01 julho 2012

Benoni Albernaz, o homem que torturou Dilma Rousseff

Na semana passada, mais precisamente no dia 24, o Dando Pitacos falou sobre a "Comissão da Verdade", instalada pela presidente Dilma Rousseff com o objetivo de apurar violações aos direitos humanos ocorridas entre 1946 e 1988, período onde se incluem os "anos de chumbo" da ditadura militar. Se vivo estivesse, o capitão Benoni de Arruda Albernaz certamente seria um dos investigados. Com 37 anos à época, era ele o chefe da equipe de interrogatório preliminar da Operação Bandeirante - Oban quando Dilma Rousseff, então com 23 anos, foi presa, em janeiro de 1970.

Albernaz nasceu em São Paulo e seguiu a carreira do pai, também militar. Foi o 107º classificado na turma de 119 aspirantes a oficial de artilharia em 1956, mesmo ano em que se casou. Serviu no Mato Grosso do Sul antes de ser transferido para Barueri, em São Paulo, no início dos anos 1960. Estava em férias na noite do golpe militar de 1964 e, ainda assim, apresentou-se espontaneamente para o serviço.

Em 1969, representou o comando de sua unidade na posse do secretário de Segurança Pública de SP, o general Olavo Viana Moog, um dos futuros comandantes do grupo que exterminou a Guerrilha do Araguaia. No mesmo ano, foi convocado pelo general Aloysio Guedes Pereira para servir na recém-criada Oban, uma espécie de centro de investigações montado pelo Exército para combater a esquerda armada. Foi lá que Dilma o conheceu.

- Quem mandava era o Albernaz, quem interrogava era o Albernaz. O Albernaz batia e dava soco. Começava a te interrogar; se não gostasse das respostas, ele te dava soco. Depois da palmatória, eu fui pro pau de arara - disse a presidente em depoimento dado, no início dos anos 2000, para o livro “Mulheres que foram à luta armada”, de Luiz Maklouf Carvalho.

Num outro relato feito em 2001 à Comissão de Direitos Humanos de Minas Gerais, Dilma afirmou que já tinha levado socos ao ser interrogada em Juiz de Fora - MG, em maio de 1970, e que seu dente “se deslocou e apodreceu”. No mesmo depoimento, ela explicou:

- Mais tarde, quando voltei para São Paulo, Albernaz completou o serviço com socos, arrancando meu dente.

O carrasco Albernaz dizia aos presos que era "muito burro", razão pela qual precisava ouvir respostas claras, e quando isso não acontecia entrava em cena um telefone de magneto, que servia, segundo ele, para “falar com Fidel Castro”, metáfora utilizada para  explicar a aplicação de choques elétricos, como relatou Elio Gaspari, no livro “A Ditadura Escancarada”.

Mas nem tudo foram flores na vida de Albernaz. O trabalho na Operação Oban fez com que ele caísse em desgraça na própria família. Aposentado e dono de uma fazenda em Catalão - Goiás, o pai se chateava ao saber do comportamento do filho:

- Ele usava o poder que tinha para extorquir as pessoas, e o pai ficava triste. Sempre foi uma família esquisita, muito desunida - conta a dona de casa Maria Lázara, de 60 anos, irmã de criação do capitão.

Benoni Albernaz deixou a Oban em fevereiro de 1971, quando o aparelho já havia se transformado no DOI-Codi. Por três vezes tentou fazer o curso de operações na selva, mas teve a matrícula recusada. Foi transferido para o interior do Rio Grande do Sul, passando da caça a comunistas às operações de rotina em estradas de fronteira. O Exército em nome de quem ele torturou, dava pra perceber, tentava renegá-lo. Em março de 1974, foi internado em Porto Alegre, vítima de envenenamento.

Se isso não bastasse, Albernaz começou a enfrentar problemas financeiros, tendo sido denunciado pelo menos cinco vezes por fazer dívidas com recrutas e não pagá-los, apesar das advertências de seus superiores. Estava lotado no setor medalhístico da Divisão de Finanças do Exército, em Brasília, quando foi declarado inabilitado para promoções, por não satisfazer a dois requisitos: “conceito profissional” e “conceito moral”. Em março de 1977, o presidente Ernesto Geisel o transferiu para a reserva.


Quinze anos depois e ao contrário do que ele mesmo esperava, os caminhos percorridos por Albernaz não o levaram à condição de herói nacional. Registro bem diferente foi associado a seu nome na sentença do Conselho de Justiça Militar em que foi condenado a um ano e seis meses de prisão por falsidade ideológica, por ter se passado por coronel (ele foi reformado como major), utilizando uma farda e carteira falsificadas para coagir pessoas na compra de terrenos. "Ética, moral, prestígio, apreço, credibilidade e estima são valores que o militar deve desfrutar junto à sociedade e ao povo de seu país. A fé militar e o prestígio moral das instituições militares restaram danificadas pelo comportamento do réu", foi a conclusão a que chegou o presidente do conselho, João Baptista Lopes.

No fim dos anos 1980, atolado em dívidas, Albernaz não conseguiu pagar uma hipoteca e foi acionado pelo menos quatro vezes em ações de execução extrajudicial. Em 1992, quando estava na casa da namorada, nos Jardins - SP, sofreu um infarto e chegou morto ao Hospital do Exército. Era o fim da linha do homem de sobrancelhas arqueadas, riso de escárnio e que socava presos políticos indefesos, como Dilma Vana Rousseff, a futura presidente do mesmo Brasil a quem ele fazia juras de amor. Coisas do destino...





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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