26 agosto 2009

Nunca nossos vícios ficaram tão visíveis

Amigos, mais um texto ácido do Arnaldo Jabor. Este é fresquinho, de hoje.

Acabei de ler este texto para alguns amigos aqui no meu trabalho e - pasmem - o único comentário que eu ouvi foi "o Jabor está tão repetitivo...".

Eu não sei com o que fico mais indignada, se é com a política fétida "deççe país" ou se com o povo que aqui habita.

Repetitivo não é o Jabor. Repetitivos são os atos ilícitos daqueles que deveriam estar trabalhando para o país e o povo! Repetitivos são os escândalos - a cada dia um novo! Repetitivas são as eleições das mesmas pessoas por décadas! E... repetitiva é a inércia desse povo. O que estamos vendo agora é um cenário muito comum numa ditadura, onde o governo faz o que quer (rouba, esconde, corta filme, nomeia netinho etc.). Mas numa democracia... todos assistindo e ninguém fazendo nada?!!!

Ah! Mas claro! O povo está é preocupado com mais uma rodada do "Brasileirão", ou do repetidíssimo Big Brother que está por vir, já na sua 10ª ou 11ª edição!

É por isso que eu não me canso de repetir:

Acorda Brasil!!!


Mas vamos ao texto...


Aprendemos de cabeça para baixo

Arnaldo Jabor

Os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Temos assistido, como nunca antes, a um show de verdades através do chorrilho de negaças, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. O Brasil está evoluindo em marcha a ré! Nestas últimas semanas, só tivemos des-acontecimentos. O senador Mercadante ia sair da liderança do PT, irrevogavelmente. Depois, oscilou, seu mestre deu-lhe um esculacho, e ele voltou atrás. Marcha a ré. Des-aconteceu.

A Dilma também. Ela “não” se encontrou com a Lina Vieira, não. Querem nos convencer de que a Lina é maluca e resolveu inventar tudo aquilo para prejudicar a ministra. Ninguém se lembra de que essa polêmica do “fui, não fui” é útil para camuflar o fato de que a expulsão da Lina aconteceu somente por causa do questionamento à Petrobras...

Tudo marcha a ré. Tudo some. As fitas de VT do Planalto se apagaram. Ninguém existe mais nas fitas. Os atos secretos voltam pouco a pouco e deixam de sê-lo. O nosso Sarney foi absolvido de tudo; as 11 acusações foram arquivadas pelo mordomo-suplente — des-aconteceram, sumiram na descarga do Conselho de Ética. Sarney, o Comandante do Atraso, disse que não se sente culpado de nada. Está certo — seus servos decretaram que nada houve. Nossa frágil república está sumindo.

As tramoias e as patranhas de hoje são deslavadas, não há mais respeito nem pela mentira... Está em andamento uma “revolução dentro da corrupção”, tudo na cara da população com o fito de nos acostumar ao horror.

Com a dissolução do PT, que hoje é o verdadeiro partido da “direita”, com o derretimento do PSDB, o destino do país vai ser a maçaroca informe do PMDB (Oba! Vem aí o tesouro da legislação do pré-sal, a ser entregue a seus malandros-chefes, que já devem estar babando).

No entanto, justiça ao narcisismo deslumbrado do Lula, com seu projeto de si mesmo: nunca nossos vícios ficaram tão explícitos, nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo.

E, aí, nossa única esperança: talvez estejamos aprendemos sobre a dura verdade nacional neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Por exemplo: uma visão do cabelo do Wellington, a cara dura de seres como o Almeida Lima, o rosto feliz do Renan e do Jucá nos ensinam muito. Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!

sabemos que a corrupção no país não é um “desvio” da norma, não é um pecado ou crime; é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas.

Aprendemos a mecânica da sordidez: a técnica de roubar o Estado para fazer pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, esgotos à flor da pele, orgasmos entre empreiteiras e políticos. Querem nos acostumar a isso, mas, pode ser (oh Deus!), que isso seja bom: perdermos o autoengano, a fé. Estamos descobrindo que temos de partir da insânia e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.

Até que enfim nossa crise endêmica está sujamente clara, em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades imundas, tão fecundas como um adubo sagrado, belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. Como é educativo vermos as falsas ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a bilontragem nas cumbucas, nos esgotos da alma... Que emocionante este sarapatel entre o público e o privado: os súbitos aumentos de patrimônio, fazendas imaginárias, açougues-fantasmas, netinhas e netinhos, filhinhos ladrões, a ditadura dos suplentes, cheques podres, piscinas em forma de vaginas, mandingas, despachos, as galinhas mortas na encruzilhada, o uísque caindo mal no Piantela, as diarreias secretas, as flatulências fétidas no Senado, diante das evidências de crime, os arrotos nervosos, os vômitos, tudo compondo o grande painel da nacionalidade.

Já se nos entranhou na cabeça, confusamente ainda, que, enquanto houver 20 mil cargos de confiança no país, haverá canalhas, enquanto houver estatais com caixa preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse código penal, nunca haverá progresso. Já sabemos que, enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver.

Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados de escolas, hospitais, estradas. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas, e mais: os que foram desonrados no Congresso voltaram fortes e mandam no Legislativo. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.

Só nos resta a praga. Isso. Meu desejo é maldizer, como já fiz aqui várias vezes.

Portanto, malditos sejais, ó mentirosos, negadores, defraudadores, vigaristas, trampistas, intrujões, chupistas, tartufos e embusteiros! Que a peste negra vos cubra de feridas pútridas, que vossas línguas mentirosas sequem e que água alguma vos dessedente, que vossas mentiras, marandubas, fraudes, lérias e aldravices se transformem em cobras peçonhentas que se enrosquem em vossos pescoços, que entrem por vossos rabos e fundilhos, e lá depositem venenosos ovos que vos depauperem em diarreias torrenciais.

Que a peste negra vos devore a alma, políticos canalhas, que vossos cabelos com brilhantina vos cubram de uma gosma repulsiva, que vossas gravatas bregas vos enforquem, que os arcanjos vingadores vos exterminem para sempre!

No entanto, além das maldições, sou um
otimista inveterado: fico procurando algo de bom nessa bosta toda!

Talvez essa vergonha seja boa para nos despertar da letargia de 400 anos. A esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno. Através deste escracho, pode ser que entendamos a beleza do que poderíamos ser!

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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5 comentários:

  1. Quem gosta de fotografia sabe das dificuldades prá se conseguir determinados flagrantes. Na natureza, por exemplo, que é mais a minha área, não é muito fácil fotografar, pois quando você pensa que vai clikar aquela borboleta maravilhosa, ela se assusta e foge! Quando você acha que pegou aquele pássaro espetacular, ele desaparece!

    O Jabor deu sorte: ele conseguiu fotografar o Brasil, do jeito que ele é! Ele conseguiu, num clik magistral, aprisionar a imagem perfeita! Esse é o retrato do Brasil dos brasileiros, do Brasil da politicalha moderna, do Brasil do PT, do Brasil de LULA, e se nós bobearmos, do Brasil da guerrilheira e mentirosa DILMA ROUSSEFF!!!

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  2. O texto do Jabor como sempre é sensacional, e sobre ele o Carlos Roberto disse tudo: é foto descarada do Brasil.

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  3. É verdade. O Jabor fotografou o Brasil! Deu um click na sujeira!

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  4. O Arnaldo Jabor disse tudo, gente. No Brasil, a corrupção não é um desvio da norma, é a própria norma, e nós já nos acostumamos a ela, e por isso não reagimos!

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  5. Tudo isso se torna muito cansativo repetitivo e porque não dizer enjoado, temos que permenecer e não desistir de lutar por um país melhor. A final o Brasil não é como a novela da gabriela, eu nasci assim e fui sempre assim vou morrer assim é assim que eu sou gabriela!
    Precisamos de vários Arrnaldo Jabor que tem a coragem de dizer o que é real doa a quem doer!

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