08 setembro 2010

O pálido ponto azul

Dois asteróides, em órbitas diferentes, aproximam-se da Terra. A informação foi dada ontem (07/09) pela Agência Espacial Americana - Nasa. Seus cientistas afirmam que os corpos celestes devem passar pelo nosso Planeta nesta quarta quarta-feira (08/09), sem qualquer risco de uma colisão.

De acordo com os cálculos, o asteróide 2010 RX30, que mede entre 10 e 20 metros, passará a 247.838 km da Terra, e o outro, batizado como 2010 RF12, com tamanho entre 6 e 14 metros, passará a 78.000 km de distância.

Foi o telescópio Catalina Sky Survey - CSS, situado nas montanhas de Santa Catalina, no Arizona, operado conjuntamente pelas universidades do Arizona e Nacional Australiana, ambas patrocinadas pela Nasa, quem descobriu os dois objetos no domingo (05/09).

Essa notícia me fez lembrar um vídeo que assisti há algum tempo, e que me deixou assustado, diria até um pouco deprimido. Não quero quero que você pense igual a mim, mas apenas que assista ao vídeo com muita, bastante atenção, e procure analisar o que você vai ver e ouvir, já que ele é legendado.

Há cerca de 14 anos, exatamente no dia 20 de dezembro de 1996, morria o astrônomo Carl Edward Sagan, talvez o mais apaixonado defensor, divulgador e incentivador da ciência em todos os tempos. Sua morte prematura aos 62 anos de idade, deixou saudades e um vazio insuperável.

Carl Sagan, cientista, astrônomo e pensador americano, dedicou-se à pesquisa e à divulgação da Astronomia e ao estudo da chamada Exobiologia. Foi considerado o maior divulgador da ciência que o mundo já conheceu. Nasceu no Brooklin - New York. De origem pobre, seus pais eram judeus e filhos de imigrantes russos. Seu pai, Sam Sagan, era alfaiate e a mãe, Rachel Molly Gruber, era dona de casa. Carl recebeu esse nome em homenagem a sua avó, Chaiya Clara, mãe biológica de Raquel, "a mãe que ela nunca conheceu", segundo palavras do próprio Sagan. Graduou-se na Rahway High School, em 1951, e depois se matriculou na University of Chicago, onde recebeu o grau de bacharel (1955) e de mestre em Física (1956), antes de ganhar seu doutorado  (PhD) em astronomia e astrofísica em 1960. Durante o tempo da graduação, Sagan trabalhou no laboratório do geneticista H. J. Muller. De 1962 até 1968, ele trabalhou no Smithsonian Astrophysical Observatory.


Sagan ensinou na Harvard University até 1968, quando se mudou para a Cornell University, onde foi professor de astronomia e ciências espaciais. Ele se tornou professor titular na Cornell em 1971, onde foi diretor do Laboratório de Estudos Planetários. De 1972 a 1981, ele foi diretor associado do Centro de Pesquisas em Rádio Física e Espaço da Universidade Cornell. Foi professor visitante do Laboratório de Propulsão à Jato do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Criou a Sociedade Planetária e o SETI.


Sagan foi um líder no Programa Espacial Americano desde o seu início. Foi consultor e conselheiro da Nasa desde os anos 50. Trabalhou com os astronautas do Projeto Apolo. Uma de suas muitas tarefas na Agência Espacial incluía a checagem dos astronautas da Apolo antes de seus vôos para a lua. Chefiou os projetos Mariner e Viking, pioneiros na exploração do sistema solar, que permitiram obter importantes informações sobre Vênus e Marte. Participou também das missões Pioneer, Voyager e da sonda Galileu. Sagan contribuiu na maioria das missões não tripuladas para explorar o Sistema Solar, estabelecendo experimentos para muitas expedições espaciais robóticas. Foi ele quem concebeu a idéia de adicionar uma mensagem da humanidade nas astronaves destinadas a deixar o Sistema Solar, que poderiam ser entendidas por alguma possível inteligência extraterrestre que pudesse encontrá-la. Ele montou a primeira mensagem universal em uma placa de ouro anodizado lançada ao espaço na Pioneer 10, em 1972. A Pioneer 11, também continha uma placa que foi lançada no ano seguinte. Ele continuou refinando seus desenhos. Mensagens mais elaboradas que ele ajudou a desenvolver, foram gravadas no Voyager Golden Record que foi acomodado nas naves Voyager 1 e Voyager 2, lançadas em 1977.

Carl Sagan foi o autor de muitas obras científicas, dentre as quais figuram clássicos como Cosmos (transformada numa das mais premiadas séries de televisão, vista e aplaudida por mais de meio bilhão de pessoas em todo o mundo), Cometa, Vida Inteligente no Universo, A Conexão Cósmica, Murmúrios da Terra, Os Dragões do Éden, A Sombra dos Antepassados Esquecidos, O Cérebro de Broca – O Romance da Ciência, Pálido Ponto Azul e O Mundo Assombrado Pelos Demônios.

Sem medir esforços para divulgar a ciência, Carl Sagan escreveu ainda o romance de ficção científica Contato (visando atingir o grande público interessado pelo gênero), obra que foi levada para as telas do cinema depois da sua morte. Bilhões e Bilhões, sua última obra, foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora, Ann Druyan, e contém a compilação de artigos inéditos escritos por Sagan, suas reflexões sobre a vida e sobre a morte na longa batalha contra o câncer que lhe tirou a vida.

Fosse pela literatura científica formal ou de divulgação, pela televisão ou cinema, Carl Sagan buscou sempre oferecer ao público – leigo ou especializado – a mais completa e acessível visão científica dos fatos que se fez possível.

Recebeu diversos prêmios e homenagens de centros de pesquisas e entidades ligadas à astronomia em todo o mundo, incluindo 22 títulos honorários de universidades americanas. Quando a sonda Mars Pathfinder Lander pousou em Marte em 1997, ela foi renomeada para Estação Memorial Carl Sagan, e em sua homenagem um asteróide foi registrado como 2709 Sagan.

Ele lecionou na Universidade de Cornell um curso sobre pensamento crítico até sua morte em 1996. O curso tinha um número limitado de participantes e por isso centenas de estudantes disputavam uma matrícula. Ele escolhia os vinte estudantes selecionados através da leitura de enormes pilhas de ensaios. O curso foi descontinuado após sua morte.

Carl Sagan casou-se três vezes: a sua primeira esposa foi a famosa bióloga e co-autora da Teoria de Gaia, Lynn Margulis (mãe de Dorion Sagan e Jeremy Sagan), em 1957; a segunda esposa foi a artista Linda Salzman (mãe de Nick Sagan), em 1968; seu último casamento foi com sua ex-aluna, a escritora Ann Druyan (mãe de Sasha e Sam), em 1981, com quem permaneceu casado até sua morte em 1996.

Isaac Asimov o descreveu como uma das duas únicas pessoas que ele tinha conhecido e que eram claramente mais inteligentes do que ele próprio (Asimov era conhecido por sua inteligência privilegiada). A outra seria o cientista da computação e expert em inteligência artificial Marvin Minsky.

Como já registrei, Sagan morreu em 20 de dezembro de 1996, aos 62 anos de idade, de pneumonia provocada pela mielodisplasia, um raro câncer de medula óssea, no Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson, depois de uma batalha de dois anos contra a doença.

As imagens que você vai ver no vídeo O Pálido Ponto Azul, só foram possíveis porque Carl Sagan teve a idéia de girar a câmera da Voyager para trás, em direção ao planeta Terra, justamente para captar detalhes que pudessem revelar aos seus habitantes as suas verdadeiras circunstâncias e condições, o que só conseguiu depois de muita luta, já que a operação seria bastante trabalhosa e arriscada. Em 14 de fevereiro de 1990, de uma distância de 6,4 bilhões de quilômetros, a Voyager 1 capturou a imagem da Terra, mostrando que o mundo inteiro preenche apenas 0,12 pixel e aparece como um fraco crescente de luz entre as barra indicativas. Os aparentes raios de luz não são raios de sol, mas espalhamentos fora de câmara óptica, como resultado de seu direcionamento para muito perto do sol. Esta humilde perspectiva do nosso amado lar é parte do legado inestimável de Carl Sagan, e ficou conhecida como uma das mais famosas imagens já tiradas do espaço.

Assista ao vídeo e perceba como nós, seres humanos tão importantes, orgulhosos e superiores, somos insignificantes diante da imensidão do universo que cerca o nosso pequeno e pálido ponto azul.


Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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10 comentários:

  1. Olá C.Roberto!
    Gostei muito do post e do vídeo.
    Esse nosso imenso universo sempre sugere temas fascinantes, seja no Cinema, seja na Ciência, como brilhantemente abordado por Carl Sagan. Entretanto, o que mais me chamou a atenção, foi seu comentário no final do artigo. A natureza humana tem dado mostras de que o homem, a cada dia que passa, está mais e mais arrogante, sem se dar conta de que não passa, ante toda essa imensidão, de um pequenino e pálido ponto azul!
    Parabéns, amigo, pelo post!
    Grande abraço

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  2. Obrigado, Neusa!

    Não apenas pelo comentário, mas pela sensibilidade em perceber a principal mensagem do texto, que é a insignificância do ser humano diante do universo. Foi esse o recado que Carl Sagan quis passar para a humanidade!

    Um grande abraço...

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  3. Amigo Carlos Roberto, tenho em minhas anotações o link de um vídeo similar a este, pois pretendia trabalhar o tema numa outra oportunidade. Que coincidência!
    Esta sua postagem está espetacular! Parabéns pela pesquisa e incentivo à reflexão.
    "A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica." Esta frase de Carl Seagan é muito significativa para mim, porque me mostra que, perante o Universo, sou infinitamente menor que um grão de areia...
    Meu afetuoso abraço,
    Yolanda

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  4. Yolanda:

    Um dos objetivos da postagem foi exatamente esse: chamar a atenção das pessoas para a insignificância do Planeta na imensidão cósmica, além, é claro, de buscar a união de todos para a sua melhor preservação. É certo que não podemos evitar as possíveis agressões externas (asteróides, meteoros, etc), que são naturais, mas temos a obrigação de defender a Terra de nós mesmos, dos nossos próprios atos, tais como as queimadas, a emissão de gases CO2, a derrubada das florestas, só para citar alguns.

    Se assim fizermos, o nosso "Pálido Ponto Azul" estará um pouco mais protegido.

    Tenho certeza que não foi demais, também, a história de Carl Sagan, um dos maiores estudiosos da Astronomia que o mundo já conheceu.

    Um abração...

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  5. Olá meu querido Roberto!
    Esse vídeo é espetacular! A prova real do tamanho de nossa "insignificância" no universo! Esse é o único lar que temos! Gostando ou não (como diz o vídeo) é aqui que vivemos, é aqui que todas as espécies interagem. Isso me faz pensar no quanto (até na vida prática) pensamos nas conquistas externas e muito pouco nos preocupamos em zelar e manter o que temos de verdade. Com certeza, meu amigo, há uma força muito maior que nos rege... e esse pequeno pixel que se enxerga, deveria ser habitado por pessoas grandiosas. Pena que boa parte delas conseguem ser menores e mais pálidas do que este ponto...
    Grande beijo e muito obrigada pela linda mensagem!
    Jackie

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  6. Você disse tudo, Jackie: "é aqui que vivemos, é aqui que todas as espécies interagem". Por isso, deveríamos nos preocupar um pouco mais "em zelar e manter o que temos de verdade". Como Carl Sagan diz no vídeo, podemos até pensar em visitar outros mundos, outros planetas, mas viver neles, ao menos por enquanto, é impossível, impensável. Daí a necessidade de preservação do nosso Planeta, do nosso lar, o único que temos!

    O grande problema, a maior dificuldade na luta pela preservação do Planeta, não há dúvidas e você disse muito bem, são as pessoas que "conseguem ser menores e mais pálidas" que o nosso pequeno pixel chamado Terra.

    Um grande abraço...

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  7. Que Post Fantástico, Fantástico e Fantástico!
    Amigo Roberto:
    Com sinceridade, para mim, o seu artigo, coloca-nos no devido lugar, especialmente alguns que sonham com a ambiciosa pretensão eivada de arrogância dilatando por todos os poros a bestialidade de uma insensata pseuda superioridade míope.
    Parabenizo-o ardorosamente pela exaustiva pesquisa para poder nos presentear com mais um super artigo.
    Parabéns pelo Post Magistral!
    Contagiou. Mexeu. Valeu.
    Abraços,
    LISON.

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  8. Lison!

    É essa "ambiciosa pretensão eivada de arrogância dilatando por todos os poros a bestialidade de uma insensata pseuda superioridade míope" que impede o ser humano de enxergar a realidade mostrada no vídeo que acompanha o nosso texto.

    Não fosse isso e ele perceberia, até com certa facilidade, que não somos superiores a ninguém como pessoas, e muito menos como mundo, pois como diz o próprio Sagan, “o nosso planeta é um pontinho solitário na grande escuridão cósmica circundante. Em nossa obscuridade, em meio a toda essa imensidão, não há nenhum indício de que, de algum outro mundo, virá socorro que nos salve de nós mesmos. A Terra é, até agora, o único mundo conhecido que abriga a vida. Não há nenhum outro lugar, ao menos no futuro próximo, para onde nossa espécie possa migrar. Para visitar, sim. Para se estabelecer, ainda não. Gostemos ou não, a Terra é por enquanto o único lugar em que podemos viver”.

    E muito interessante também é a parte final do vídeo, onde Carl Sagan diz: “Certamente não há melhor demonstração da tolice das vaidades humanas do que essa imagem distante de nosso minúsculo mundo. Para mim, ela revela a responsabilidade de nos relacionarmos mais gentilmente uns aos outros, para preservarmos e amarmos este pálido ponto azul, o único lar que conhecemos”.

    Acho desnecessário qualquer outro comentário!

    Um grande abraço, Lison...

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  9. Voce me fez lembrar de meu pai que adorava Carl Sagan, comprava livros e líamos, depois ficávamos conversando. Ele acreditava em outras formas de vida inteligentes em outros mundos.

    Carlos, gostei muito do texto e video apresentado.

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  10. Olá, Sissym!

    Como seu pai, eu também acredito que pode haver vida fora do nosso Planeta. Por que não? Por que seríamos os privilegiados num espaço cósmico de proporções inimagináveis?

    O próprio Carl Sagan acreditava nisso, tanto que montou a primeira mensagem universal em uma placa de ouro anodizado, que foi lançada ao espaço com a nave Pioneer 10, em 1972.

    Se um homem com o grau de inteligência e conhecimento dele acreditava nessa possibilidade, por que eu, um mísero mortal iria duvidar?

    Eu e seu pai podemos ter razão! Quem sabe?

    Um abração...

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