27 julho 2009

PROBLEMA DE HOMENS



O texto que você vê logo abaixo está no CADERNO DE JOSÉ SARAMAGO. Ele aborda um grave problema também enfrentado pela sociedade brasileira. O assunto envolve a mulher, mas como inteligentemente destaca o escritor, jornalista, roteirista, dramaturgo e poeta português, "é um problema de homens", que eu diria, não são tão "homens" como se imaginam!


Eu poderia abordar o tema e sobre ele tecer minhas próprias considerações, mas o meu texto, por mais que eu me esforce, jamais será tão simples e objetivo como o de JOSÉ SARAMAGO. Além disso, prá falar com sinceridade, o que SARAMAGO escreve a gente não comenta, copia!


"Vejo nas sondagens que a violência contra as mulheres é o assunto número catorze nas preocupações dos espanhóis, apesar de que todos os meses se contem pelos dedos, e desgraçadamente faltam dedos, as mulheres assassinadas por aqueles que crêem ser seus donos. Vejo também que a sociedade, na publicidade institucional e em distintas iniciativas cívicas, assume, é certo que só pouco a pouco, que esta violência é um problema dos homens e que os homens têm de resolver. De Sevilha e da Estremadura espanhola chegaram-nos, há tempos, notícias de um bom exemplo: manifestações de homens contra a violência. Até agora eram somente as mulheres quem saía à praça pública a protestar contra os contínuos maus tratos sofridos às mãos dos maridos e companheiros (companheiros, triste ironia esta), e que, a par de em muitíssimos casos tomarem aspectos de fria e deliberada tortura, não recuam perante o assassínio, o estrangulamento, a punhalada, a degolação, o ácido, o fogo. A violência desde sempre exercida sobre a mulher encontrou no cárcere em que se transformou o lugar de coabitação (neguemo-nos a chamar-lhe lar) o espaço por excelência para a humilhação diária, para o espancamento habitual, para a crueldade psicológica como instrumento de domínio. É o problema das mulheres, diz-se, e isso não é verdade. O problema é dos homens, do egoísmo dos homens, do doentio sentimento possessivo dos homens, da poltronaria dos homens, essa miserável cobardia que os autoriza a usar a força contra um ser fisicamente mais débil e a quem foi reduzida sistematicamente a capacidade de resistência psíquica. Há poucos dias, em Huelva, cumprindo as regras habituais dos mais velhos, vários adolescentes de treze e catorze anos violaram uma rapariga da mesma idade e com uma deficiência psíquica, talvez por pensarem que tinham direito ao crime e à violência. Direito a usar o que consideravam seu. Este novo acto de violência de género, mais os que se produziram neste fim-de-semana, em Madrid uma menina assassinada, em Toledo uma mulher de 33 anos morta diante da sua filha de seis, deveriam ter feito sair os homens à rua. Talvez 100 mil homens, só homens, nada mais que homens, manifestando-se nas ruas, enquanto as mulheres, nos passeios, lhes lançariam flores, este poderia ser o sinal de que a sociedade necessita para combater, desde o seu próprio interior e sem demora, esta vergonha insuportável. E para que a violência de género, com resultado de morte ou não, passe a ser uma das primeiras dores e preocupações dos cidadãos. É um sonho, é um dever. Pode não ser uma utopia".

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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5 comentários:

  1. Acho que falar aqui sobre a violência contra a mulher é chover no molhado. Deixa eu tentar me fazer entender.

    Isso é uma questão de cultura, quase que dentro da lei de seleção natural de Darwin - ou seja, o mais forte domina o mais fraco. Desde a época das cavernas a mulher era subjulgada pela força física. A menstruação e a maternidade a deixavam mais vulnerável ainda.

    Por milênios essa ideia foi se cristalizando no senso comum. Imaginemos que a menos de 200 anos atrás ainda estava-se questionando se a mulher tinha alma ou não!

    Mas essa dominância não era derramada apenas contra a mulher. A mesma coisa acontecia sobre os povos mais fracos, os vencidos. Guerreiros derrotados viravam escravos e escravos também eram coisas e não gente. Se o vencido for mulher, melhor ainda - é fraca duas vezes.

    Em se tratando de Brasil, não podemos esquecer que esta violência também volta sua pesada mão para as crianças, o que a meu ver é pior ainda.

    O que falta ao mundo é respeito pelo outro ser humano. Homens e mulheres devem ser tratados com igual respeito - independente de idade, aparência, nacionalidade, religião, poder aquisitivo etc.

    Quando o Homem (ser humano) aprender a respeitar a Criação - pessoas, animais, plantas, povos, planeta - então não estaremos mais discutindo a violência contra quem quer que seja. Nesta vida sei que não vou ver esse dia. Mas planto essa semente sim, esperando que numa próxima, eu ainda possa ver alguma coisa florescer e frutificar.

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  2. Agora um ponto mais específico. Sou mulher e me singo à vontade para dizer. Muito do que acontece é culpa da própria mulher.

    Calma. Não me refiro àquela culpa imputada por um sistema hipócrita que absolve o estrupador.

    A culpa a que me refiro é a omissão. Eu entendo que mulheres que se relacionam com homens violentos (sejam eles maridos, namorados, pais ou filhos) tenham medo. Mas hoje temos delegacias especializadas que oferecem inclusive proteção à mulher. É preciso coragem? É sim. Mas ainda acho que ter coragem é melhor do que apanhar.

    Tirando o medo ainda há a ilusão. Muitas mulheres, por ingenuidade ou comodidade mesmo, acreditam que seus algozes irão mudar. Que só fizeram isso porque estavam nervosos. E o pior - que só fizeram isso porque elas mereceram! Neste ponto a auto-estima já está no chão!

    A todas as mulheres, incluindo minha filha, minhas sobrinhas e minhas amigas, se um dia estiverem nesses dois casos, denunciem.

    Aqueles que agridem mulheres, agridem qualquer outra pessoa. Não estão aptos para o convívio em sociedade.

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  3. Eu também acho que a violência contra a mulher é um problema histórico/cultural.

    Um exemplo do absurdo a que ainda são submetidas as mulheres está todo dia, às 20:00 horas, na Rede Globo. A novela "Caminho das Índias" mostra que a mulher foi feita para "agradar" ao seu marido. Ela não casa por amor, mas por conveniência e escolha da família, o que é absurdo.

    Aqui mesmo no blog nós já vimos que no Sudão mulheres são chicoteadas por usarem calças compridas.

    Mas também acho um enorme avanço, e faço questão de destacar, a iniciativa de alguns homens em defesa das mulheres,como é o caso do escritor José Saramago e do nosso Carlos Roberto! É preciso coragem e sensibilidade para tomar atitudes como essa, e eu os parabenizo por isso!

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  4. Acho muito importante a discussão desse assunto. A mulher, como já afirmado nos comentários anteriores, por imposições históricas teria nascido para servir ao homem, pensamento que vem sendo modificado há muito tempo, felizmente!

    É muito importante saber que alguns homens tomam a iniciativa de defender os interesses da mulher. Sinal dos novos tempos! Bons tempos!

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  5. Prezado Carlos,
    Seu blog foi contemplado com o selo internacional COMPROMETIDOS, recebido através do Fusca Brasil. Busque o selo no blog http://treesforever.blogspot.com/
    e indique outros blogs que considere dignos do prêmio.
    Abraço!
    GABRIEL

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