11 junho 2009

Adolescência e Autonomia


O texto abaixo foi "pinçado" pela AnaKris do Blog da Rosely Sayão, psicóloga e consultora educacional com mais de 30 (trinta) anos de experiência em clínica, supervisão e docência. Além disso, ela foi colunista dos jornais a Folha de S.Paulo (caderno Folhateen) e Notícias Populares.

Desde o ano de 2000 ela escreve para o caderno Equilíbrio, também da Folha. Autora dos livros “Sexo: Prazer em Conhecê-lo” (Artes e Ofícios, 1995) e “Sexo é Sexo” (Companhia das Letras, 1997), ela presta consultoria a empresas e escolas, dissertando sobre cidadania e educação de crianças e adolescentes.

Porque adoramos o seu conteúdo e achamos que ele tem tudo a ver com um dos temas que nos dispusemos a discutir aqui, a educação, resolvemos postá-lo. Leiam com bastante atenção!



"Muitos pais estão confusos quanto ao seu papel educativo quando os filhos atingem a adolescência. Uma mãe conta que o filho de 15 anos aderiu ao uso do narguilé (espécie de cachimbo) e que ela não sabe que atitude tomar. Diz que, apesar de saber que pode ser prejudicial à saúde, fica na dúvida se deve ou não proibir o uso, já que o filho poderá fumar escondido.

A mãe de uma garota que fará 15 anos diz que, mesmo sabendo que menores não devem ingerir álcool, servirá "bebida leve" com parcimônia na festa, pois, diz a filha, sem bebida os amigos não irão e a mãe quer que a reunião seja um sucesso.

Os pais de um jovem de 17 anos permitiram ao filho que levasse a namorada para dormir em casa por acharem que, dessa maneira, estariam garantindo segurança ao casal. O problema é que, além de o jovem ter trocado várias vezes de namorada em um curto espaço de tempo, agora se relaciona com duas simultaneamente. O casal não sabe que atitude tomar porque acredita que não pode voltar atrás com o filho, que, afinal, já é quase um jovem adulto, mas não se sente à vontade com o que acontece.

Há algo em comum em todos esses casos: os pais abriram mão de sua coerência em nome da proximidade com o filho, da alegria e da satisfação dele. Em nenhum dos casos citados há convicção dos pais nas atitudes tomadas; há justificativas, apenas. Será que vale a pena fazer isso? Vamos analisar as consequências de atos desse tipo.

Considero que a educação que os pais dão aos filhos, seja ela do tipo que for, funciona como uma direção imposta a eles. Dessa maneira, eles aprendem o rumo que aquela família considera bom ou adequado. Mais ou menos como uma bússola: ela aponta sempre para o norte. Quem sabe usá-la e tem autonomia para escolher caminhos pode usar o instrumento como referência mesmo quando não quer ir para a direção apontada.

A educação que os pais dão aos filhos é assim: funciona como norte, como referência aos filhos, que, ao atingirem a autonomia, terão condição e liberdade de escolher outras direções para sua vida. Sem direção certa, os mais novos correm o risco de se perderem. A pergunta é: os adolescentes têm autonomia para tais escolhas? Ainda não. Adolescência é tempo de amadurecer, e amadurecer significa ganhar experiência a respeito da própria vida e da vida em comum, dar duro para estabelecer planos e aprender a agir para alcançá-los, batalhar para entender que direitos e deveres caminham juntos e que toda escolha gera consequências.

Autonomia é uma conquista árdua. Não é um ganho. Os pais não podem dar autonomia aos filhos: devem ceder espaço quando eles se mostram capazes de exercê-la. Ceder a casa -espaço dos pais- para que os filhos bebam, fumem, tenham encontros íntimos, não colabora em nada para que conquistem autonomia. O adolescente ainda exige tutela dos pais, que devem ter e manter a autoridade para exercê-la. Essa atitude permitirá o acesso dos filhos à maturidade exigida pela vida adulta".

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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6 comentários:

  1. Postei este texto da Rosely Sayão no meu blog, Estrada do Bem. E de lá copio o meu comentário e posto-o aqui.
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    De coração aberto confesso que tinha um preconceito muito grande em relação à Roseli Sayão. Puro preconceito mesmo. Acho que devido ao fato de ela ter sido atriz novelesca. Mesmo vendo que ela participava de uma infinidade de programas televisivos, tinha meu pé atrás com ela.
    Mas esse texto é primoroso. Talvez pelo fato de eu mesma ter passado - e ainda passo - por esse questionamento sobre limites com os meus próprios filhos.
    Minha primeira batalha foi quando meu filho passou a fumar maconha, e o pior, em casa!
    A guerra pelo território (chamo assim mesmo) foi cruel. Mas depois de muita ajuda divina e uma disposição enorme de melhorar o ambiente, conseguimos estabelecer alguns acordos. Eu parei de me meter na vida dele (até porque depois dos 21 anos pouco eu poderia fazer) e ele passaria a respeitar a casa.
    Esse mesmo filho, depois de longo tempo de namoro passou a trazer a namorada para casa e dormir com ela. Confesso que para mim isso era um alívio. Antes em casa com ela do que na rua com os amigos fumando maconha.
    Mas quando ele terminou o namoro, depois de um tempo, trouxe uma vez uma "ficante" dessas, encontráveis em toda esquina.
    Aí o bicho pegou e uma nova guerra começou. Com a passagem dos dias e a ausência de apoio da minha filha, acho que ele entendeu e não trouxe mais ninguém para casa (pelo menas nessas condições).
    Estou longe de dizer que a fase de pesadelos passou. Cada dia há uma novidade.
    Mas o importante é sempre procurar encontrar o equilíbrio, cedendo um pouco e endurecendo em outros pontos. O sucesso disso dependerá do valor dado a cada ponto. Nesta hora entra o bom senso.

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    Desculpe se choco com a exposição da minha vida pessoal a este ponto. Mas uma das minhas "mazelas" foi me envergonhar por passar por problemas como drogas na famíla. Então, fiz questão de me expor assim, porque se alguém estiver passando pela mesma situação, apenas acrescento que não está sozinho e não é nenhuma vergonha. O aprendizado e a ajuda nem sempre vêm por caminhos previsíveis.

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  2. É, a vida é engraçada, AnaKris!

    Hoje, pela manhã, por telefone, comentamos sobre esse texto. Falamos, inclusive, dos nossos problemas com os nossos filhos, que regulam idades. Sem saber do seu problema, cheguei a dizer que, ao menos em relação ao uso de drogas eu estava tranquilo, pois jamais percebi a utilização de qualquer delas pelo meu filho. Ao menos até aqui!

    Não sabia que você enfrentava o problema dentro de casa. E o pior, sozinha!

    Você não deve se desculpar por trazer o seu drama para o blog, tornando-o público. Muito pelo contrário, orgulhe-se disso!

    A omissão das autoridades e da própria sociedade no trato desse tipo de problema tem levado muitas famílias ao desespêro, ao caos. Mas isso não aconteceu com você, felizmente!

    Pelo que você diz, e eu acredito, a fase de pesadelos talvez esteja longe de passar, mas você a está enfrentando com dignidade e coragem, e isso é o mais importante. É realmente uma batalha travada a cada dia, mas você é capaz, mesmo que de vez em quando tenha que se trancar dentro de si mesma e chorar! Faz bem! Alivia!

    Como você frisou no seu comentário, "o aprendizado e a ajuda nem sempre vêm por caminhos previsíveis", até porque no nosso caminhar nada é previsível. Aprender, eu tenho certeza, você deve ter aprendido muito, e a partir de hoje, além dos amigos que até aqui a ajudaram, você pode contar com a minha ajuda e apoio. Parabéns pela sua atitude e coragem! Hoje aprendi a te respeitar e admirar um pouco mais...

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  3. Carlos, não se sinta constrangido por ter tocado no assunto pelo telefone. Não encaro a vida mais assim, cheia de melindres.

    O que eu queria passar para o pessoal que lê esse blog é que ninguém está sozinho. Todos têm problemas com filhos, com companheiros, com colegas de trabalho ou com qualquer outro ser humano que não seja o nosso próprio reflexo no espelho.

    O importante é transformar o sofrimento em aprendizado e crescer. Num primeiro momento a gente sofre pra caramba. Como eu costumo dizer, fui ao inferno e voltei várias noites. Mas hoje, graças a esta etapa dolorida, me considero uma pessoa melhor, mais compreensiva, menos controladora, aprendi a respeitar o espaço e os limites dos outros.

    Como você mesmo disse, a grande arte da vida é transformar os limões que ela nos dá em limonadas.

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  4. AnaKris e Carlos Roberto

    Vocês dois me emocionaram, de verdade. A atitude de vocês me faz acreditar numa coisa que é muito bonita na televisão, na primeira paágina dos grandes jornais, mas muito difícil aqui, onde o acesso das pessoas é tão limitado, e não há interesse em jogar "prá galera". Vocês mostram que o ser humano pode ser solidário!

    O assunto abordado, de alto inresse social e educativo também merece destaque. O texto da psicóloga Rosely Sayão é fantástico.

    Mais uma vez, parabéns ao blog! Parabéns, parabéns, parabéns...

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  5. Parabéns AnaKris.Por não esconder sua experiencia debaixo do tapete.A vida é um aprendizado e com certeza o erro aparente de um filho nos leva a crescer espiritualmente.Falo isso com conhecimento de causa e sinceramente não me envergonho de um filho ter passado pela droga.Me envergonho do preconceito que ele passa até hoje ,20 anos já se foram das pessoas{certinhas}Nada na vida é por acaso.

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  6. Valeu, Silvia!

    Seu comentário, da mesma forma que o da AnaKris, é muito importantes prá mostrar às pessoas que esse tipo de problema não dá em poste, mas em gente, e geralmente quando a família menos espera!

    A atitude mais inteligente é enfrentar, lutar contra o vício. Esconder é fugir, é como você disse, jogar prá "debaixo do tapete" e isso não resolve, apenas retarda um desfecho que não raro despedaça o núcleo familiar. Parabéns prá você e prá AnaKris!!!

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