Foto: reprodução |
Louise Stephanie Garcia, uma australiana de 30 anos, que vive legalmente no Brasil há cerca de cinco anos, foi presa na última sexta-feira (14/02), em um salão de beleza da superquadra 115 Sul, em Brasília - DF, suspeita de racismo, depois de ofender duas funcionárias e uma cliente, além de desacatar o policial militar que a conduziu à delegacia de polícia e o agente responsável pelo registro da ocorrência, também negros. A mulher, que já foi detida anteriormente por dirigir sob o efeito de álcool, foi transferida no sábado (15/02) para a Penitenciária Feminina do Gama (Colmeia), já que a lei considera o crime inafiançável.
Segundo a polícia, a australiana foi presa por racismo e não por injúria racial por ter dito que não queria ser atendida por uma funcionária negra, que não ia executar o serviço a contento por ser de "raça ruim". Por isso, ela foi enquadrada por racismo, até porque se o delito fosse o de injúria, ela teria simplesmente assinado um termo de comparecimento à justiça e sairia livre da delegacia.
De acordo com testemunhas, Louise entrou no estabelecimento para fazer as unhas do pé e foi logo ofendendo a manicure, contratada pelo salão há uma semana, que não quis identificar por se sentir envergonhada.
- Ela chegou e perguntou se havia alguém que pudesse fazer o pé dela. A recepcionista disse que sim. Então ela sentou. Quando viu que seria eu, disse que não queria - lembra a manicure.
- Fiquei sem graça. Aí a menina disse que tinha então outra pessoa, e ela respondeu que podia ser a outra, porque ela era um pouco mais clara. Ela disse que eu era escura demais para fazer a unha dela - explicou a funcionária do salão.
Não satisfeita, Louise, alguns minutos depois, incomodada com a presença da manicure, pediu que se retirasse.
- Ela disse: "dá para você se retirar? Sua presença está me incomodando. Eu não quero que você fique perto de mim". Subi na hora, não conseguia parar de chorar - contou a jovem.
A proprietária do salão de beleza, Eliete Lima de Carvalho, que cuidava do cabelo de uma cliente, só percebeu o problema quando viu a manicure chorando no banheiro. Ela, então, foi até Louise e exigiu que se desculpasse.
- Ela disse que não ia se desculpar, que não tinha feito nada de errado. E aí começou a falar do trabalho da outra manicure, dizendo que ficou uma porcaria, que não ia pagar. Outra cliente, que é morena, ficou irritada e pediu para ela abaixar o tom, então ela disse "eu não sei por que essas pessoas de raça ruim insistem em falar comigo". Precisei segurar a menina, que queria bater nela - revelou Eliete.
A dona do salão de beleza, Eliete Lima de Carvalho (Foto: Raquel Morais/G1) |
A discussão evoluiu e Louise tentou fugir, o que não conseguiu porque a Polícia Militar, atendendo à solicitação da dona do salão, chegou logo depois. Foi quando Eliete pediu, mais uma vez, que a agressora se desculpasse e reconhecesse que errou, o que poderia fazer com que a situação fosse contornada.
- Ela disse que queria ver quem iria prendê-la por isso - disse a dona do salão de beleza, que indignada com o ocorrido, decidiu trabalhar com o cabelo o mais volumoso possível neste sábado.
- Não admito funcionário tratar mal cliente, nem cliente tratar mal funcionário. E não admito preconceito, de forma alguma. Ela me machucou profundamente. Agiu como se fosse melhor por não ser negra ou porque acha que ser manicure é ser inferior. Não aceito - finalizou Eliete.
Infelizmente, parece que Louise, a australiana racista, estava certa quando duvidou que ficaria presa por sua atitude. No fim de semana, a justiça do Distrito Federal concedeu-lhe uma ordem de habeas corpus e a colocou na rua. O que você acha de mais este triste episódio de discriminação racial? Deixe um comentário.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |