17 outubro 2013

Conar diz que campanha publicitária exibe criança em poses erotizadas

Foto: reprodução

O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária - CONAR, órgão que recebe denúncias de consumidores, autoridades e anunciantes, além de regulamentar a prática da propaganda com base no Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, informou ter recebido 70 notificações contra uma campanha para o Dia das Crianças promovida pela Courofino, uma empresa cearense fabricante de bolsas e sapatos, o que resultou na abertura de um processo. As três peças publicitárias mostram uma menina maquiada, usando objetos de adultos e em poses que, segundo o CONAR, foram erotizadas. A campanha foi veiculada nas redes sociais e em banners nas lojas físicas no dia 12 de outubro, a partir de quando surgiram as críticas.

Entre os críticos da campanha estão especialistas e publicitários, para quem as peças ferem o código no que se refere à utilização das imagens de crianças e adolescentes na publicidade, cujo artigo 37, parágrafo 1º, determina que “crianças e adolescentes não deverão figurar como modelos publicitários em anúncio que promova o consumo de quaisquer bens e serviços incompatíveis com sua condição, tais como armas de fogo, bebidas alcoólicas, cigarros, fogos de artifício e loterias, e todos os demais igualmente afetados por restrição legal”.

Além disso, segundo Inês Vitorino, coordenadora do Grupo de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia - GRIM, da Universidade Federal do Ceará - UFC, a campanha desrespeita não só o código da publicidade, mas também o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA.

- É uma campanha extremamente de mau gosto e desrespeitosa em relação às crianças. Para começar, a criança não é o foco da campanha. A marca é para o consumo de adultos e coloca a criança extremamente erotizada, em uma situação absolutamente desnecessária. Além disso, fere o ECA porque coloca a criança em situação vexatória, de calcinha, se maquiando, dentro de uma sociedade com tantos casos de pedofilia e abuso sexual - afirmou a pesquisadora.

Em nota, a Courofino informou que as peças e o banner publicitário divulgados na página oficial da empresa em uma rede social tinha o objetivo de "homenagear uma data tão importante no cenário nacional" e que houve uma "interpretação distorcida da real intenção da empresa" que era de mostrar a brincadeira de uma criança com os pertences da mãe.

A empresa também afirmou que não teve a intenção de erotizar a infância e informou que já retirou o material publicitário de circulação. A marca ainda pediu aos usuários das redes sociais que não compartilhe a imagem ou que excluam das páginas para diminuir os "efeitos negativos causados pela má interpretação da campanha".

A mãe da menina que aparece na campanha disse ter ficado surpresa com a repercussão do caso.

- Fizeram uma tempestade em copo d'água. Minha filha não merecia passar por isso - afirma, pedindo para não ser identificada.

Ela disse ainda que acompanhou todas as fotos da filha e que não viu erotização no resultado.

- Levei roupas dela para o ensaio, mas sugeriram que ela fizesse só de calcinha para dar um ar mais infantil às fotos. Eu concordei - garantiu a mulher, esclarecendo que a criança não faz trabalhos como modelo e que as imagens foram cedidas gratuitamente.

- Aceitei porque sou amiga de pessoas da empresa. É a primeira vez que minha filha faz fotos para publicidade. Nem gosto disso. Antes disso, já tinha recebido várias convites. Aceitei mais por uma brincadeira - afirmou.

No caso da campanha publicitária da Courofino, a opinião é minha, a erotização está nos olhos e na interpretação de quem vê as imagens. Bebês meninas, vestindo fraldas ou calcinhas e tentando se equilibrar sobre os sapatos da mãe ou fingindo usar seu batom e óculos escuros, e bebês meninos, de sunguinha e usando a gravata do pai, sempre foram atitudes naturais e até mesmo divertidas, o que vem se modificando na era do politicamente correto.

Acho que as autoridades deveriam se preocupar, sim, é com a prostituição infantil que se alastra pelas regiões mais pobres do país, onde cerca de 250 mil crianças (os dados são da UNICEF), principalmente meninas, vendem o corpo para manter-se a si própria e às suas famílias, situação que constrange o Brasil aqui e no exterior, além de alimentar o mercado da prostituição.





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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