30 março 2009

ZÉ MERENDA E ZÉ SARNEY

Qualquer semelhança entre os personagens dessa postagem é mera coincidência, pois eles se parecem apenas nos nomes. Será?


O primeiro “ZÉ”, o da “MERENDA”, um tropeiro analfabeto, aplaudido por alunos e pais, é o herói da educação em CAVALCANTE, que é maior que o DISTRITO FEDERAL e considerado um dos municípios mais pobres do interior de GOIÁS – GO. A história, mostrada ontem no FANTÁSTICO, se você prestar atenção, chega a emocionar!


“Eu não como antes de vir para a escola”, diz um menino, esperando a hora da merenda. Segundo a secretária da escola, ANA CRISTINA ANDRADE, a meninada só aparece “para comer a merenda mesmo”. Na “terça-feira tem galinhada, quarta-feira, sopa de legumes e na quinta-feira, canjica com coco”, explica a merendeira. E prestem muita atenção num detalhe: “Cada aluno tem direito a uma gramagem: 30 gramas ou 40 gramas, dependendo do que for servido”, afirma a professora MONIQUE GOMES DA SILVA. O dinheiro da merenda, segundo a reportagem, “vem contadinho do Ministério da Educação: R$ 0,22 por aluno por dia. O resto é problema do município”!


É a funcionária pública MARIA EVANGELHA DA SILVA, coordenadora da merenda escolar, quem cuida pessoalmente dos sacos de alimentos que são enviados às escolas. Cada saco de arroz, feijão, açúcar e macarrão dá, em média, para 20 (vinte) dias. Os alimentos são levados pela equipe da Secretaria de Educação para a região KALUNGA, onde se localizam os descendentes dos escravos fugidos de GOIÁS – GO. A caminhonete vai até onde a estrada termina e entra no cerrado, mas de um determinado ponto em diante nenhum carro passa.


E o “ZÉ MERENDA”? Calma, minha gente! É aqui que ele entra em cena!


É exatamente ali, depois do fim da estrada, no meio do cerrado, que o tropeiro JOSÉ PEREIRA DAS VIRGENS espera. É ele quem entrega a merenda das crianças!


“Faço isso tem uns cinco anos já. As crianças estão alegres. Elas querem ver a merenda chegar. Aí já me apelidaram de Zé Merenda”, comenta em sua simplicidade o tropeiro, que na caminhada enfrenta as intempéries da natureza, depois de acomodar os mantimentos nas bruacas de couro ou amarrando os sacos no lombo dos burros. Ele sabe que a criançada o espera com ansiedade!


“Às vezes, eles saem em horas que não tem comida para eles, e quando chegam na escola estão com fome já. Chega o recreio, eles vão e pegam um lanchezinho e aí eles se sentem mais fortes. Não estando chovendo, não tendo cheia de rio, com três dias dá para fazer o trabalho. O tempo hoje está meio esquisito. Está perigando dar uma chuvinha mais tarde”, diz o nosso querido “ZÉ MERENDA” olhando para o céu. A chuva até caiu, mas ele, o “ZÉ MERENDA”, consciente de sua responsabilidade, tocou a tropa e foi em frente, varando o pedaço de Brasil sem estradas, sem eletricidade, sem telefone e quase sem contato com o restante do mundo. O único elo é a tropa do “ZÉ MERENDA”. Segundo a reportagem do FANTÁSTICO, “é ela quem traz notícias, remédios, mercadorias e, claro, a merenda, o principal argumento para manter na escola as crianças da região mais pobre do estado de Goiás”.


Mas e a escola, é bem instalada, confortável? Infelizmente, não!


A escola é uma choupana onde dois professores dão aula ao mesmo tempo, no mesmo espaço! As carteiras não têm assento, o quadro é retalhado, e o pior para a garotada: às vezes não tem merenda!


Mas hoje eles terão uma agradável surpresa! O nosso anjo “ZÉ MERENDA” esteve ontem no colégio, e segundo a reportagem, “o arroz doce já está fumegando no fogão”.


Não vou esconder de ninguém: o nó na garganta apertou e eu chorei! Sem problemas! Eu tava sozinho no escritório! Chorei de raiva! Chorei pelo enorme sentimento de impotência! Chorei pela maldita desigualdade que varre de ponta a ponta esse país tão rico!


Passada a emoção, lembrei-me do outro “ZÉ”, o “ZÉ SARNEY”! Ele também participa da distribuição de merenda, só que no Senado! E igualzinho ao nosso “ZÉ MERENDA”, não se iludam, ele também tem uma tropa (de elite, diria eu!), formada por HERÁCLITO FORTES, RENAN CALHEIROS, MICHEL TEMER, FERNANDO COLLOR, entre outros. Esse time, como todos os que o sucederam, é responsável pelos últimos e vergonhosos acontecimentos que a mídia nos tem mostrado. Essa tropa, mais a do outro “ZÉ”, o DIRCEU, que tem na linha de frente tipos como MARCOS VALÉRIO e DELÚBIO SOARES, ajudou, por ação ou omissão, a desviar milhões de reais do dinheiro do contribuinte. É dinheiro para o mensalão que financiou campanhas políticas; é dinheiro para pagar horas extras não trabalhadas por funcionários do Parlamento; dinheiro para as passagens aéreas dos amigos e parentes de parlamentares; dinheiro para o pagamento de salários absurdos a “diretores virtuais” do Senado; dinheiro para pagamento de parentes enfiados na Casa através de empresas terceirizadas, certamente criadas com essa única finalidade, enfim, uma verdadeira orgia com o meu, o seu, o nosso dinheiro!


E o EDMAR MOREIRA (DEM-MG), o deputado do castelo? E o AGACIEL MAIA, o da mansão não declarada à Receita Federal, que transformou o Senado em uma máquina multiplicadora de cargos?


Deu vontade de chorar novamente, mas de raiva, por não poder enfiar na cadeia essa corja de malfeitores!!!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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3 comentários:

  1. Achei que você só se interessasse pelos problemas que envolvem o meio ambiente mas estou vendo que também entende de política.

    Você traçou de forma correta a linha que faz a diferença entre os protagonistas do seu texto: O tropeiro e o senador. Um é herói, o outro bandido, e como você diz, devia estar na cadeia, com toda a sua tropa (de elite).

    Parabéns pelo blog. Estou enviando o endereço para as amigas.-

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  2. Realmente, chorar de raiva é a única coisa que se pode fazer. Esperar que esta quadrilha seja presa é mera e grande utopia. Infelizmente o que não falta na classe política brasileira é "ZÉ MERENDA".

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  3. Também chorei com a reportagem do Zé Merenda.foi emocionante e ao mesmo tempo senti vergonha do país em que vivo,a disparidade não tem tamanho,quanto aos outros Zés,meu Deus,se for pensar,choraríamos diariamente...
    Bando de egocêntricos.
    Gostaria de poder ajudar a turma do Zé Merenda,por favor,me ajude.
    catia.americo@gmail.com

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