23 abril 2010

DE "CARAS-PINTADAS" A "CARAS-DE-PAU"





Em matéria assinada por Giselle Mourão e Milton Júnior, o portal CONTAS ABERTAS noticia que nos últimos sete anos (2003/2010), período do governo LULA, portanto, a UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES - UNE recebeu quase R$ 12,9 milhões, dez vezes mais que o montante repassado nos dois mandatos de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (1995-2002).

No ano de 2008, por exemplo, o governo destinou quase R$ 4,5 milhões à entidade, maior cifra desde 1995. Desse valor, 64% foi pago pelo Ministério da Saúde, com a finalidade de apoiar projetos da educação permanente dos trabalhadores do Sistema Único de Saúde, mas foi o Ministério da Cultura quem mais repassou recursos ao órgão, cerca de 72% do valor total recebido pela UNE. Apenas no ano passado, o órgão destinou mais de R$ 2 milhões para apoiar projetos voltados à produção, divulgação e outras ações ligadas à atividades artísticas e culturais.




Além das verbas recebidas a título de incentivo à cultura, a UNE também recebeu recursos do Ministério do Esporte. Em 2004, quando ainda estava na função de secretário-executivo, o atual ministro ORLANDO SILVA (PCdoB-SP), que foi presidente da UNE entre 1995 e 1997, assinou um convênio que repassou R$ 199,6 mil para financiar a realização dos 52º Jogos Universitários Brasileiros, realizados em julho daquele ano. Já em 2009, sob a direção dos estudantes LÚCIA STUMPF e AUGUSTO CHAGAS, ambos filiados ao PCdoB, outros R$ 250 mil foram liberados pelo Ministério para capacitar gestores de esporte e lazer. Clique aqui e veja o histórico de todos os repasses.

Entrevistado sobre o tema, o cientista político LEONARDO BARRETO diz que a independência da UNE “foi toda embora, mas a culpa não é só do dinheiro”. Ele lembra que a entidade sempre esteve ligada a partidos de esquerda, sobretudo o PCdoB, que está no comando da presidência dos estudantes há 15 anos. “Frente a tantos recursos, a UNE passa a se comportar de forma absolutamente submissa, deixando um vazio na representatividade dos estudantes no Brasil. A antiga posição de luta e resistência ficou para trás. Também não se sabe qual é a agenda política dos estudantes”, diz.

Em reportagem publicada ontem o jornal O GLOBO informa que a UNE discutirá, em encontro realizado até domingo no campus da UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO, a possibilidade de assumir uma posição contrária às políticas do PSDB e até mesmo à candidatura de JOSÉ SERRA. A eleição do tucano, que presidia a UNE no momento do golpe militar, é classificada como retrocesso pelas correntes reunidas desde ontem no 58º Conselho Nacional de Entidades Gerais. O grupo também debaterá se vai dar apoio a DILMA ROUSSEFF (PT).


Desde o escândalo do mensalão e todos os outros fatos não menos vergonhosos envolvendo membros do atual governo, do PT e de partidos aliados, a sociedade questiona a omissão e ausência dos estudantes nas frentes da batalha contra a corrupção. Onde estariam os "caras-pintadas", famosos pela defesa da democracia, que tanto se mobilizaram para a derrubada de COLLOR? Onde estaria aquela meninada movida a ideais de justiça e legalidade?


Aliás, vale a pena relembrar o histórico da entidade, assim redigido em seu portal:


"Conheça a história da UNE 

Mais do que o órgão de representação dos estudantes universitários, a União Nacional dos Estudantes (UNE) é uma das principais organizações da sociedade civil brasileira, com uma bela história de lutas e conquistas ao lado do povo brasileiro. A UNE foi fundada em 1937 e ao longo de seus 70 anos, marcou presença nos principais acontecimentos políticos, sociais e culturais do Brasil. Desde a luta pelo fim da ditadura do Estado Novo, atravessando a luta do desenvolvimento nacional, a exemplo da campanha do Petróleo, os anos de chumbo do regime militar, as Diretas Já e o impeachment do presidente Collor. Da mesma forma, foi um dos principais focos de resistência às privatizações e ao neoliberalismo que marcou a Era FHC.

UNE E BRASIL 

No dia 11 de agosto de 1937, na Casa do Estudante do Brasil no Rio de Janeiro, o então Conselho Nacional de Estudantes conseguiu consolidar o que já havia sido tentado diversas vezes sem sucesso: a unificação dos estudantes na criação de uma entidade máxima e legítima. Desde então, a UNE começou a se organizar em congressos anuais e a buscar articulação com outras forças progressistas da sociedade.




A UNE já nasceu como uma das principais frentes de combate ao avanço das idéias nazi-fascistas no país durante a Segunda Guerra Mundial. Os estudantes organizados também promoveram, em 1947, um dos mais importantes movimentos de opinião pública da história brasileira: a campanha “O Petróleo é nosso”, série de manifestações de cunho nacionalista em defesa do patrimônio territorial e econômico do país, que resultou na criação da Petrobrás.


Durante os anos 50, houve muita disputa pelo poder na entidade, um embate diretamente ligado aos principais episódios políticos do país como a crise política do governo Vargas que levaria ao suicídio deste presidente em 1954. Após o governo de Juscelino Kubitschek, foram eleitos Jânio Quadros e João Goulart. Nesse período a União Nacional dos Estudantes e outras grandes instituições brasileiras formaram a Frente de Mobilização Popular. A UNE defendia mudanças sociais profundas, dentre elas, a reforma universitária no contexto das reformas de base propostas no governo Jango.




A partir do golpe de 1964, tem início o regime militar e a história da UNE se confunde ainda de forma mais dramática com a do Brasil. A ditadura perseguiu, prendeu, torturou e executou centenas de brasileiros, muitos deles estudantes. A sede da UNE na praia do Flamengo foi invadida, saqueada e queimada no dia 1º de Abril. O regime militar retirou a representatividade da UNE por meio da Lei Suplicy de Lacerda e a entidade passou a atuar na ilegalidade. As universidades eram vigiadas, intelectuais e artistas reprimidos, o Brasil escurecia.




Apesar da repressão, a UNE continuou a existir nas sombras da ditadura, em firme oposição ao regime, como célebre passeata dos Cem Mil no Rio de Janeiro em 1968. A entidade foi profundamente abalada depois da instituição do AI-5 e das prisões do congresso de Ibiúna. Mesmo assim, o movimento estudantil continuou nas ruas, como nos atos e missa de 7º dia do estudante da USP, Alexandre Vannucchi Leme, e organizando protestos por todo o Brasil reivindicando mais recursos para a universidade, defesa do ensino público e gratuito, pedindo a libertação de estudantes presos do Brasil. Em 1979, a partir da precária reorganização da UEE-SP, iniciou-se a reconstrução da UNE no célebre Congresso de Salvador. Em 1984, a UNE participou ativamente da Campanha das "Diretas Já" e apoiou a candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República.




Com a força recuperada, o movimento estudantil, representado pela UNE e pela UBES (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas), foi o primeiro a levantar a bandeira pela ética na política em 1992, durante as manifestações pró-impeachment de Fernando Collor. Milhares de estudantes “caras-pintadas” influenciaram a opinião pública com a campanha “Fora Collor” e pressionaram o ex-presidente à renúncia.


Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, a União Nacional dos Estudantes se manteve firme e denunciou o ataque neoliberal ao país, repudiando as privatizações, os privilégios ao capital estrangeiro e o descaso com as políticas sociais e com a educação. Os estudantes tiveram papel marcante nos anos FHC sempre defendendo o ensino público de qualidade e democrático.




A eleição de Lula em 2002 teve o apoio da União Nacional dos Estudantes, após um plebiscito promovido das universidades. Com uma postura independente, mas alinhada às iniciativas de mudança em relação ao neoliberalismo. Desde o início do governo, a entidade se mobilizou pela substituição do Provão por um novo modelo de avaliação das universidades e levantou os debates sobre a reforma universitária, participando ativamente no debate do projeto sobre os rumos da universidade brasileira, e ainda, de punhos erguidos para alterar a cara de nossas universidades: investindo da educação pública e regulando o setor privado".



A resposta da pergunta feita lá em cima é simples: eles, os hoje "caras-de-pau", estão no mesmo lugar, só que liderados por pessoas ligadas a partidos que hoje usufruem (e como!) o poder! Eles ainda existem e a tinta que outrora enfeitou seus rostos nas grandes manifestações continua exposta nas prateleiras das lojas do gênero, mas não há compradores, porque agora eles estão amordaçados pelo dinheiro do Governo Federal, uma espécie de "bolsa-família" cultural!

E seu presidente, AUGUSTO CHAGAS, ainda defende a "independência" da instituição diante das candidaturas políticas ao pleito que se avizinha. Segundo ele, é preciso ter opinião formada sobre os últimos governos.

- Não queremos retrocesso em determinadas políticas. A possibilidade de a UNE sentar com o presidente da República para apresentar suas pautas é positiva. Não queremos retroceder a um período que essa capacidade de diálogo não existia, diz o presidente, ao comparar a relação da UNE com os governos de FERNANDO HENRIQUE CARDOSO e LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA.

E tem toda a razão: o fisiologismo não deixará que eles esqueçam quem lhes garantiu a maior mesada, independentemente dos objetivos históricos defendidos pela entidade. É uma pena que tantos sonhos e ideais, tantas lutas e sofrimentos e tantas glórias e vitórias históricas sejam trocadas por um punhado de dinheiro e pela inconseqüente e fixa idéia de manutenção do poder!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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Um comentário:

  1. QUE POST FANTÁSTICO!
    AMIGO ROBERTO
    Com sinceridade, o seu artigo é repleto de fatos incontestáveis, amostrando-nos a bandeira de tantas lutas, outrora, repletas de glórias e honradez, hoje, tomada por um quadro negro que dificilmente os novos dirigentes reverterão em prol da independência institucional que sempre se fez necessária em benefício da classe estudantil.
    Parabéns por mais ume excelente post!
    Abraços,
    LISON.

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