03 março 2011

Talvez amar seja isso...

A separação de um casal, coisa comum de uns anos para cá, na maioria das vezes gera infindáveis discussões. A questão financeira, que engloba divisão de patrimônio e pensões porventura discutidas entre as partes (o homem também pode exigir esse benefício da mulher), é sempre muito complicada e difícil de resolver. Mas o mais grave na separação, não duvidem, é a questão dos filhos.

Essa não é a opinião de um advogado, mas de um sujeito que já enfrentou o problema, e pelos erros cometidos, ainda é cobrado até hoje, 30 anos depois.

A discussão sobre a guarda dos filhos menores gera, não raro, situações dolorosas para todos os envolvidos, com conseqüências imprevisíveis para as crianças, quase sempre disputadas como verdadeiros troféus por adultos incapazes de compreender o mal que a intolerância e a vaidade de suas atitudes podem causar no futuro ao pequeno ser que lhes cabe proteger, educar e encaminhar para a vida.

As mágoas pelo desfazimento da vida conjugal, as marcas ficadas por desentendimentos e possíveis agressões, aliadas a uma justiça que não funciona, ao menos na velocidade que questões como essa exigem, mergulham a criança num turbilhão de incertezas e insegurança, plantando em seu íntimo, ainda em formação, uma infinidade de sentimentos desencontrados, que podem gerar revolta, agressividade e até sugerir o perigoso caminho das drogas.

Homens e mulheres precisam entender que seus relacionamentos podem ter fim, mas os filhos nada têm a ver com isso, e filhos que são, devem continuar merecendo o carinho, a atenção, o cuidado e o apoio moral e financeiro de ambos, até que eles possam caminhar com as próprias pernas. Outras mulheres, outros homens, outra vida, não podem apagar a relação de sangue escrita com amor e infelizmente desfeita pelo destino. Pior que isso, ex-parceiros não podem colocar os seus instintos acima dos interesses da criança ainda em desenvolvimento intelectual. Se a separação é inevitável (até porque algumas não são), tudo deve ser feito para que a convivência entre pais e filhos seja a melhor possível, sem traumas, agressões e principalmente, sem disputas por um carinho que deve ser compartilhado, para o bem da própria criança.

Lançado em 1978, o filme Kramer x Kramer, estrelado por Dustin Hoffman e Meryl Streep, que levou o Oscar como melhor atriz-coadjuvante, tem um final surpreendente. No último monólogo, depois de uma ferrenha batalha judicial, a personagem Joanna (Streep) abre mão da guarda do filho Billy (Justin Henry) em favor do ex-marido Ted (Hoffman):

- Essa é a coisa mais difícil que já tive de fazer... Mas o que conta é o que é melhor para Billy. Talvez amar seja isso... Ted, acho que Billy tem que ficar com você. Ele é seu.

A teoria, na prática, é outra coisa, isso todo mundo sabe. O bom-senso, os bons sentimentos e a tolerância nem sempre são possíveis na hora em que “o circo pega fogo”. Você vai dizer que o filme é o filme, e a vida é a vida, com o que eu concordo. Mas será que “perder” em nome do bem estar e segurança dos filhos é tão difícil assim? “Talvez amar seja isso”, não é verdade?


Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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14 comentários:

  1. Carlos, quando crescer quero escrever como você!
    Ótimo post, de muito bom senso, e é esse o problema, e o bom senso é justamnete a questão.
    É o que nos falta quando temos que enfrentar a separação que é sempre cercada por paixões que não o amor. E a criança sofre, lhe dói, por mais que ela não seja capaz de entender o que se passa a criança tem uma capacidade imensa de 'sentir' as situações, e talvez por causa disso esse processo pelo qual os pais, não, a familia toda passa se torna extremamente traumático. Normalmente nos concentramos tanto no que sentimos que deixamos de pensar no que a criança sente, e só vamos nos tocar do que fizemos, ainda que sem querer, com o mal feito.
    GRANDE abraço meu amigo,

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  2. Obrigado, Ademar!

    Seu comentário veio complementar o raciocínio utilizado na postagem. Geralmente, nesses momentos, a mágoa ou a paixão falam mais alto que a razão, o que não pode acontecer, pois quem paga por isso são as crianças.

    Um grande abraço...

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  3. Ola Carlos .Parabens ,pela escolha e um assunto que mexe ate hj com muitos casais que nao dao sorte no casamento. pobre sao as crianças que nw tem culpa de seus pais se separarem ,o sofrimento e grande,e pior quando um irmao tem que se separar do outro ...abraços

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  4. É verdade, Lia!

    O ideal seria que os casais nunca separassem. Aliás, quando eu era menino (há poucos atrás, rsrsrs) imaginava que o amor fosse pra sempre. Que tolice, não!

    Mas o pior é que quando ele termina, homens e mulheres, na maioria das vezes, tornam-se inimigos, e os filhos pagam a conta, o que é lamentável.

    Um grande abraço...

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  5. Que belo artigo, real, na hora da emoção, raiva, muitos deixam de usar a razão ,isso é muito negativo para todos,principalmente para os filhos.
    Abraço.

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  6. É isso aí, Fatima!

    Os dramas criados pelos adultos não podem prejudicar as crianças. É preciso ter consciência e bom-senso, evitando, inclusive, a intervenção do Estado.

    Um abração...

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  7. Existe mais prazer em amar do que em ser amado.

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  8. Olá Roberto!
    Eu não me lembro se assisti o filme - fiquei curiosa.Contudo já passei por situação semelhante,quando me separei de meu marido e meus 3 filhos meninos,adolescentes. Eu estava voltando à estudar e começava a trabalhar com terapia corporal e resolvi fazer Psicologia. Nos separamos, eu e meu marido e, simplesmente fui eu que fiz a mala e fui embora. Conversei com meus meninos e lhes perguntei( um a um, em separado) com quem queriam ficar.
    Um filho me disse que sabia que eu sempre estaria com eles,mas temia que o pai,ficando sozinho, fosse embora de volta para o Rio (é carioca,como você) e não voltasse mais.
    O do meio me disse que, "do jeito que eu era"( eu não queria brigar pelos bens e deixei tudo para ele), eu não teria condições de sustentar os 3 e continuar com meus estudos, e ainda pagar os cursos que ele queria fazer por sua carreira. Ele achava que não teria como sustentá-los com um trabalho em que mal começara.
    E, para o 3º filho, o mais novo, confesso que nem perguntei porque não queria, então afastá-lo dos irmãos. Eu os deixei com o pai ( e ia visitá-los todos os dias,e cuidar de suas coisas por um tempo...). Meu marido pagava o meu aluguel e ajudava com uma pequena pensão e eu trabalhava.
    Foi difícil enfrentar amigos e sociedade,pois naquele tempo eram as mulheres que ficavam com tudo. E eu, poucos amigos tinha, e nem queria outro homem na minha vida! Bem, depois de um ano, voltamos a namorar e voltei para tudo e todos..rs.... Realmente posso lhe dizer por experiência, que ceder em benefício dos filhos, nem sempre pode ser compreendido, mas sempre que o fizermos por amor, levando em conta a realidade da situação, é dolorido ( eu pensava que meus braços já não tinham função se não podiam abraça-los todos os dias), mas no meu caso - ceder, foi ganhar.
    Talvez, com este meu comentário, a Sissym entenda melhor os conselhos que dei a ela...não foram da boca pra fora, foi por convicção pessoal.
    Como sempre, você trouxe um tema importante para ser refletido por quem pensa que a vida é fácil, e tudo se justifica se fizermos o que achamos certo, lutando para que nos respeitem e pensando em ser feliz. É preciso ter responsabilidade também, porque nossas atitudes influenciam na vida dos que estão ao redor, e filhos são pra sempre..
    Abraço, Vera.

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  9. Vera:

    Se fosse possível ler o seu comentário antes da postagem, não tenho dúvidas de que o meu texto teria ficado infinitamente melhor, com muito mais conteúdo.

    O exemplo que você passa é muito importante. Algumas separações são irremediáveis, porque as feridas são muito grandes e já não podem ser curadas. Mas há casos de pura precipitação e injustificável intolerância, o que poderia ser superado com um pouco mais de bom-senso e sentido de família, mas principalmente amor aos filhos. Concordo com você: quem pensa que a vida é fácil engana-se redondamente, e em muitos casos, todos ganhariam se cedessem um pouco!

    O caso da Sissym me parece mais sério, até porque uma batalha judicial se arrasta há muito tempo, e isso machuca demais os dois lados. Só não consigo entender como alguém pode querer separar um filho de sua mãe, principalmente uma menina. Tenho certeza de que a Sissym sofre muito com isso. Mas também no caso dela, não acho o diálogo impossível. Aliás, esse seria o melhor caminho diante da morosidade e insensibilidade da justiça.

    Um grande abraço...

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  10. Na audiencia deste dia 01° ele foi chamado a atenção, duramente, por ter impedido que mãe e filha tivessem contato. Mas acima de tudo, por uma atitude que tomou sem "voce por acaso, por um segundo sequer, pensou no motivo dela?" "voce por acaso, por um segundo sequer, pensou em contata-la para falar?"... não vou entrar em detalhes do que ele fez de tão sério, mas não foi correto.

    Eu, eu Simone, eu abri mão da guarda dela. No dia anterior soube que está tomando um medicamento forte para fins neurológicos. Eu sabia que se ficasse ali atrás do que eu tenho por direito, ficar com ela, por causa de uma pensão que ele tem condições plenas de pagar, minha amada filha cada vez mais adoeceria... e eu a tive por amor.

    A adv dele saiu da vara dizendo "ganhamos". Ganharam?! O que?! Primeiro eu abri mão, depois, por amor, exclusivo amor, eu só a verei nos finais de semana e poucas horas numa quarta feira (escolha minha tambem). Em frações de segundo pensei em tantas coisas, não a queria pegando transito diariamente, casa x escola x casa, porque estou me mudando, visto que até a casa da gente ele está tirando. Ele ficou com tudo.

    Sabem por que?! Por que a justiça é lenta.

    E voces acham que ele parou, que ele vai parar?! N Ã O !!! Dois dias depois já estava fazendo a menina me telefonar pedindo não ficar todos os dias do Carnaval comigo. Que coisa! Ela está ótima ao meu lado! E ainda disse que foram eles que pediram isso!

    O inferno parece não ter fim. Nem mesmo para ela.

    Simone

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  11. Minha querida Simone:

    Eu tenho a cópia da assentada (da ata) da sua audiência, pois como já lhe disse, o número de seu processo está cadastrado no sistema de busca que utilizo.

    É muito difícil, eu diria até impossível, dizer aqui o você, de repente, está precisando ouvir. Só quero que saibas que na minha opinião você foi muito digna, muito mulher, muito mãe, muito amor pela sua filha. Você não perdeu, como teria sugerido a advogada de seu marido. Nesse tipo de batalha não há vencedores, mas vencidos, e alguns seriamente feridos, o que poderia ser o caso da pequena Laura se você não tomasse a atitude que tomou. Você foi muito mais “homem” do que o pai dela.

    Além disso, a guarda compartilhada, o nome já diz, permite que os pais tenham a posse dos filhos de forma igualitária, idêntica, sem favores pra qualquer dos dois. A única vantagem que ele levou é ter a menina residindo com ele. Se a justiça tivesse mais interesse e rapidez na solução desses conflitos, os resultados poderiam ser diferentes, mas isso é outra longa e triste história...

    Mas não sofra por isso, nem se sinta derrotada. Sua ligação com a Laurinha, você sabe muito bem, vem de dentro de você, e isso nada nem ninguém jamais poderá mudar! O “inferno” referido por você vai ter fim, acredite! Daqui a pouco ela mesma vai decidir com quem quer ficar, e tenho certeza, as duas ainda vão se curtir muito, porque você merece que a vida lhe faça esse agrado.

    Um grande abraço...

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  12. E eu, daqui, nas estradas desta roça de gente miúda, vejo nas separações, muitas mulheres que deixam seus filhos com o pai, porque ELA não tem emprego, ou o que dar de comer, e saem pelo mundo, montadas nas carrocerias de caminhões para trabalhar no carvão, ou no banco detrás de um carro pra ser doméstica em Brasília.

    Voltam anos depois, o marido já fez outra família, as crianças já cresceram. Entre ela e os filhos, há uma espécie de entendimento, reconhecimento, sei lá. Eles se ajeitam, se reconhecem e se aceitam, na grande maioria das vezes.

    Noto que a naturalidade em ver os fatos como são, simplifica a coisa toda. Porque não há sentimento de culpa, de posse ou de poder. É sim um jeito de amar. Talvez o mais doloroso de todos. Feito a história de Salomão...

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  13. Conheço histórias desse tipo, Valéria!

    Não sei como explicar, mas nesses casos as pessoas mais simples parecem se entender melhor, com as exceções que toda regra comporta, claro! Talvez até pela necessidade de sobreviver.

    Na maior parte das vezes os homens abandonam as mulheres, deixando os filhos, e aí a briga é por pensão.

    O ideal seria que tudo acontecesse normalmente. Se a vida em comum não mais é possível, homens e mulheres deveriam buscar, pelo menos, uma convivência pacífica, para não causar danos aos filhos, até porque quando eles adquirem mais idade a decisão é deles próprios. Eles, os filhos, têm o direito de escolher com quem ficar.

    Um abração...

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