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A grana era fixada com fita adesiva e filme plástico, o mesmo usado para embalar alimentos. Meticuloso, Rafael anotava todos os detalhes, inclusive o valor de cada entrega feita aos políticos da maior arapuca corrupta de que se tem notícia. Esse arquivo valioso, para desespero da bandidada envolvida, foi entregue à Justiça em troca de um acordo de delação premiada, e seu conteúdo revela que figuras expressivas da República e de partidos políticos, como o ex-presidente e senador Fernando Collor, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto (que eu não entendo porque ainda está na rua), a governadora Roseana Sarney, o ministro Mário Negromonte e os deputados federais Nelson Meurer, Luiz Argôlo e André Vargas, receberam quantias que variavam de R$ 50 mil a R$ 900 mil das mãos de Ângulo, que também abastecia as grandes empreiteiras do cartel da Petrobras.
Uma delas, a Construtora OAS, com 10 bilhões de reais em contratos com a estatal, usava os serviços do velhinho com cara de boa praça para levar dinheiro sujo a pelo menos três destinos diferentes da América Latina: Panamá, Peru e Trinidad e Tobago, países onde a Petrobras e a OAS mantêm escritórios e negócios milionários com governos locais.
Com quantias que variavam de R$ 300 mil a R$ 500 mil presas ao próprio corpo, Rafael Ângulo circulava livremente pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, porta de saída do país considerada estratégica, já que lá ele contava com a cobertura de outro comparsa da quadrilha, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, mais conhecido como Careca, que garantia sua passagem pela fiscalização.
Todo o trabalho de entrega do dinheiro sujo começava no escritório central da OAS, em São Paulo, que tinha uma espécie de “conta-corrente” administrada por Alberto Youssef. Rafael retirava o dinheiro na sala do executivo José Ricardo Nogueira Breghirolli, preso e apontado como o elo financeiro entre a empreiteira e o esquema de corrupção que atuava na estatal.
Distribuídos em grandes sacolas pretas, os pacotes de cédulas, que dependendo da ocasião e do freguês continham euros, dólares e reais, eram levados do escritório da empreiteira para o escritório do doleiro, também em São Paulo. Com a passagem comprada e o dia da viagem definido, Rafael Ângulo viajava para o Rio de Janeiro, onde iniciava a parte mais arriscada de seu "trabalho". Em Lima, a capital do Peru, em uma universidade, ele entregava o dinheiro ao gerente de contratos da OAS, Alexandre Mendonça.
Este é mais um capítulo de uma das histórias mais sujas da República brasileira. Outros, tão imundos quanto, não se iludam, ainda virão. Novos nomes de políticos, cabeças coroadas deste ou daquele partido, de conhecidos empresários, com absoluta certeza, serão divulgados mais à frente. O que nós, cidadãos de bem esperamos, ou melhor, EXIGIMOS, é que todos sejam metidos na cadeia, com ou sem delação premiada, além, é claro, de devolver aos cofres públicos o meu, o seu, o nosso dinheiro.
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |