27 fevereiro 2013

Grupo evangélico agride família espírita no ABC paulista


A intolerância religiosa, que muitos tentam negar, mostra sua face mais uma vez, e agora de forma violenta. Cerca de dez pessoas que faziam parte de um grupo evangélico invadiu um apartamento de um conjunto habitacional do Jardim Santo André, em Santo André - SP, e agrediu o proprietário do imóvel, um pintor de 41 anos, na frente da mulher e três filhas.

A vítima, cujo nome não foi revelado, incomodada com o barulho que o grupo fazia durante um culto realizado no apartamento logo abaixo do seu, após as 22h, foi ao síndico do prédio e reclamou, o que bastou para desencadear a reação extrema. A porta de seu apartamento foi arrombada pelos "religiosos", que o agrediram e destruiram vários móveis existentes na residência, ao argumento, pasmem, de que o pintor estaria com o diabo no corpo. Segundo as denúncias, as pregações lideradas pelo grupo começam pela manhã, aos gritos, e vão até a madrugada, sem qualquer providência por parte da administração do condomínio.

A mulher da vítima, que também não quis revelar o nome por medo de represálias, revelou que sua família vem sendo perseguida há pelo menos sete anos, desde que a vizinha e agressora, identificada como Isolina dos Santos, de 60 anos, ficou sabendo que ela é espírita. O relacionamento entre as famílias foi cordial até o momento em que Isolina tomou conhecimento da opção religiosa do pintor e seus familiares. Até cestas básicas e roupas ela já teria recebido da família da vítima.

Ainda segundo a denunciante, quatro boletins de ocorrências relatando injúrias e agressões raciais já foram registrados no 6º Distrito Policial da cidade, que fica no Jardim do Estádio, sem nenhum resultado prático até agora.

- Já chamei ela (Isolina) para conversar aqui na minha casa, mas ela diz que não aceita falar com gente da minha cor e religião - reclama a mulher, que já foi visitada até mesmo por uma equipe da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano - CDHU, órgão responsável pelos conjuntos do bairro, com o objetivo de verificar se ela realizava sacrifícios com animais dentro de seu apartamento. As janelas e portas da casa ficam fechadas constantemente, para evitar que Isolina jogue objetos ou puxe as roupas do varal.

- Não posso receber visitas porque ela fala que vou fazer macumba - lamenta.

O pintor, vítima da agressão, foi socorrido no Pronto Atendimento Municipal da cidade. Entre outros ferimentos, ele teve a clavícula deslocada.

- Você não espera que vai acontecer algo assim - completa a mulher.

O pior de tudo, consequência direta da impunidade, é que um familiar de Isolina ainda sugeriu, de forma debochada, que se a mulher do pintor está se sentindo ameaçada "tem mais é que ir à delegacia e buscar os seus direitos." Ela já foi, em quatro ocasiões distintas. E o que fez a lei até agora? Religião, política e futebol, todo mundo sabe, são questões sempre polêmicas, e muitos não gostam de discuti-las. Mas a intolerância, dirigida a qualquer grupo e em qualquer nível, mesmo quando não configura crime, deve ser repudiada e combatida por todos nós. Você concorda? Deixe o seu comentário.









Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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