28 setembro 2012

A ministra da esperança e o prefeito trapalhão

No voto que proferiu na sessão de ontem (27/09) no Supremo Tribunal Federal - STF, a ministra Cármen Lúcia condenou doze dos treze acusados no item sobre políticos que receberam dinheiro em troca de apoio ao governo do ex-presidente Lula no Congresso, absolvendo apenas Antônio Lamas, o que fez atendendo requerimento da Procuradoria Geral da República.

Cármen Lúcia aproveitou a ocasião para lamentar o profundo sentimento de "desencanto" pela política que hoje se abate sobre os brasileiros. Por isso, ela defendeu a necessidade de maior rigor por parte dos agentes públicos no cumprimento das leis.

- Meu voto não é desesperança na política, é a crença nela e na necessidade de que todos nós agentes públicos nos conduzamos com mais rigor no cumprimento das leis.


Admiro o posicionamento da ministra, mas confesso, já não acredito no tal "rigor no cumprimento das leis" por parte de nenhum agente público. E explico: a corrupção hoje instalada no país é tão grande e tem tantas ramificações que se opor a ela é quase impossível, e os maiores culpados por esse estado de coisas são o próprio Judiciário e o Legislativo: o primeiro, quando não se omite, é lerdo demais na aplicação da lei; e o segundo, via de regra, legisla no interesse próprio, nunca no interesse do cidadão, o que alimenta e encoraja a impunidade.

Querem mais um exemplo da lambança política verde e amarela?

O prefeito de João Pessoa, Luciano Agra, resolveu demitir o secretário de Transparência Pública, Alexandre Urquiza, envolvido em denúncias de nepotismo e fraude ao Bolsa Família, programa de inclusão social para pessoas carentes, onde ele incluiu a própria filha.



Valendo-se do Twitter, Agra enviou a seguinte mensagem a Urquiza: “Meu filho entregue mesmo o cargo antes que descubram o restante, Nonato acha que se as ações aparecerem será pior para todo mundo”. Minutos depois, a postagem foi deletada e outra foi remetida ao secretário: “Fique em silêncio que saberemos lhe recompensar”.

Agora, o prefeito assegura que não foi o autor da mensagem, alegando que seus equipamentos eletrônicos também são usados por assessores e que tudo está sendo feito com fins eleitoreiros.

Não tenho noção do que seja o "restante" ou porque se "as ações aparecerem será pior para todo mundo", mas a o afastamento de um secretário municipal com promessa de recompensa, só pode significar que debaixo desse angu tem caroço, não é verdade?

Como já frisei, este é apenas mais um pequeno exemplo da sujeira política que tomou conta no nosso país. A corrupção ganhou proporções tão absurdas que já não assusta ou surpreende as pessoas. Ela já é parte do nosso cotidiano. Logo, como ter esperanças? Votar em quem, se os poucos que não se corrompem calam-se diante dos corruptores? Como acreditar no fim da impunidade, se a lei é feita para proteger o bandido, mas principalmente o bandido político? Diante desse quadro, acreditar em quem, quando e por quê?





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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