21 agosto 2012

Saúde e eleições na Baixada Fluminense: é a sua vez, cidadão!

É vergonhosa a estrutura da saúde na Região Metropolitana do Rio de Janeiro - RJ. Segundo dados fornecidos pelo Sistema Único de Saúde - SUS, no ano passado, doze municípios que compõem o Consórcio Intermunicipal de Saúde da Baixada Fluminense, formado por Belford Roxo, Duque de Caxias, Itaguaí, Japeri, Magé, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São João de Meriti e Seropédica, mandaram para internação em hospitais de outras cidades 31.687 pacientes, o que equivale a 45% de todos os doentes atendidos fora dos municípios de origem.

Nessa vergonhosa romaria, onde o maior prejudicado é exatamente o cidadão contribuinte, Nova Iguaçu encabeça a lista dos municípios que mais exportaram seus doentes, mandando nada menos que 12.207 pessoas para internação em outras cidades, numa aterradora média de 33 pacientes por dia.

Outro município que chama a atenção em matéria de omissão na saúde pública é Mesquita, onde o único hospital até então existente, o Leonel de Moura Brizola, foi fechado há cerca de um ano. Com isso, em 2011, nenhum paciente foi internado naquele município, o que fez com que 3.034 pacientes fossem mandados para outras cidades.

Como sempre acontece, a prefeitura de Mesquita usou a falta de recursos como o principal motivo para o fechamento do hospital da cidade: segundo a nota divulgada, "o município não estava recebendo repasse da União e nem do Estado, e não tinha condições de custear a manutenção". O outro motivo alegado foi “a demissão em massa dos médicos para buscar empregos nas UPAs - Unidades de Pronto Atendimento”, pois “Mesquita pagava R$ 5 mil mensais, enquanto o Estado paga mais do que o dobro”.

A prefeitura de Nova Iguaçu, município que mais enviou pacientes para outras cidades no ano passado, ressaltou em nota que também absorve muitos pacientes da Baixada, no Hospital da Posse, realizando atendimentos de urgência e emergência com média e alta complexidade, tanto clínicos como cirúrgicos. A unidade, segundo a nota “segue as diretrizes do Ministério da Saúde e adotou o Programa QualiSUS e a Política Nacional de Humanização”. Todo mundo tem uma explicação, não é verdade? 

No setor de cirurgia vascular do Hospital Souza Aguiar, por exemplo, 50% dos pacientes são da Baixada Fluminense. No total da unidade, são 25%. Segundo a direção, o pactuado com os municípios vizinhos é 10%, o que levou o secretário municipal de Saúde do Rio, Hans Dohmann, a fazer um comentário interessante:

- A sensação que temos é que, quando abrimos uma nova unidade aqui, uma se fecha num município vizinho.

O consórcio que reúne os municípios da Baixada é presidido pelo prefeito de Belford Roxo, Alcides Rolim, que admitiu, em nota, que a região tem um déficit de seis mil leitos, mas ressaltou iniciativas como a conclusão das obras do Hospital de Queimados, com recursos da União, e a construção pelo Estado de um Hospital de Trauma, em Nova Iguaçu. Ainda de acordo com a nota distribuída, o consórcio sabe “que as ações em curso não serão suficientes para zerar o déficit de mais de 40 anos de baixíssimos investimentos no setor, mas temos certeza que a peregrinação de pacientes rumo à capital já diminuiu sensivelmente”. Diminuiu para ele, Alcides Rolim, que se precisar, tem tratamento de Primeiro Mundo, especial. O cidadão comum vai continuar morrendo por falta de socorro.


Regina Célia, que mora em Belford Roxo, está no Souza Aguiar há cerca
de 90 dias porque não tem como fazer curativos perto de casa
(foto: Mário Alves/O Globo)

Um bom exemplo da atual situação é Regina Célia Nogueira, de 65 anos, moradora de Belford Roxo, que há cerca de três meses chegou ao Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio, pela emergência da unidade, depois que o agravamento de um quadro de diabetes fez com que ela precisasse de uma cirurgia vascular. O longo tempo de espera para voltar para casa após o procedimento é explicado por sua acompanhante, Vanessa Carolina da Silva Félix:

- Perto de casa não tem um lugar onde ela possa fazer os curativos. Aí, precisa ficar internada aqui, porque os filhos não teriam condições de trazê-la para o Rio todos os dias.

Para que você tenha uma ideia do descaso de prefeitos de ontem e de hoje, é bom que se frise, veja o gráfico abaixo, que mostra o que gastaram por dia com a saúde de cada um de seus habitantes as 15 cidades da Baixada Fluminense e tire suas próprias conclusões.




Não falta dinheiro para pagar a cambada de vereadores que vai às Câmaras das cidades da Baixada apenas para apresentar projetos cujo objetivo é troca do nome de alguma rua, medalhinhas de mérito e outras baboseiras; não falta dinheiro para a contratação de assessores destes verdadeiros "fiscais da natureza"; não falta dinheiro para a corrupção que a mídia estampa diuturnamente. Mas para atender o cidadão que paga por tudo isso, claro, lógico e evidente, "não há recursos".

Na verdade, a questão da saúde na Baixada Fluminense é de verdadeira omissão de socorro, via de regra com mortes, motivo suficiente para que os responsáveis já estivessem há muito tempo na cadeia, se o Brasil fosse um país sério, obviamente.

O pior de tudo, e este é o grande trunfo dos profissionais políticos que se eternizam no poder, é que a sociedade não está nem aí para esse tipo de assunto. Por isso, acaba tendo o que merece. Mas como a esperança é a última que morre e torço para queimar a minha língua, as novas eleições estão aí. E você sabe quem são os candidatos? Os mesmos de sempre, com novas promessas, é claro: "vamos mudar", "vamos fazer mais do que fizemos", "o sonho não pode morrer", "tamo junto", "pior do que tá não pode ficar" e por aí afora. É a sua hora, cidadão sofrido, maltratado, humilhado e constrangido! É a sua chance de devolver o que recebeu até aqui dos maus políticos. Ou será que você vai preferir continuar morrendo na porta dos hospitais? O voto é a sua arma! Utilize-a com consciência...





Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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