Ariovaldo Junior (foto: reprodução) |
Sinal dos tempos, que exige uma linguagem mais atualizada ou simplesmente uma nova fórmula para atrair a atenção dos religiosos? E as expressões utilizadas, traduzem de forma correta o texto bíblico? Estão na medida certa, são apelativas, ou mais grave ainda, desrespeitosas? Preste atenção na releitura que o pastor Ariovaldo Junior, fundador da Igreja Manifesto Missões Urbanas de Uberlândia, fez em sua Bíblia Freestyle (Estilo Livre, em português) sobre "A genealogia de Jesus Cristo" (Mateus, 1):
"Livro da geração de Jesus, o cara. Da descendência de Davi e também de Abraão. Depois de Abraão, muito sexo foi feito e muitas crianças nasceram por conta disso. Essas crianças cresceram, tornaram-se adultos e também fizeram mais sexo ainda. Até que quarenta e uma gerações se passaram e nasceu um cara muito jóia chamado José.
Esse tal de José era especial por que quando a dona Maria (sua noiva) apareceu dizendo que tava grávida do Espírito Santo, ele obviamente sentiu que isso cheirava a chifre. Mas sendo um cara legal pra caramba, resolveu terminar o noivado discretamente. Mas naquela noite um anjo apareceu no meio de um sonho e de maneira bem convincente o persuadiu a aceitar a missão de ser pai do filho de Deus, que se chamaria Jesus. Eita homem santo esse tal de José!
O moleque que se chamaria Jesus, além de nascer de uma virgem (pra não desmentir a profecia), também viria pra salvar o povo das cagadas deles.
José, cabra macho e obediente, não transou com a dona Maria até que nascesse o menino que o ultrassom celestial havia prometido".
Aqui, ele interpreta um pequeno trecho de "As mulheres que serviam a Jesus com os seus bens" (Lucas, 8):
Ariovaldo explica que começou a escrever os textos por hobby, até que percebeu que poderia falar de religião de uma forma mais abrangente, unindo humor e cultura contemporânea.
"Depois disso, Jesus foi fazendo turnê de cidade em cidade, parando em cada currutela no caminho junto com seus discípulos e falando sobre as boas notícias de Deus. Junto também iam algumas mulheres que tinham sido curadas de doenças e libertas de capetas, tipo Maria Madalena (que mais parecia um pudim de capeta), Joana (mulher do cara que representava o governador Herodes em assuntos que ele não podia ir pessoalmente) e Suzana. Essas e outras mulheres eram generosas com os bens que tinham e colaboravam em tudo".
Ariovaldo explica que começou a escrever os textos por hobby, até que percebeu que poderia falar de religião de uma forma mais abrangente, unindo humor e cultura contemporânea.
- Na verdade eu escrevi alguns textos para mim mesmo, tentando contar as histórias da vida da maneira que a gente conversa no dia a dia. Quando publiquei isso na internet comecei a divulgar em redes sociais. E várias pessoas passaram a me escrever dizendo que eu devia fazer a Bíblia toda.
Nas ruas, as opiniões se dividem. O motorista Aparecido Reis da Silva, por exemplo, acha que a obra do pastor mineiro está “muito fora dos padrões, até porque o Livro da Vida é a Bíblia e este linguajar não cabe muito bem”. Já para a estudante Thays Silva “a Bíblia é algo de respeito. E isso ficou muito vulgar”. Para a pesquisadora Sidneia Silva, a mudança de estilo não é aconselhável.
- A Bíblia tem que ser aquilo que nós vemos, da maneira como está escrita. Se eu mudar uma palavra, uma pessoa mudar outra, como vai ficar daqui a algum tempo - questionou.
Para o teólogo Manoel Messias há pontos positivos e negativos no trabalho de Ariovaldo.
- Em alguns textos, como o prólogo de João, o capítulo 6 de Mateus, o pastor mantém a ideia do texto, embora com uma linguagem totalmente nova e, provavelmente, adequada ao público que ele tem interesse de levar esta Palavra. Em outros lugares, ele faz uso de alguns termos que talvez sejam um pouco fortes e desnecessários. Nestes casos, talvez altere um pouco o sentido do texto original - explicou Messias.
Ariovaldo diz que já sabia que nem todos iam concordar com sua releitura da Bíblia.
- A discordância vem por causa da resistência que as pessoas têm à mudança do paradigma, da maneira de se falar - avalia ele, explicando que escreve pelo menos um capítulo da Bíblia por dia e espera publicar a versão completa e impressa até o fim do ano que vem, e que não pretende desistir de sua evangelização ao estilo rock and roll .
- As críticas chamam muito a atenção, fazem muito barulho. Mas a quantidade de pessoas que têm escrito e dito que têm sido abençoadas por este trabalho compensa todo o esforço - concluiu.
No site, é importante destacar, o pastor explica que seu trabalho "é uma proposta de leitura bem humorada das Escrituras Sagradas, interagindo com a cultura pop da geração Y. Não é uma tradução, não possui fins acadêmicos e nem sequer a pretensão de substituir uma leitura bíblica integral. Mas, quem sabe, com um pouco de humor, muitos que nunca tiveram contato algum com o texto bíblico sejam animados a estudar e aprender um pouco mais". E acrescenta: "se você ficou ofendido com alguma coisa aqui, sentimos muito. Este site não é para você. Feche-o e finja que nunca nem ouviu falar dele".
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Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |