Ouvimos muito falar na banalização da violência. Já assisti a diversos debates sobre a necessidade de serem mostrados tantos casos de violência na mídia.
Se nos orientássemos pela lógica, o número de casos de assaltos, seqüestros, mortes, corrupção ativa e tantos outros crimes já seriam o suficiente para a população se revoltar e pedir providências.
Entretanto, o que acontece no Brasil é justamente o oposto. O brasileiro se acostuma com o caos e passa a achar que a vida é assim mesmo, que não adianta fazer nada.
Ora, se o lado negativo da sociedade não pode ser tirado da mídia, então porque não inundá-la, na mesma proporção, com notícias boas? Porque não mostrar reportagens sobre pessoas que fazem alguma coisa em prol do outro, da sociedade, do meio ambiente, dos animais? Tirando um quadro apresentado no RJTV de sábado, do tipo “gente que faz”, não há mais nada.
Carlos colocou no perfil do Orkut uma frase que diz que o mal só prolifera por causa da omissão dos bons. E é isso mesmo. Normalmente achamos que só os muito ricos podem fazer algo, quando o que realmente melhoraria o mundo seria um pouco mais de ética e solidariedade na nossa postura no dia-a-dia.
Então, como este blog tem aberto espaço para postagens diversas, quero hoje contar um fato acontecido no dia de hoje, para quebrar um pouco essa descrença na raça humana.
Entrei numa loja especializada em essências e perfumes para comprar fixador de perfume. Faço isso há anos, pois sempre ouvi dizer que perfumes cujo aroma logo desaparece têm pouco fixador.
Peguei 3 vidrinhos de fixador e já estava pronta para pagar quando a dona da loja me perguntou para que eu precisava de fixador. Expliquei que era para reforçar a duração do perfume. Foi então que ela me deu uma aula.
Para os interessados em perfume, vou resumi-la aqui.
O fixador não fixa o perfume na pele. A finalidade do fixador é aglutinar a essência ao álcool de cereal, reduzindo o período de maturação do perfume. Se um perfume é fraco, é porque a essência é fraca ou está em pouca quantidade. Como o fixador é oleoso, temos a impressão que ele vai manter o perfume, quando na verdade ele apenas propicia uma reação química.
Conclusão: não comprei os vidrinhos de fixador.
Agora amigos, pensem, quantos comerciantes vocês conhecem que perdem uma venda (e as futuras outras vendas de fixador para mim) por questão de honestidade e ética?
Confesso que saí da loja meio sem acreditar, mas feliz – a humanidade ainda tem jeito. O mal cheiro da podridão política que contamina a sociedade ainda não alcançou alguns redutos perfumados pela ética e pela honestidade.
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Adorei o texto! Muito inteligente, como sempre!
ResponderExcluirComo mostra a experiência vivida no texto, ainda existem pessoas honestas e éticas, em todos os ramos da sociedade, felizmente.
O nosso maior problema, a doença, o câncer que pouco a pouco se alastra pelo país, todos nós sabemos, está na política. O mal exemplo vem do coração do Brasil, exatamente de Brasília, e contamina Estados e Municípios da Federação.
Querem um exemplo?
SÉRGIO MORAES (PTB-RS), relator do caso EDMAR MOREIRA (o do castelo mineiro) no conselho de ética da Câmara, já adiantou que pretende arquivar o caso. Ele defende o colega corrupto e ironiza:
"Estou me lixando para a opinião pública! A opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim".
É ou não é o cúmulo da desfaçatez, da canalhice, da imoralidade, da falta de ética, de decoro, de vergonha na cara!
Mas cá entre nós (só contem prá torcida do Flamengo), ainda que isso doa em nossas consciências, sabemos que ele tem razão, porque o povo não sabe usar o seu voto!
Só nos resta torcer para que o perfume da ética e da honestidade se espalhe e inebrie os corações e mentes dos que hoje estão mergulhados na podridão política que se instalou no páis, o que eu, particularmente, não acredito que aconteça jamais!!!
Com toda a certeza, ainda existem pessoas de boa índole, honestas, mas o homem é produto do meio, e os maus exemplos da quadrilha de políticos desse país contamina o restante da população, principalmente os mais jovens, que já entram na disputa pela sobrevivência acreditando que a corrupção é o caminho mais rápido e fácil para a realização dos seus sonhos e objetivos.
ResponderExcluirFaço questão de repetir aqui o trecho do comentário anterior feito pelo Carlos Roberto:
"Estou me lixando para a opinião pública! A opinião pública não acredita no que vocês escrevem. Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim".
Realmente, é "o cúmulo da desfaçatez, da canalhice, da imoralidade, da falta de ética, de decoro, de vergonha na cara!"
Vamos ilustrar mais um pouquinho a banalização do descaso.
ResponderExcluirA violência não precisa de um ato físico não. O que fazem com a população mais pobre (a raça não é o fator relevante) neste país é uma das piores violências, pois vêm de pessoas favorecidas social e economicamente. Sem contar que as medidas (ou a falta delas) são premeditadas e aplaudidas.
Olhem este caso tirado da Folha de São Paulo. Olhem o que disse o Presidente da FUNASA.
"Presidente da Funasa diz que 68 mortes de índios é 'número bom'
O presidente da Funasa, Danilo Forte, criticou ontem um relatório divulgado pelo Cimi, que aponta a morte de 68 indígenas por falta de assistência médica em 2008. "Em um universo de 500 mil índios, se tiver morrido só 68 por falta de assistência -não é bom ninguém morrer-, é um número bom. Quantas pessoas morrem por dia em Brasília?", disse. Após sua declaração, Forte foi questionado sobre o porquê da falta de assistência, ao que respondeu: "Você acha que não morre ninguém por desassistência aqui no entorno de Brasília?". Logo depois, o presidente do órgão deu exemplos da dificuldade de atender os povos indígenas em áreas mais afastadas. "Quer dizer, não é uma coisa tão simplória para você dizer: 68 morreram por desassistência, entendeu? Não é bom ninguém morrer. Agora, eu acho que a gente tem avançado" - FSP, 7/5, Brasil, p.A7. "