04 abril 2010

A MORTE DAS LETRAS



Segundo o portal Opinião e Notícia, as livrarias são "uma espécie ameaçada de extinção", já que estão fechando ou tendo que se reinventar para enfrentar a concorrência com o e-book, livro eletrônico que começa a dominar o mercado, isso sem falar nas enormes dificuldades que elas já enfrentam na concorrência com as grandes empresas do mercado livreiro, que oferecem descontos com os quais elas não podem competir. Até aí tudo bem! É uma questão de mercado, de livre competição!

Mas uma pergunta me incomoda: como vai ficar nessa história o cidadão que vive abaixo da linha da pobreza, no Brasil e no restante do mundo?

A União Européia informa que 17% de seus moradores estavam abaixo da linha da pobreza em 2008 (infelizmente não consegui dados mais atualizados), e que os maiores índices estavam na Letônia e na Romênia, países fortemente atingidos pela crise econômica mundial. 

Cerca de 26% do letões, 23% dos romenos e 20% dos gregos, espanhóis e lituanos vivem abaixo da linha da pobreza em seus países; um décimo dos europeus não consegue pagar pelo aquecimento de suas casas e 9% deles não consegue sequer comer um pedaço de carne a cada dois dias.

No Brasil, os índices não são seguros, mas tudo indica que 10% a 15% da população ainda vive abaixo da linha da pobreza, o que significa que 19 a 28 milhões de brasileiros sobrevivem em condições de miséria extrema.

E os tradicionais miseráveis da África e Índia?

Na Baixada Fluminense - RJ, por exemplo, já se diz, não sei se é verdade porque nunca utilizei o serviço, que os moradores podem acessar a internet de graça, já que o governo estadual disponibilizou conexão à rede para toda a população de São João de Meriti, a 60% dos habitantes de Duque de Caxias e Belford Roxo e a 20% dos moradores das cidades de Nova Iguaçu, Mesquita e Nilópolis. O sinal da internet é transmitido por antenas instaladas nos municípios, mas elas não conseguem cobrir todo o território das cidades. Para acessar o serviço, o cidadão tem que saber, primeiro, se reside em uma área coberta pela transmissão gratuita, e se a resposta for afirmativa, ele terá que desembolsar cerca de R$ 150 para instalar o kit necessário ao acesso da internet.

Nem todo mundo, como se pode ver, vai ter acesso muito fácil à internet!

O que é que essas pessoas vão ler se o livro impresso deixar de existir? Como e quando elas poderão acessar um e-book? Como vai ficar o desenvolvimento cultural dessa gente? O que dirão os pais miseráveis aos filhos interessados na leitura de obras como "O Sítio do Pica-Pau amarelo" ou "O Pequeno Príncipe"? Que cidadão dessa classe de excluídos poderá ler, por exemplo, "O Alquimista", a famosa fábula de Paulo Coelho? Será que não estamos diante de um iminente retrocesso cultural e da morte das letras? Será que a classe política tem noção da responsabilidade que o avanço tecnológico está a impor para a continuidade da educação dos povos?

Não encontro essa resposta nem nos e-books!




Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

Cadastre seu e-mail e receba nossas postagens

Blog Widget by LinkWithin

4 comentários:

  1. Não resta dúvida que estamos diante uma questão preocupante e de grande interesse social. O avanço tecnológico não tem como ser detido. É um fato e temos que acompanhá-lo para não ficarmos vulneráveis de inúmeras situações aflitivas. No entanto, a inclusão social precisa ser matéria prioritária nas agendas de governo em todos os níveis (municipal, estadual e federal).
    Não há como deixar de investir e incentivar iniciativas que visam dar avesso a informação a toda população, independente de classe social.
    Precisamos, como sociedade organizada, exigir que nossos governantes ponham em prática projetos desse tipo (citado na matéria)e outras mais que se fazem oportunas e necessárias.
    Parabéns pelo post.

    ResponderExcluir
  2. E ainda o pior, o país de dimensões continentais perde a sua identidade a cada dia, o escritor brasileiro não consegue em sua maioria colocar seus livros em uma livraria. O autor independente é visto com imenso preconceito pelas livrarias e distribuidoras de livros. Livros totalmente sem conteúdo estão nos primeiros lugares de vendas indicados pelas colunas de pesquisas literárias dos jornais, todos livros estrangeiros.Será que o Brasil não possui escritores? Antigamente não tinha petróleo, precisou que Monteiro Lobato, Dirceu Fontoura e outros patriotas encarassem a ditadura do Getúlio para que se pudesse gritar "O petróleo é nosso!" e continuarem vivos.E se alguém disser que a Petrobrás foi criação do Getulio, entre em contato comigo que eu conto como foi.
    Hoje o escritor independente brasileiro também é produto proibido, assim como os músicos e cantores também já estiveram na lista negra, só os estrangeiros vendiam no mercado brasileiro.
    Não somos a favor de reserva de mercado, apenas que no Brasil possa vender os livros de autores brasileiros também.

    ResponderExcluir
  3. É verdade, Sylvio!

    Não há como deter o progresso, e exatamente em função disso é que os governos, como você bem disse, precisam "investir e incentivar" o acesso à informação de toda a população, que não pode ser punida com a exclusão do conhecimento.

    Um grande abraço...

    ResponderExcluir
  4. Com certeza, Blogpiratan!

    O Brasil sofre de uma espécie de moléstia chamada "alergia ao nacionalismo". Tudo o que vem de fora é top, é best-seller. Poucos autores conseguem sobreviver de suas próprias obras no Brasil. A televisão, por exemplo, é uma das responsáveis por isso, pois seus enlatados não incluem obras nacionais.

    Você está certo ao dizer que não pretendemos nenhuma "reserva de mercado", mas apenas igualdade de tratamento. Tem muita gente boa na literatura brasileira, melhor até do que muita coisa que vem lá de fora, com absoluta certeza!

    Um grande abraço...

    ResponderExcluir

A existência de qualquer blog depende da qualidade do seu conteúdo, e mais do que nunca, do estímulo de seus leitores. Por isso, não saia sem deixar seu comentário!