20 dezembro 2010

A implosão do cidadão contribuinte

Novecentos quilos de explosivos e apenas vinte segundos. Essa foi a receita necessária para jogar no chão a estrutura da Ala Sul do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho - HUCFF, que o carioca conhece melhor como Hospital do Fundão. O prédio de 13 andares foi erguido na década de 1950 e jamais teve concluída a sua construção. A implosão aconteceu precisamente às 7 hs deste domingo (19/12). 

Segundo Aloisio Teixeira, reitor do campus, a universidade sai ganhando com a construção de um novo hospital na área que ficará vaga após a remoção dos escombros.

- Estamos virando uma página de megalomania, de autoritarismo e criando condições para avançar na construção de uma universidade melhor. Um sistema público de atenção à saúde melhor. Este hospital que estamos prevendo será mais amigável, mais moderno, com mais recursos, significando melhorias para a universidade e para a saúde do Rio de Janeiro.

O hospital, projetado em 1951, deveria oferecer inicialmente 2 mil leitos à população, numa construção que ocuparia 220 mil m2. Mas em 1955, em razão de problemas na liberação de verbas, a obra foi paralisada, passando por uma reavaliação em 1963, ocasião em que alguns sinais de deterioração da estrutura em geral foram detectados. Além dos problemas estruturais, um relatório concluiu que a construção era um exagero, ficando resolvido que apenas a metade da estrutura seria utilizada.

Passados 47 anos, depois  do registro de vários abalos na estrutura, escoras foram colocadas em diversos pilares, e após uma nova avaliação, decidiu-se pela implosão do prédio (com 110 m2), dando um ponto final ao problema, até porque, na avaliação dos "técnicos", já não valia a pena fazer obras na "perna seca", como ficou conhecida a ala agora derrubada.

A história é a mesma de sempre. Alguém resolve construir alguma coisa em algum lugar, e depois outro alguém resolve que a coisa não devia ter sido construída, e a derruba. Exemplo do que se afirma está no Elevado da Perimetral, aqui mesmo no Rio de Janeiro. Parte da obra está sendo demolida porque o prefeito Eduardo Paes assim resolveu. É muito fácil brincar de construir e destruir quando a conta é paga pelo contribuinte, não é verdade?

No caso do Hospital do Fundão, por exemplo, quantas pessoas, principalmente da classe mais necessitada, deixaram de ser atendidas nesses 47 anos de jogo-de-empurra? E mais grave ainda, quantas morreram? Quem paga por isso?

Por outro lado, quem não liberou as verbas necessárias na ocasião, nem é preciso pensar muito, condenou a ala agora derrubada à morte, transformando-a em 120 mil toneladas de concreto e ferro retorcido, que precisa ser retirado, o que vai gerar novas despesas. Quem vai ser responsabilizado por mais esse assalto aos cofres públicos? Ah, mas um novo hospital será construído no lugar do que acaba de ser demolido! Que grande notícia! Não vou perguntar a quem será enviada a fatura da nova obra, porque essa resposta eu conheço: ela será emitida no meu, no seu, no nosso nome, amigo leitor! Mais uma vez, fato comum nesse país de desmandos, vamos pagar a conta da omissão e negligência de alguns. Esse é o sistema em vigor!

Agora assista à mágica que faz evaporar o dinheiro dos impostos que pagamos!



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin