15 setembro 2014

TRE entrega gestão de urnas eletrônicas a empresa ligada aos Sarney e a Lobão

Imagem: Dando Pitacos

Pode parecer piada, mas a gestão das urnas eletrônicas a serem instaladas nos 217 municípios do Maranhão para as eleições de outubro próximo ficará a cargo de uma empresa cujo dono tem ligações com Jorge Murad, marido da governadora Roseana Sarney (PMDB) e com o candidato a governador do grupo político do ex-presidente José Sarney, o senador Lobão Filho (PMDB), que o nome já diz, é filho do ministro das Minas e Energia, Edison Lobão, apontado por Paulo Roberto Costa como um dos envolvidos no ninho de corrupção em que se transformou a Petrobras.

A Atlântica Serviços Gerais, pertencente ao empresário Luiz Carlos Cantanhede Fernandes, ligado ao clã dos Sarney, que domina a política local há décadas, venceu a licitação promovida pelo Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão - TRE-MA e foi contratada, em 28 de agosto último, por R$ 2.999.499, para cuidar das urnas no dia da eleição, missão que ficará a cargo de 616 empregados que terão a incumbência, entre outras coisas, de transportar e armazenar os equipamentos, trocar as máquinas com defeito, providenciar o carregamento de softwares e transmissão dos resultados para o Tribunal Superior Eleitoral - TSE.

A ligação entre eles é antiga e tornou-se pública quando Roseana era pré-candidata à presidência da República pelo PFL (atual DEM). Na ocasião, apurando uma denúncia sobre caixa dois, a Polícia Federal apreendeu R$ 1,3 milhão em dinheiro vivo nas dependências da empresa Lunus, de Roseana e Murad, que ao justificar a origem da grana, disse que uma parte era de Cantanhede, seu sócio numa pousada.

Em relação a Lobão Filho, primogênito do Lobão ministro, os laços de amizade com Cantanhede também são antigos e se tornaram notórios em 2012, quando um iate naufragou na baía de São Marcos, na costa de São Luís - MA. Cantanhede, que era um dos tripulantes, disse à imprensa local, depois do susto, que a lancha era dele e de Lobão Filho "em cotas de 50% cada um".

O mais interessante nessa história é que na disputa pelo contrato do TRE-MA, a Atlântica apresentou apenas o sexto melhor preço do pregão eletrônico, mas acabou se saindo vencedora porque as outras três empresas que participaram do certame, todas com preços melhores, foram desclassificadas por erros na documentação e outras duas não confirmaram a proposta original.

Mas a coisa não fica por aí. A suspeição pela proximidade da empresa com um dos candidatos não é a única dúvida que cerca o contrato firmado entre o TRE-MA e a Atlântica. Na última segunda-feira (08/09), Marcio Saraiva Barroso, presidente do PC do B local, entrou com uma representação no TSE pedindo o cancelamento da licitação por "ilegalidade", afirmando que a empresa de Cantanhede utilizou documentação falsa para comprovar seus índices de liquidez e solvência no processo licitatório. Segundo ele, o documento anexado não era da Atlântica Serviços Gerais, mas da Atlântica Segurança, uma outra empresa de Cantanhede, com outro CNPJ. Cantanhede não comentou o assunto. O TRE-MA diz que só o timbre do papel anexado estava errado, não o conteúdo.

Aliás, a Atlântica Segurança tem contratos com alguns órgãos do governo Roseana, e entre eles o mais conhecido é o da terceirização da guarda do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, no interior do Estado, palco de uma história escabrosa onde mais de 60 presos foram assassinados no ano passado.

No dia 11 de dezembro de 2012, o portal Viomundo (entre dezenas de outros sites e blogs) afirmou que o sistema de contabilização de votos através das urnas eletrônicas não seria seguro, revelando que um hacker de 19 anos (identificado apenas como Rangel por motivos de segurança) contou, durante o seminário "A urna eletrônica é confiável?", como conseguiu fraudar resultados de eleições.

Segundo o jovem, seria possível modificar o resultado dos pleitos interceptando os votos no momento em que eles são enviados das urnas para o sistema de contabilização momentos antes das urnas serem fechadas, invadindo a rede do TRE. O rapaz, que na ocasião estaria sob a proteção da polícia, disse ainda que atuava em companhia de outros hackers beneficiando políticos da Região dos Lagos do Rio de Janeiro, especificamente o deputado Paulo Melo (PMDB), à época presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.

O assunto, estranhamente, não teve desdobramentos. Ninguém veio a público desmentir a versão de Rangel nem tampouco informar a sociedade acerca das providências adotadas na hipótese da veracidade de sua história. Teoria da conspiração ou não, algumas perguntas não me saem da cabeça: Por que justamente no Brasil, onde nada funciona e quem manda é a corrupção, criou-se o sistema eleitoral mais eficiente e rápido do mundo? Por que nenhuma das democracias mais importantes e sólidas do planeta ainda não o adotaram? Por que o TSE do Maranhão, não interessa se com ou sem licitação, entrega a administração das urnas eletrônicas que vão contabilizar os votos das próximas eleições no Estado exatamente a um cidadão que faz parte do ciclo de amizades das famílias Sarney e Lobão? Não é o mesmo que entregar a chave do galinheiro à raposa? Ou será que ando vendo muita novela?...






Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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