05 maio 2013

Empregada doméstica "vira" ministra do TST

Delaíde Arantes (foto: reprodução)

Delaíde Alves Miranda Arantes, 60 anos,  é ministra do Tribunal Superior do Trabalho - TST, cargo para o qual foi nomeada em 1 de março de 2011, mas antes de chegar lá plantou milho e feijão, além de trabalhar como empregada doméstica.

Filha de agricultores, Delaíde nasceu e foi criada na cidade de Pontalina, no interior de Goiás, onde junto com os oito irmãos, ajudava o pai na lavoura, plantando milho e feijão. Saiu do campo Aos 14 anos para concluir o ensino fundamental na cidade, onde trabalhou, como eu já disse, primeiro como empregada doméstica, e depois, como recepcionista no consultório de um médico, que foi quem a incentivou a estudar.

Aos 19 anos, ela mudou-se para Goiânia, onde voltou a trabalhar como empregada doméstica enquanto estudava. O curso de Direito, sua opção, começou quando ela tinha 23 anos, no Centro Universitário de Goiás, pago com recursos do antigo Crédito Educativo, programa de bolsa estudantil financiado pelo governo federal. Depois de colar grau, Delaíde deixou o emprego de doméstica e foi estagiar em um escritório de advocacia, onde se especializou em Direito do Trabalho. Depois de formada, abriu sua própria banca, especializada na área trabalhista, onde batalhou por cerca de 30 anos.

Em 2011, depois de indicação da Ordem dos Advogados do Brasil - OAB, ela foi indicada para ocupar uma vaga de ministro do Tribunal Superior do Trabalho - TST, para o qual foi nomeada por Dilma Rousseff. Conheça sua história.

"Meu sonho sempre foi trabalhar com Direito. Uma vez me perguntaram: como é o caminho de empregada a ministra? Olha, foi tão longo que nem dá para fazer uma ligação direta.
Fui doméstica aos 15 anos, em Pontalina (GO), para ajudar a custear meus estudos, comprar livros. Fiquei nesse emprego por um ano.
A segunda ocasião foi ao sair da minha cidade. Fui para Goiânia e trabalhei em uma república de moças. Eu morava lá, mas não pagava aluguel, prestava esses serviços. Fiquei lá seis meses.
Sou a filha mais velha de nove irmãos. Fui a primeira a sair de casa e a primeira a me formar no nível superior. Depois de mim, outros irmãos também fizeram faculdade.
Desde menina me dei conta de que a situação financeira da minha família era muito ruim. Vovó dizia que tinha receio de a minha mãe passar dificuldade. Eu pensava: vou ajudar meus pais.
Lembro de pedir a Deus para me ajudar a conseguir estudar. Papai me dizia que era muito difícil, éramos muitos filhos e eles não tinham recursos. Estudei bastante. Minha escola ficava a 2,5 km de casa. Ia e voltava a pé.
Lembro-me de um episódio em que um primo foi me ajudar a arrumar um emprego. Ele ligou para um político que frequentou a casa do meu avô e, quando explicou quem eu era, o interlocutor emendou: "Neta do Cipriano não pode ser".
O que ele queria dizer era: aquela família era tão simples que eu não poderia ter preparo para trabalhar em um escritório de advocacia. Trabalhei lá por seis meses.
No interior existem poucas atividades culturais. Em Pontalina só tinha uma sala de cinema, que exibia filmes alguns dias do mês.
O que tinha sempre era seção do Tribunal do Júri. A população ia lá assistir e ficava encantada. Eu também.
Sempre soube que era isso que queria. Fiz contabilidade e depois o curso de Direito.
Nesse período, em Goiânia, trabalhei em vários lugares: em loja de material de construção, recepcionista em construtora e, depois de uma seleção, fui secretária-executiva de uma multinacional.
Sou uma otimista incorrigível. Gosto de dizer que era feliz como doméstica, recepcionista, secretária, estagiária. É preciso gostar do que se faz. Procurei fazer tudo da melhor forma.
Não houve um salto na minha carreira. Foi uma longa e lenta caminhada. Ingressei de corpo e alma na carreira.
Com dez anos de advocacia, passei a ter meu próprio escritório. Depois de 30 anos surgiu a oportunidade de concorrer a uma vaga no Tribunal Superior do Trabalho. Concorri com 28 advogados de todo Brasil.
Meus pais são vivos e estão muito orgulhosos de mim. Eles me apoiam desde pequenininha".

Delaíde Arantes é um exemplo a ser seguido. E mais que isso, ela é a prova viva de que ninguém deve se envergonhar ou sentir-se menosprezado por exercer essa ou aquela profissão. O que importa é o objetivo final, e claro, a vontade, a persistência e o empenho para chegar até ele. O resto é conversa fiada...






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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