29 março 2010

E os bandidos do colarinho branco?

Ana Carolina e Isabella
O resultado nem bem foi divulgado e já se fala na possibilidade de anular o julgamento de ALEXANDRE NARDONI e ANA JATOBÁ. Por que? Porque no Brasil a lei tem a cara do legislador, aparentemente muito mais interessado em protelar a aplicação da justiça. Aqui se legisla de acordo com a cultura nacional da impunidade, o que só faz estimular o crime. ALEXANDRE e ANA, por exemplo, cumpridas algumas regrinhas tolas, não ficarão 10 anos na cadeia. Aqui, dependendo de outras regrinhas previdenciárias, os filhos do bandido preso em regime fechado ou semi-aberto têm direito a um auxílio-reclusão, que pode ser maior que R$ 750, enquanto o trabalhador que cumpre a lei, ganha por mês R$ 510. E os filhos da vítima do marginal, o que recebem? Um abono-saudade, nada mais que isso! Como se vê, no Brasil é tudo pelo social... do bandido, do marginal, daquele que infringe a lei!


Fato que também chamou a atenção no julgamento do caso NARDONI foi a pressão exercida pelo povo na porta do fórum, em São Paulo. Com exceção de quem lá estava para se exibir frente às câmeras de televisão, foi um exercício de cidadania, um brado de justiça, não se discute.


Família Sarney
Mas aí me vem uma pergunta: e os bandidos de colarinho branco? Aqueles que matam através da corrupção que desvia, por exemplo, o dinheiro da saúde pública, deixando sem atendimento médico milhares de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e sequer podem sonhar com um plano de saúde? E os genocidas responsáveis pela morte de milhares de crianças, como vem ocorrendo no Maranhão da família SARNEY, onde falta até mesmo uma UTI para lhes dar atendimento?


E o dinheiro da educação, do saneamento básico, dos transportes, do mínimo de vida decente a que todo cidadão tem direito, escondido em paraísos fiscais, cuecas, meias e mensalões? E o caixa 2 dos partidos políticos? E a farra das passagens aéreas do Parlamento brasileiro? E as horas-extras pagas pela Câmara dos Deputados em pleno recesso? Tudo esquecido? Por que a indignação mostrada à frente do fórum de Santana - SP não bate às portas do chiqueiro político de Brasília?

Fernando Sarney
A menina MAIARA, de apenas 8 anos de idade, ficou internada no corredor de um hospital em Imperatriz, cidade dominada pelo clã dos SARNEY, durante dez dias. No corredor durante dez dias! Só na sexta-feira foi transferida para uma UTI de um hospital particular, mas aí já era tarde e ela não resistiu: morreu de meningite! Só este ano 17 crianças morreram na cidade porque não aguentaram esperar pelo tratamento a que tinham direito como cidadãos, e mais que isso, seres humanos! Por que ninguém brada por justiça em face de FERNANDO SARNEY e os US$ 13 milhões mantidos por ele em uma conta na Suíça? Quantas UTI's poderiam ter sido instaladas com toda essa dinheirama? Quantas crianças teriam sido salvas?

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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4 comentários:

  1. Belo e corajoso texto! A sociedade brasileira realmente precisa decidir que caminho quer tomar. Se vai se omitir e fazer parte da corrupção, ou se opor a ela, se mobilizando e exigindo cadeia para os corruptos.

    É impressionante o que acontece no Maranhão, e as perguntas lançadas no texto tem tudo a ver: "Por que ninguém brada por justiça em face de FERNANDO SARNEY e os US$ 13 milhões mantidos por ele em uma conta na Suíça? Quantas UTI's poderiam ter sido instaladas com toda essa dinheirama? Quantas crianças teriam sido salvas?". Parabéns ao blog pelo legítimo exercício de cidadania.

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  2. Todas essas perguntas também me incomodam:

    "E os bandidos de colarinho branco? Aqueles que matam através da corrupção que desvia, por exemplo, o dinheiro da saúde pública, deixando sem atendimento médico milhares de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza e sequer podem sonhar com um plano de saúde? E os genocidas responsáveis pela morte de milhares de crianças, como vem ocorrendo no Maranhão da família SARNEY, onde falta até mesmo uma UTI para lhes dar atendimento?

    E o dinheiro da educação, do saneamento básico, dos transportes, do mínimo de vida decente a que todo cidadão tem direito, escondido em paraísos fiscais, cuecas, meias e mensalões? E o caixa 2 dos partidos políticos? E a farra das passagens aéreas do Parlamento brasileiro? E as horas-extras pagas pela Câmara dos Deputados em pleno recesso? Tudo esquecido? Por que a indignação mostrada à frente do fórum de Santana - SP não bate às portas do chiqueiro político de Brasília?

    Onde está a lei brasileira? Onde está a justiça do Brasil? Será que ninguém tem vergonha "neççe paiz"?

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  3. Parabéns pelo texto. Realidade pura que a população brasileira não enfrenta, infelizmente.

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  4. Eu sou bastante radical nesses casos. Os crimes de colarinho branco deveriam receber punição exemplar, pois aqueles que os cometem tiveram tudo na vida, todas as oportunidades de trilharem por caminhos certos e, se não o fizeram, foi por pura maldade, por desvio de caráter, por falta de moral mesmo. A estes, nada adianta. Não existe reabilitação ou re-educação. São pessoas que literalmente tiram o pão da boca da criança.

    As pessoas se assustam tanto com o crescimento da violência, com a banalização da criminalidade, mas o que se pode esperar de quem não tem futuro dentro de uma sociedade totalmente voltada para as minorias? O que querem que uma criança, que mora na favela, que está com fome, que vê o esgoto passar na frente da casa (quando não dentro), que vê o pai surrar a mãe e os irmãos todos os dias, que vê o brinquedo que nunca vai poder ter na propaganda, venha a ser? O traficante tem grana, é respeitado, é autoridade na comunidade. Para eles, o tráfico traz os sonhos de forma rápida e garantida. Agora sejamos sinceros, o diploma é capaz disso?

    Morrem cedo? Morrem. Mas têm uma vida meteórica com tudo o que é possivel comprar segundo os nossos próprios valores.

    Isso não é uma apologia ao crime. Muito pelo contrário. Só quero mostrar que o mesmo rigor que a sociedade demonstra na hora de julgar um bandido de morro, deveria tê-lo também ao julgar um "Vossa Excelência".

    Quanto ao nosso Direito, a venda que tapa os olhos da Justiça, parece que os tapa para a aplicação das leis, mas os mantém bem livres para enxengar as brechas contidas nelas...

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