22 maio 2013

A medicina do Paracetamol

Dilma Roussef e o ditador Raúl Castro, em recente encontro (foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

Hoje, por puro acaso, vi no Facebook a postagem em que o deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS), num vídeo gravado em audiência pública conjunta das Comissões de Relações Exteriores e de Seguridade Social e Família, faz duras criticas à tentativa que se esboça no Planalto de importar médicos estrangeiros sem a aprovação do Sistema de Revalidação de Diplomas Médicos - REVALIDA para resolver a questão da saúde no Brasil. Também acredito, como ele, que tudo não passa de uma manobra eleitoreira visando as de 2014.

Mas o que mais chamou a minha atenção foi o comentário feito sobre o tema pelo usuário Alexandre Arraes, cujo conteúdo, que todas as pessoas de bom senso deste país deveriam ler e analisar, segue logo aí abaixo:

"Escrevi esse desabafo há pouco, no mural de mais um amigo que resolveu descascar os médicos no seu perfil do facebook, em virtude desse debate sobre a importação de médicos cubanos... Deixei no meu perfil pra que aqueles que não são da área possam botar um pouco a mão na consciência... Vou substituir o nome do cara do início do texto, o resto vai na íntegra:
Fulaninho, eu sou membro dessa categoria que você, com extrema classe, disse não respeitar. Discordo veementemente do modo esquerdista de ver o mundo, mas tento não deixar isso influenciar em qualquer conversa, e não pretendo fazer isso agora, mas peço que reflita sobre o que vou dizer.
Não acredito que os médicos cubanos sejam solução. Nem os espanhóis, nem portugueses, nem americanos, suíços, ou até mesmo brasileiros, extra-terrestres ou os mais belos anjos. O problema é estrutura. Digo isso com conhecimento de causa, visto que eu trabalho e trabalhei no SUS nos últimos 4 anos em que estive formado. De que adiantará um médico em qualquer localidade que seja, quando não se possui o MÍNIMO para trabalhar? Medicina é mais que estetoscópio e conversa. É saneamento básico, é educação, é leito hospitalar, é exame laboratorial, é ultrassonografia, é tomografia, ressonância, é UTI, centro cirúrgico, é fisioterapia pós-operatória... dentre outros.
Eu já trabalhei em vários interiores, mesmo sendo membro dessa categoria "corporativista e de reserva de mercado" (em suas palavras). O meu primeiro paciente, o primeiro que eu vi na minha frente como médico, em uma USF a 400 km de Recife, possuía um quadro de icterícia obstrutiva, e estava ali, na minha frente, com dor e amarelo da cabeça aos pés. A conduta correta seria interná-lo pra investigar o que estava acontecendo. Falo com a minha enfermeira, ela diz que isso não é possível. Não havia leitos para alocá-lo, muito menos exames a serem realizados. Medicação no posto? Paracetamol. O tylenol que você toma. Consegui, a duras penas, pedindo favor pra amigo residente na capital e transporte de CARONA, levar o pobre coitado pra Recife, onde foi realizada uma tomografia que constatou um tumor de pâncreas. Eu gostaria de saber o que o colega cubano, em locais mais inóspitos ainda, poderia ter feito. Porque nem medicação pra deixar o cara confortável em casa dava pra arrumar. E você se vira nos 30, tentando, de alguma forma, ajudar o cara, e ainda morrendo de medo de levar um processo nas costas, porque ninguém quer saber se você tinha ou não condições de trabalho. Tem que fazer feito o Harry Potter e fazer as coisas acontecerem em passe de mágica. Isso foi UM paciente.
Na mesma manhã, atendi mais 19. Doente no interior não tem só hipertensão e diabetes. E mesmo quando o problema são as doenças mais básicas, elas complicam. Acidente vascular encefálico, pé diabético, crise hiperosmolar, infarto agudo do miocárdio... nada disso vai ser resolvido com "tome este comprimido duas vezes ao dia e retorne em duas semanas".
Gostaria também de salientar que não são fornecidas, na grande maioria, as mínimas condições para que se realize um atendimento de qualidade. Dos diversos empregos que tive (mudei de alguns, porque levei CALOTE de prefeitura), em apenas UM eu tinha consultório, com uma porta e uma maca, que dava pra examinar alguém decentemente. Em TODOS OS OUTROS, trabalhei atendendo gente em varanda de casa (com dois cachorros que viviam puxando a barra da minha calça no meio do atendimento - muito divertido, queriam brincar, mas eu tinha que trabalhar), sala de aula em escola (dividindo o momento de atendimento médico, confidencial e sigiloso, com a turminha aprendendo o ABC), e até mesmo uma DESPENSA de um 1,5 metro quadrado, em que só cabia eu mesmo, sentado numa cadeirinha no escuro, escutando o coitado do paciente, de pé, na porta. Vale relatar que todas essas referências que fiz quantos aos meus "consultórios" referem-se a cidades a não mais do que 100 km de distância de Natal. Quiçá outras localidades. Pra conseguir exame de sangue? 2, 3 semanas de atraso. Ultrassonografia? Vixe, um mês. Tomo? Ressonância? Mais fácil acabar a seca no sertão. Por melhores que sejam as intenções da atuação na medicina preventiva, caro Daniel, pessoas adoecem. Câncer acontece. Infarto também. Fratura. Pneumonia. Crise asmática. Pé diabético, AVC, parto complicado, pré-eclâmpsia.
Plantões de emergência em interior? Tente realizar uma reanimação de parada cardíaca, quando você sabe o que fazer, e o monitor dos dois desfibriladores não funciona. Ou então transferir um paciente com um acidente vascular encefálico hemorrágico, entubado, em uma ambulância que nada mais é que uma FIORINO, passando três horas debruçado em cima dele, fazendo a ventilação mecânica e balançando de um lado pra outro na "caçamba" da "ambulância". Sabe o que aconteceu com o pobre coitado? Faleceu... Porque quando chegou na unidade de referência, havia mais 8 pacientes com quadro similar, ou piores no hospital de referência, e não existiam meios para fornecer o tratamento necessário àquele doente. E você faz tudo isso, passa horas tentando salvar o cara, pra saber que o sistema não te ajuda. E no fim de tudo, ainda arrisca levar um processo que vai te custar até as calças, porque a família não quer saber de nada disso. Só quer a compensação. Cada doente que eu atendo em condições inóspitas para a prática da minha profissão, é um risco que eu corro. CADA UM. Se eu deixar de diagnosticar qualquer coisa, a culpa é minha. É erro médico. E vocês, que estão do outro lado, não querem saber de nada, só querem enfiar a porrada. Manda um engenheiro projetar um prédio de 50 andares com um lápis e uma régua, sem transferidor. E fala pra ele que os tubos não podem ser Tigre. Que a fiação elétrica não pode ser aterrada. Que faltou dinheiro pra comprar a argamassa e ele vai ter que se virar com barro. E pergunta pra ele se ele quer trabalhar assim".

A iniciativa de autorizar a vinda para o Brasil de médicos cubanos (agora já se fala também em profissionais portugueses e espanhóis) é criticada pelo próprio Conselho Federal de Medicina - CFM.

- É temerário e traz grandes riscos à população - disse o presidente em exercício, Carlos Vital.

Para ele, esses os médicos cubanos são formados "em escala industrial e sem qualidade".

- Uma política que supõe a premissa de 6.000 médicos de Cuba sem revalidação de diploma é absolutamente incoerente. Só podemos encontrar explicação em fins eleitoreiros. Não há outra explicação -  afirmou Vital, que classificou a medida como ilegal, pois qualquer médico formado no exterior que pretenda atuar no Brasil tem que fazer o Revalida.

No ano passado, 182 profissionais que estudaram em faculdades cubanas se inscreveram para revalidar seus diplomas no Brasil. Apenas 20 foram aprovados. Em 2011, dos 140 inscritos, só 15 passaram.

Acho que já está passando da hora das pessoas de bem desse país deixarem de lado a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, eventos com os quais o governo tenta nos anestesiar, e focar a atenção e mobilização no verdadeiro circo dos horrores que se avizinha, não para eles, os políticos, é óbvio, mas para nós, cidadãos contribuintes e eleitores, ao menos até aqui, incompetentes. 

Assista ao vídeo com atenção e compartilhe o texto. O Brasil agradece!







Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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