Casal terá de deixar reserva indígena após 82 anos
São Paulo - Para algumas famílias de Roraima, a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol tem gosto amargo. É o caso da família de Adolfo Esbell. Ele nasceu 82 anos atrás numa casinha às margens do Inamará, igarapé de água escura e fresca que corre no sopé das montanhas que separam o Brasil da Guiana, no norte de Roraima. No domingo passado, ao visitar Esbell, a história do pecuarista inspirou o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) a pedir ao STF para que dê mais tempo para a saída das pessoas com mais de 80 anos que vivem na reserva.
O pai de Esbell era venezuelano e a mãe, brasileira, de origem indígena.
Ali cresceu, casou, teve 16 filhos, criou gado, cultivou arroz e feijão, fincou raízes que sonhou serem para sempre. O sonho dele desmoronou, porém, no último dia 25, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol em área contínua e deu prazo de pouco mais de um mês para todas as famílias não-indígenas saírem da área, levando seus pertences.
O nome de Esbell figurava na lista dos expulsos. O prazo de saída vence amanhã. Mas, até ontem à tarde, Esbell e a esposa, Zilda, de 80 anos, não haviam mudado nada na rotina da área herdada dos pais e que tem 320 hectares. As instituições do governo que estão cuidando da remoção dos não indígenas ofereceram a Esbell R$ 134 mil de indenização e uma área de 280 hectares, num assentamento a quase duas centenas de quilômetros dali. É um lugar de difícil acesso, estradas precárias, sem luz elétrica. “Nem fui ver. Pelo que me disseram, não é lugar para mim”, disse ele.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
O equilíbrio é a maior riqueza que o ser humano pode almejar.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
A história de ADOLFO e ZILDA começa a tocar nosso coração a partir da foto que ilustra a postagem. Parece um pequeno paraíso, que deve ter sido construído pelos dois.
ResponderExcluirE agora? Agora têm que abandonar sua terra e começar tudo de novo, ele com 82 (oitenta e dois) e ela com 80 (oitenta) anos! Eles certamente não merecem isso, até porque não cometeram crime algum.
O deputado Fernando Gabeira chegou a criar um projeto para tentar conseguir que pessoas com mais de 80 anos de idade tivessem um prazo maior para deixar a reserva, o que não resolveria o problema da expropriação das raízes, de arrancar o chão de quem achava que ia morrer no pedaço de terra que sempre teve como seu.
Como na questão das cotas raciais nas universidades, o conceito é muito vago. Afinal, quem é índio e quem é “não-índio” no norte de RORAIMA? ADOLFO é filho de uma índia e basta encarar as feições de ZILDA para se ter a certeza de que em suas veias também corre o sangue índio. Isso não lhes dá nenhum direito? Quem pode afirmar que eles são “não-índios” e por isso devem abandonar a reserva? Se o estrangeiro que aqui chega e casa ou tem filhos com uma brasileira adquire direitos, porque não se aplicar a eles o mesmo princípio? Este, aliás, é o drama de inúmeras famílias agora expulsas, coisa que nunca aconteceu no Brasil, mas que agora aflora a partir de uma política de reservas, quilombos, cotas, entre outros fatores de discriminação. Estamos plantando as sementes de problemas raciais nunca enfrentados pela nação brasileira.
Mas o mais grave nessa história absurda é que, sejam índios ou “não-índios”, ADOLFO e ZILDA são brasileiros que estão sendo expulsos de chão brasileiro porque um grupo de políticos ou organização cafajeste inventou diferenças entre seus cidadãos.
Nesse país injusto, de leis absurdas e políticos corruptos, nós, cidadãos, que não ganhamos terras nem casa, mas pagamos impostos escorchantes, não temos direito a nada, somos o resto! O imposto de renda, por exemplo, nos tributa a partir de um salário de R$ 3,5 mil, mas o canalha político, que embolsa mais de R$ 100 mil todo mês, afora as trampolinagens, só paga o imposto do leão sobre o “subsídio”, cerca de R$ 16 mil. O país beneficia a classe mais abastada e pune o cidadão comum, indefeso, que sequer tem direito aos serviços primários de saúde, educação, transporte e segurança, garantias inscritas na nossa pobre e ultrajada Constituição Federal.
Soluções? Só no dia em que a sociedade brasileira deixar de lado a acomodação e a covardia, e munindo-se de um mínimo de vergonha na cara marchar para Brasília e exigir o cumprimento das leis, e claro, CADEIA PARA OS CORRUPTOS!!!
Meus amigos Ana e Carlos Roberto: vocês parecem corda e caçamba, como dizia minha avó. São perfeitos. Você disse, Carlos Roberto, tudo o que eu gostaria de dizer prá comentar o texto, a Ana, com a visão inteligente que tem fez o fez o complemento: será que "não havia como fazer a retirada de forma planejada? Não havia como fazer um trabalho de assistência social, num governo que se mantém com Bolsas Famílias e assistencialismo hipócrita?".
ResponderExcluirPerfeito. Parabéns a vocês e ao blog.
É isso aí. Um pouquinho de bom-senso não atrapalharia em nada. Muito pelo contrário, ia evitar injustiças como a que está sofrendo o casal Adolfo e Zilda.
ResponderExcluirApenas por curiosidade: algum ministro do STF foi ao local prá analisar essas questões?
Meu caro amigo Luiz Bellate, a questão não é um bom censo, é que infelizmente temos lei que não funciona, para os magistrados, governadores, prefeitos etc... sempre conseguem se safar usando a propria lei em benefício próprio, mas quando se trata de um cidadão comum, essa mesma lei o prejudica totalmente que é o caso do seu Adolfo e Zilda, o que esse casal irar fazer na atual conjuntura com oitenta anos de idade? E se fosse parantes de algum político como seria resolvido toda essa situação, pare e pense, isso não é justo e eu te pergunto cade a justiça, existe? Tudo isso é lamentavél chega a ser ridículo.
ResponderExcluirAlguns meses se passaram desde que postamos esta reportagem e, na época, esperávamos que o bom senso prevalecesse.
ResponderExcluirO tempo passou e eu não ouvi (ou vi) falar mais nesta história até hoje de manhã quando recebi um email do João Américo Peret, indigenista, jornalista e escritor. Peret não citou a fonte mas pelo menos nos conta o final dessa história e lança um questionamento.
Transcrevo aqui o texto do email:
"RAPOSA SERRA DO SOL -análise de cientísta político-
O último dos não-índios foi retirado de Raposa-Serra do Sol. O ancião Adolfo Esbel, 82 anos, e sua mulher deixou a terra onde nasceu e criou os seus 16 filhos. Seu crime eu sei: foi o de ser não-índio, um cidadão de segunda classe, que não pode viver no território da "nova" nação que foi criada no país por conta de pressões internacionais e grupos financiados do exterior.
Foi punido de forma drástica pelo governo e pela justiça por um crime que não teve culpa.
Criou-se uma falsa imagem de que se tratava de uma disputa entre "pobres" índios e poderosos arrozeiros, quando, na verdade, havia muito mais gente humilde atingida pela decisão.
O STF não levou em consideração os direitos de proprietários instalados há décadas na região, e nem o de cidadania de muitas pessoas nascidas nessas terras e que, apesar de brasileiros, foram obrigados a partir como se fossem invasores estrangeiros que devessem ser expulsos.
Quem é mesmo o último exilado?
O poder das "Forças Ocultas"
Abs. Peret"
Um texto desses vindo de uma pessoa que defendeu os índios à vida toda nos faz pensar não é?
Eu que tanto defendi a demarcação contínua da reserva Raposa Serra do Sol hoje me questiono para quem de fato eu trabalhei. Neste país de falcatruas e podres poderes até se posicionar em relação a algum fato me parece missão impossível!