19 maio 2014

Pastor evangélico sobe no salto e vira drag queen

Marcos Lord na pele de Luandha Perón (foto: reprodução)

Em sua última postagem, o Dando Pitacos falou sobre uma decisão da Justiça Federal do Rio de Janeiro que, acredite você, não reconhece as manifestações afro-brasileiras como religiões porque, segundo o magistrado que a proferiu, elas "não contêm os traços necessários de uma religião", primeiro, "pela ausência de um texto-base", como a Bíblia, por exemplo, e de uma estrutura hierárquica ou um "um Deus a ser venerado", discussão surgida depois da postagem no YouTube de vários vídeos considerados ofensivos à umbanda e ao candomblé, supostamente feita por grupos evangélicos, que agora devem estar amaldiçoando Marcos Lord, líder pastoral que também atende pelo nome Luandha Perón, uma drag queen que sobe no salto para pregar sua religião.

Evangélico de berço, Marcos ou Luandha Perón, como é conhecido entre os íntimos, é professor da rede pública há sete anos, em Duque de Caxias, e demonstra sua crença religiosa com uma devoção para fiel nenhum botar defeito, mesmo depois de tudo o que passou a partir do momento em que revelou sua homossexualidade, aos 26 anos.  A única opção para não abandonar a fé foi entrar na Igreja da Comunidade Metropolitana - ICM, ramo evangélico conhecido por ter a maior parte dos fiéis integrantes da comunidade LGBT, e que se tornou o cenário propício para o nascimento de Luandha - “uma subversão, uma exaltação do feminino”, como explica o próprio pastor.

- Quando o Marcos está no trabalho, Luandha fica guardadinha ali no lugarzinho dela, como um gênio na garrafa - afirma o professor do 3º ano do ensino fundamental, cujos alunos não sabem da existência da personagem.

Como é feita a pregação de um gay em um ambiente de preceitos evangélicos cujos frequentadores levantam bandeiras contra a homossexualidade? Marcos explica que sua igreja é considerada inclusiva, o que para ele é uma expressão redundante, já que todas as igrejas deveriam ser inclusivas. O pastor prega a liberdade como “o maior presente de Cristo” e acredita que “o essencial é o amor e a mensagem que a palavra de Deus transmite”. Para ele, a questão está no que ainda pode ser considerado sacrilégio ou não a partir das antigas escrituras.

- Se você for ler a Bíblia ao pé da letra, terá muitos problemas. Ela fala sobre escravidão, que você tem direito a ter um irmão escravo seu por sete anos. Ela diz que você não tem direito de comer carne de porco. Mas quem vai abrir mão de comer o seu presunto e o seu pernil? Se nós mantivéssemos a mesma visão que sempre tivemos da religião evangélica, a mulher estaria até hoje calada - argumenta o pastor, acrescentando:

- Eu não posso simplesmente pegar a Carta aos Romanos e lê-la como se ela tivesse sido escrita para os brasileiros do século XXI. A Carta aos Romanos foi escrita para os cristãos de Roma, daquele período histórico, do primeiro século. Então eu não posso achar que ela é válida para hoje. Mas eu posso tentar pegar alguns ensinamentos que estão ali e achar novos significados para os dias de hoje? Posso. Assim como pego os ensinamentos da minha avó e tento trazer para minha vida até hoje. Mas isso não quer dizer que eu não vá pedir manga com leite numa lanchonete porque ela disse uma vez, lá atrás, que faz mal.

E agora? Será que alguém vai recorrer ao Judiciário para impedir a pregação de Marcos Lord? Ou vão tentar demonizá-lo no YouTube? O que você pensa dessa história? Deixe o seu comentário.





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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