Segundo a Polícia Federal, existem cerca de 300 gravações de telefonemas trocados entre o senador Demóstenes Torres (GO), líder do DEM no Senado, que revelam, entre outras coisas, que ele pediu dinheiro e vazou informações de reuniões oficiais a Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, acusado de chefiar a exploração ilegal de jogos em Goiás. Um relatório com todas as gravações e outros indícios da ligação entre os dois foi enviado à Procuradoria Geral da República, pasmem, há três anos, mas Roberto Gurgel, chefe da instituição, não tomou qualquer iniciativa para investigar e esclarecer o caso. O mesmo documento aponta ligações comprometedoras entre os deputados Carlos Leréia (PSDB-GO) e João Sandes Júnior (PP-GO) com Cachoeira.
Fruto de uma investigação feita três anos antes da deflagração da "Operação Monte Carlo", o relatório mostra os vínculos entre Demóstenes e Cachoeira.
Numa das gravações, por exemplo, Demóstenes pede para Cachoeira “pagar uma despesa dele com táxi-aéreo no valor de R$ 3 mil”. Em outra, o parlamentar pede um jatinho emprestado. Numa terceira, queixa-se do seu iPad que deixou de funcionar, problema prontamente resolvido por Cachoeira, que providenciou outro novinho em folha. Antes disso, ele já presenteara Demóstenes com um fogão e uma geladeira no valor de R$ 30 mil. O documento informa também que o senador teria feito “confidências” a Cachoeira sobre reuniões reservadas sobre assuntos de segurança pública das quais ele participou no Executivo, no Legislativo e no Judiciário. A partir de certo momento, os dois passaram a se falar por meio de um aparelho Nextel (tipo de telefone) “habilitado nos Estados Unidos”, e, portanto, imune a grampos.
O relatório dá a entender que Cachoeira e Demóstenes seriam parceiros no império do jogo desde 2006. A organização, amparada em oito mil máquinas caça-níqueis e 1,5 mil pontos de bingos, teria arrecadado nos últimos seis anos cerca de R$ 170 milhões. Um terço da dinheirama ficou com o senador, que fez do combate à corrupção a sua bandeira eleitoral.
Não é novidade pra ninguém que a maioria dos políticos chafurda na lama da corrupção. O que assusta é saber que homens como Demóstenes, que nem de longe parecia ser um deles, faça parte do mesmo chiqueiro.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |