente 3 milhões de abortos sem as condições médicas adequadas.
Mas os riscos não submetem apenas as gestantes adolescentes. Segundo a OMS, a gestação precoce também é perigosa para os bebês, cujas taxas de morte no parto, na primeira semana e no primeiro mês podem ser superiores em até 50% às registradas no parto de mulheres com idade entre 20 e 29 anos.
- Quanto mais jovem é a mãe, maior é o risco. As taxas de nascimentos prematuros, pouco peso ao nascer e asfixia do bebê são maiores entre os filhos das adolescentes. Todas estas condições aumentam a probabilidade de morte e de futuros problemas de saúde para o bebê - explica a Organização Mundial de Saúde - OMS.
No nosso caso, qual seria a explicação da gravidez precoce? As famílias estão falhando? O tema deveria ser mais discutido nas escolas? Os governos, em todos os níveis, deveriam buscar soluções efetivas para o problema? Qual a sua opinião?
Fonte: G1
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |