28 setembro 2010

Carlos Drummond de Andrade


Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira - MG, no dia 31 de outubro de 1902, numa família de fazendeiros em decadência. Estudou na cidade natal, em Belo Horizonte e com os jesuítas, no Colégio Anchieta - Nova Friburgo - RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". Pode?


Retornou a Belo Horizonte - MG, onde começou a carreira de escritor, trabalhando como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.

Poeta, cronista, contista e tradutor brasileiro, sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade social.

Na visão poética de Carlos Drummond de Andrade, a expressão pessoal evolui numa linha em que a originalidade e a unidade do projeto se confirmam a cada passo, ao mesmo tempo que se assiste à construção de uma obra fiel à tradição literária que reúne a paisagem brasileira à poesia culta ibérica e européia.

Pressionado pela família para que obtivesse um diploma, Drummond formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto – MG, em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo mineiro. Ingressou no serviço público, e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro - RJ, onde exerceu o cargo de chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, isso até 1945. Excelente funcionário, passou a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã, e a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.

O modernismo não chega a dominar nem mesmo os primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), onde o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.

Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha, sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo, no que desmonta, dispersa, desarruma, do berço ao túmulo - do indivíduo ou de uma cultura.

Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e, sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro - RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

Drummond escreveu textos de humor impecável: 

  • Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença,aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos. Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
  • Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
  • Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
  • Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
  • Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!

E outros, onde a paixão e o amor marcaram encontros inesquecíveis:

  • Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
  • Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
  • Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
  • Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O amor.
  • Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O amor.

Em uma ou outra modalidade, sua obra encantou, encanta e certamente seguirá encantando todos os amantes das letras...


Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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4 comentários:

  1. Olá Carlos,
    O Drummond realmente era , é (!!) fabuloso...
    Lindas citações.
    Não posso deixar de sublinhar aqui citação do pernilongo HEHE.
    Um abraço.
    Eninha

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  2. Com certeza, Eninha!

    Ele foi, é e será sempre fabuloso!

    E a do pernilongo é genial, rsrsrs...

    Um abração...

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  3. Olá Carlos querido!
    Coincidentemente hoje estava visitando/navegando no Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, onde o acervo de Drummond está e olhei algumas de suas obras. Nem precisa comentar muito...ele é imortal!
    Grande beijo,
    Jackie

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  4. Concordo com você, Jackie!

    Personagens como Drummond, Saramago, Machado de Assis, Monteiro Lobato, o tempo está aí mesmo para provar, são eternos.

    Monteiro Lobato, por exemplo, morreu em 1948, portanto, há 62 anos. Quem não lembra de Narizinho e outros personagens, como Dona Benta, Pedrinho, Tia Nastácia, o boneco de sabugo de milho Visconde de Sabugosa e Emília, a boneca de pano, que até hoje fazem sucesso na literatura e na mídia brasileiras?

    Carlos Drummond de Andrade, na minha opinião, vai ter o mesmo destino de Lobato e os outros: a eternidade!

    Obrigado, Jackie, mais uma vez, pela sua participação...

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