O surgimento dos moradores de rua é um dos reflexos da exclusão social.
A cada ano, mais indivíduos utilizam a rua como moradia, o que pode ser explicado pela ausência de vínculos familiares, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas, doença mental, entre outros fatores.
Entre os anos de 2007 e 2008, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome realizou uma pesquisa em 71 cidades brasileiras com população superior a 300 mil habitantes, com destaque para as capitais (à exceção de Belo Horizonte, Recife, São Paulo e Porto Alegre), cujos dados revelaram que, à época, haviam 31.922 indivíduos que utilizam as ruas como moradia, número bastante respeitável se consideramos que cidades com elevada densidade demográfica não foram incluídas no estudo.
Segundo a pesquisa, naquela ocasião, os municípios brasileiros com maior quantidade de moradores de rua eram o Rio de Janeiro (4.585); Salvador (3.289); Curitiba (2.776); Brasília (1.734); Fortaleza (1.701); São José dos Campos (1.633); Campinas (1.027); Santos (713); Nova Iguaçu (649); Juiz de Fora (607) e Goiânia (563).
Essa situação só pode ser explicada pela ineficácia ou inexistência de políticas públicas, que mesmo quando são deflagradas, não atacam a causa do problema, tentando apenas suprir as necessidades básicas de sobrevivência, sem buscar uma explicação acerca das causas que fazem surgir essa parte da papulação. O desinteresse do Estado pelas pessoas que se encontram nessa situação, não tenho dúvidas, influencia diretamente o comportamento da sociedade, que vê o morador de rua com preconceito e indiferença, um simples necessitado da compaixão humana.
Hoje, por exemplo, a Páscoa na Catedral Metropolitana foi comemorada com um almoço oferecido a moradores de rua após a missa de domingo, ocasião em que cerca de 1.200 refeições foram distribuídas. O arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, serviu pessoalmente alguns dos presentes, que degustaram a feijoada acompanhada de arroz, farofa, couve, laranja, guaraná natural e bombom.
- Este é um dia diferente e queremos oferecer alguma dignidade para essas pessoas - afirmou Dom Orani.
Esse tipo de "esmola" resolve o problema? Por que algumas pessoas só têm direito à dignidade em dias específicos? Por que a sociedade não exige dos políticos e autoridades as iniciativas capazes de acabar de vez com esta situação deprimente e vergonhosa? Quanto você acha que se poderia fazer por eles usando apenas parte do dinheiro que se esvai pelo ralo da corrupção? Por que a Igreja, de tanta riqueza e poder, só se lembra dessa gente em ocasiões isoladas, como na Páscoa, por exemplo?
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |