O texto que você vai ler abaixo, publicado no portal Minha Vida, foi escrito pela Dra. Claudia Klein, neurologista formada pela Faculdade de Medicina do ABC. Ela fez residência médica em Neurologia, na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, de 1997 a 2000. Especializou-se em Medicina Chinesa, Acupuntura, Medicina Comportamental e Mobilização de Qi mental pela Unifesp. Trabalha com a medicina comportamental e acupuntura na Melhora Clínica e atua como neurologista nos distúrbios emocionais com programação de bem-estar e reestruturação dos circuitos cerebrais causadores de memórias prejudiciais.
A questão gira em torno de aspectos sobre a felicidade, de como se pode chegar até ela através das coisas mais simples da vida, e a importância do cérebro nessa operação. Leia com atenção:
“Já era tarde, consultório lotado e eu havia atendido muitos pacientes. A última consulta me ensinou muito mais sobre a vida do que eu poderia imaginar. Ana, uma moça de 30 anos, entrou em uma cadeira de rodas. Olhar triste, vazio, estava deprimida, sem vontade de viver. Não tinha se casado, não tinha filhos, nem perspectiva de futuro. Indiquei um psiquiatra e uma terapeuta. Senti-me frustrada, a dor daquela moça era enorme.
Lido todos os dias com casos extremos, como tumores no cérebro, leucemias, isquemias, seqüelas graves. Estou sempre na tênue linha entre a vida e a morte. Mas ali eu não via vida. Quando já não sabia mais o que dizer, meu celular toca. Era minha mãe. Nem me lembro o que ela queria, não ouvi direito e, ao fundo, meu cachorro começou a latir. Desliguei o celular e quando olhei novamente para Ana, surpreendentemente percebi outro semblante naquela moça e até um sorriso. "Nossa você tem um cachorro? Eu sempre quis ter um e nunca pude, meu pai era alérgico", disse-me.
Comentei sobre adotação. Nós que amamos os animais sempre nos entusiasmamos quando um abandonado ganha um lar. As duas foram embora. Permaneci angustiada por alguns dias e voltei a minha rotina. Três meses depois, Ana entra na sala. A luz do seu olhar era imensa que nem percebi a cadeira de rodas. Contou-me que foi ao Centro de Controle de Zoonoses e apaixonou-se por um cachorro que estava prestes a ser sacrificado. "O resgate daquele animal mudou minha vida, não podia deixar que o matassem", disse. Veio me agradecer e mostrar a plaquinha de identificação do cachorro: YURI (Benção da luz, nome vindo do Hebraico). Para quem não acredita em coincidências é o mesmo nome do meu cachorro que ela havia ouvido latir ao telefone. "Dra., você me ensinou que a felicidade vem com o encontro da simplicidade". Na verdade, Ana, foi você quem mudou sua percepção de consciência!"
Ciência tenta explicar
Hoje os neurocientistas estão exaustivamente estudando e tentando explicar mapeando no cérebro. Tudo indica que o cérebro pode ser treinado na idade adulta e até mudar a sua organização interna. Esta é a conclusão do estudo de Richard Davidson, na Universidade de Wisconsin. Sua equipe fez medições precisas de voluntários com mais de 10 mil horas de meditação e percebeu que este estado contemplativo estimulava zonas do cérebro associadas às emoções, mais precisamente às positivas, como aquelas que nos habituamos a ligar a estados de felicidade. Segundo Davidson, a meditação pode mudar as funções cerebrais de forma durável. Esse estudo começou a responder a seguinte pergunta: - Será que não são os pensamentos que produzem alterações químicas e impulsos elétricos?
Os cientistas dentro deste novo paradigma revolucionário, onde a realidade se manifesta de acordo com nossa consciência, começaram a estudar este efeito cascata ou dominó, denominado "Efeito Carambola", que nada mais é do que a reformatação dos circuitos cerebrais através da reaprendizagem e reinterpretação das experiências passadas levando a um novo trajeto para as percepções e pensamentos. Isto forma novas redes de conexões neuronais.
Em 2001, Brody ET al. mensuraram o cérebro por ressonância funcional e por Pet Scan (medidores do metabolismo). Os pesquisadores descobriram que pacientes com depressão ao longo das 12 semanas de tratamento e que estavam sendo submetidos à Terapia Cognitivo Comportamental, mantém ativadas áreas cerebrais de "felicidade", mesmo depois de o fim do tratamento terapêutico, em comparação a outros pacientes que suspenderam seus antidepressivos e não fizeram nenhum trabalho terapêutico.
No estudo, publicado no periódico The Archives of General Psychiatry, nove pessoas com transtorno obsessivo-compulsivo foram submetidas a um método de investigação de imagem cerebral antes e depois de 10 semanas de terapia cognitivo-comportamental. Três dos pacientes mostraram pequenas mudanças, mas seis melhoraram substancialmente. Suas imagens mostraram duas mudanças significativas na função cerebral.
Uma mudança estava estreitamente relacionada com a atividade de certas estruturas cerebrais. "Nós sabemos que no transtorno obsessivo-compulsivo quatro estruturas centrais estão interconectadas", disse Dr. Jeffrey Schwartz, um psiquiatra que conduziu o estudo do Neuropsychiatric Institute of the University of California em Los Angeles. "Mas em pacientes que respondem ao tratamento, essas estruturas podem operar independentemente, como nos casos de pessoas sem o transtorno."
Homem mais feliz do mundo
Gostariam de saber quem é o homem mais feliz do mundo? O nome dele é Matthieu Ricard. Com 61 anos, este antigo biólogo molecular decidiu abandonar a sua vida de investigador e seguir a religião budista, tornando-se mais tarde assessor do Dalai Lama, o líder espiritual dos budistas tibetanos. Antes de optar pelos himalaias, o monge fez um doutoramento em genética molecular e trabalhou ao lado do Prêmio Nobel da Medicina (em 1965), François Jacob. Foi nessa altura que escolheu a religião, após ter lido textos budistas que o impressionaram.
Mathieu Ricard é o Córtex Pré-Frontal mais expandido que os cientistas já estudaram. Talvez ele tenha compreendido muito antes do que os neurocientistas que "ser feliz" é um estado interno. Não é difícil compreender que ansiedade, frustração, medo, apego nos impede de manter a felicidade devido à desestruturação, sistema de recompensa do cortéx pré-frontal.
Isso significa que muitas vezes nos frustramos por passarmos muito tempo programando um futuro que não acontece exatamente do jeito que sonhamos. As pessoas mais felizes aprenderam a moldar seus sonhos, a viver no presente. Entenderam que o Futuro é a Ressonância do Hoje.
Lá dos Himalaias também, vem o conceito Butanês de FIB (Felicidade Interna Bruta) . Este pequeno país, o Butão, deu um passo histórico: vem aplicando o conceito de FIB em suas políticas estratégicas e de planejamento, ou seja, a felicidade já é um tema de política pública. Existem nove dimensões do FIB: bom padrão de vida econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade comunitária, proteção ambiental, acesso à cultura, gerenciamento equilibrado do tempo e bem-estar psicológico. Quem sabe essas dimensões não possam ser vistas como metas reais de um mundo melhor?”
Eu jamais tentaria acrescentar qualquer detalhe ao lindo e perfeito texto da Dra. Klein (até porque sou um simples advogado e não médico), mas apenas fazer um comentário que me veio à cabeça quando terminei sua leitura.
Ana, a personagem central do texto disse à médica que o fato de ter adotado o cachorrinho Yuri mudou sua vida, e que aprendeu com ela “que a felicidade vem com o encontro da simplicidade”. Para ela, a não ser que eu esteja errado, a felicidade veio no gesto simples da adoção de Yuri, um amigo fiel, característica natural do cão, que ajudou a expulsar a solidão que teimava em habitar o coração sofrido de Ana, o que só faz confirmar a tese defendida pela Dra. Claudia Klein em seu brilhante trabalho.
Sobre o Autor:
Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral. |
Roberto ,
ResponderExcluirsensacional seu artigo !
Artigos como esses deveriam se tornar popular rapidamente .
Cada voto deveria ter um peso diferenciado , por tratar de assunto do interesse coletivo e pelo seu conteúdo .
Voltando ao tema :
A felicidade dessa moça , talvez pela necessidade que ela tinha de cuidar de alguém , de ter a quem dar amor . So podemos ser felizes se fazemos algo para alguém . O homem nasceu para servir , nem que seja a um cão .
abs
Francisco
Grande Francisco!
ResponderExcluirVocê disse tudo: quem não nasce pra servir, não serve pra viver!
A felicidade está dentro de cada um, só precisamos exercitá-la, e isso se faz curtindo as coisas simples da vida!
Um grande abraço...
Realmente o texto me parece dizer tudo.
ResponderExcluirEu, de minha parte, diria que além da simplicidade de ver a vida é necessário assumilá-la hoje e não amanhã. Diz isso, também.
beijos querido,
Maria Marçal - Porto Alegre - RS
Com certeza, Maria Marçal!
ResponderExcluirAliás, nada na vida pode ser deixado pra depois!
Um beijão...
QUE POST FANTÁSTICO!!!!!!!
ResponderExcluirAMIGO ROBERTO:
Com sinceridade, prefiro não comentar. Um artigo absolutamente MAGNIFICO!
Contagiou. Mexeu. Valeu.
Favoritei e vou compartilhar com os meus filhos e esposa!
Parabéns pela excelente matéria!
Abraços,
LISON.
Valeu, Lison!
ResponderExcluirUm abração...
Olá Roberto!
ResponderExcluirMaravilha de texto! Concordo também com o comentário do Francisco massoterapeuta, pois a felicidade está grande parte em dar, mas achei seu complemento indispensável, como o é para se ser feliz - o ser humano precisa também receber, ser reconhecido, desde pequenino, ou pode quase morrer de modos diferentes, e o cão, amigo fiel lhe deu a atenção que ela precisava para sentir-se viva!!
Obrigada por ter trazido este texto!
Abraço e bom feriado!
Vera.
Eu tambem acho que estar feliz é algo interno, mas o ambiente ajuda a melhorar tudo. É o caso da Ana que a companhia de um cachorro lhe fez muito bem, ela salvou a vida dele e ele a dela. Muito interessante o estudo que vem a seguir. Temos muito o que pensar e aprender.
ResponderExcluirEsse é o detalhe, Sissym: "temos muito o que pensar e aprender". E mais: isso deve ser feito a cada um dos momento que a vida nos permite viver, pois eles sempre nos ensinam uma lição diferente, nos podem dar uma visão diversa do mundo.
ResponderExcluirUm beijão e obrigado pela sua presença aqui...
Eu é que agradeço, Vera, por mais esse comentário carregado de sinceridade e emoção!
ResponderExcluirBeijo grande...