06 novembro 2011

Crack: um problema de saúde pública

O crack vem se espalhando pelo país e já se transformou num dos principais problemas para a maioria dos municípios brasileiros. Uma pesquisa que está sendo feita pela Confederação Nacional de Municípios CNM e será divulgada nesta segunda-feira ouviu 4.400 das 5.563 prefeituras do país, e conclui que para 63,7% delas, o crack já causa problemas extras para os serviços públicos de saúde. Dos municípios consultados, 58,5% informaram que a circulação do crack e de outras drogas também tem provocado problemas preocupantes na segurança, enquanto 44,6% responderam que o serviço de assistência social é outra rede que foi afetada seriamente.

De acordo com a pesquisa, o aumento da violência, onde se pode destacar a crescente incidência de estudantes armados nas escolas (públicas e particulares), é um dos principais problemas.

Outros motivos de preocupação para os municípios são a falta de estrutura para atendimento de dependentes e de recursos para prevenção, tratamento, reinserção social e combate ao tráfico. A omissão dos governos federal e estaduais é um das principais causas dessa situação, que acaba sobrecarregando os municípios, que são obrigados a assumir a responsabilidade de combater o crack e os problemas decorrentes do seu consumo.

Um exemplo desse absurdo, e as autoridades sabem disso, está nas regiões de produção de cana-de-açúcar, onde os trabalhadores usam o crack para "produzir mais".

A pedra maldita já provoca uma epidemia de homicídios no país, e suas principais vítimas são jovens de 15 a 24 anos, especialmente no Nordeste. Estes dados foram confirmados em dois anos de análises feitas por Luiz Flávio Sapori, professor da PUC de Minas Gerais e um dos maiores estudiosos do tema no Brasil, que classifica o crack como a droga mais danosa hoje em circulação na sociedade.

- A fatia mais considerável da violência nas principais cidades brasileiras está relacionada à introdução do crack. Em especial no Nordeste, onde estão as capitais que tiveram o maior aumento de homicídios - afirma o pesquisador, que critica a falta de medidas concretas de atenção ao problema por parte do governo federal.

Em Pernambuco, por exemplo, o o uso da pedra já se alastrou por todas as cidades do Estado. Lá, 80% dos homicídios têm ligação com o tráfico de drogas, especialmente com o crack.

Em Minas Gerais, o professor Sapori conseguiu estabelecer a relação entre o crack e o aumento da violência a partir de uma amostragem aleatória feita em inquéritos da Polícia Civil. Nos anos anteriores à inserção da droga na capital mineira, no meio da década de 90, o comércio de drogas era responsável por 8% dos crimes contra a vida. A partir de 1997, este percentual cresceu consideravelmente, alcançando 19% dos crimes até 2004, e 33% em 2006.

- O Brasil simplesmente não tem uma política de atendimento ao usuário do crack. O SUS não está preparado tecnicamente para atender à especificidade do dependente de uma droga diferente de todas as outras existentes por aqui - diz o especialista, que é adepto de uma ideia que defendo há anos: a internação forçada do dependente.

Com efeito, entre as medidas urgentes que ele defende estão a produção de conhecimento sobre o assunto e a quebra de tabus, entre eles a resistência à internação forçada - o que começou a ocorrer no Rio -, fundamental em vários casos, na opinião dele:

- As pessoas têm de saber que é uma droga muito sedutora e prazerosa, mas capaz de criar uma dependência química sem relação com outras drogas. O usuário não pode cair na visão ingênua de que vai conseguir fazer uso controlado do crack, pois a chance disso acontecer é quase nula.

Segundo especialistas, a timidez do apoio do Estado à política de atendimento aos usuários tem de acabar, e ele precisa enfrentar o desafio de forma objetiva e responsável e não apenas oferecer ajuda na alimentação dos dependentes.

- Não queremos que o governo federal dê comida, queremos que banque vagas - afirma  Aloísio Andrade, à frente do Colegiado de Presidentes de Conselhos Estaduais de Políticas sobre Drogas, que chegou a propor a criação de uma contribuição social de 1% do rótulo de bebidas e tabaco, carimbada para o financiamento de vagas para atendimento ao dependente químico, proposta descartada pelo governo federal.

O pior de tudo é que enquanto as autoridades se omitem, o que o Dando Pitacos já discutiu em "Crack - a epidemia da vez", o problema se agrava com o crescente consumo de outras drogas devastadoras, como o oxi, por exemplo, mais barata e letal que a própria pedra da morte.



Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin