29 julho 2010

Rios voadores


O volume de água dos rios voadores é superior
ao dos rios brasileiros
(Foto: Planeta Sustentável)

Precisei viver mais de meio século para descobrir que existem rios voadores. É isso mesmo que você ouviu, rios voadores, e mais que isso, invisíveis!


Você sabe de onde vem a chuva? Claro que você sabe! Todo mundo sabe: das nuvens cheias de vapor de água que se condensam quando encontram uma frente de ar mais fria e caem sob a forma de gotas.

Não quero complicar a vida de ninguém, mas vocês sabem de onde vem o vapor de água? Cuidado, pois essa resposta não é tão fácil. Muita gente (como eu, vamos deixar vem claro) acha que o vapor vem do oceano em direção ao continente e quando chega por aqui faz a chuva acontecer. 


Mas o que os cientistas e um piloto de avião, o inglês, naturalizado brasileiro, Gérard Moss, acabaram de descobrir é que boa parte do vapor vem da Amazônia! É isso aí! Vem da Amazônia!

Durante quase dois anos, eles voaram em um avião leve, acompanhando o caminho que os vapores de água faziam até chegarem ao Sul e ao Sudeste do Brasil.

Os vapores que chegam do oceano Atlântico, fazem chover na Amazônia. Um quarto de toda a chuva que cai fica nas folhas das árvores e evapora depois, voltando para a atmosfera, e mais dois quartos são absorvidos pela vegetação e também voltam a ser vapor de água por causa da transpiração das árvores.

Veja como tudo acontece nessa ilustração que está no portal Expedição Rios Voadores:



A quantidade de vapor de água que sai da Amazônia é gigantesca! Cada árvore de grande porte da floresta evapora e transpira 300 litros de água por dia! E quando os ventos não sopram do mar para o continente, as espertas árvores, mais do que depressa, usam suas raízes para retirar água dos lençóis freáticos, garantindo que a evaporação e a transpiração continuem acontecendo com a mesma intensidade.

Com a evapotranspiração das árvores da floresta, chegam a se formar enormes rios de vapor de água, os nossos amigos rios voadores, que não podem ser vistos a olho nu. Juntos, os rios voadores têm mais água do que o rio Amazonas, que é o maior do mundo. A diferença é que, no rio Amazonas, a água está no estado líquido e nos rios voadores, ela está em estado gasoso.

Dali, os ventos levam esses rios voadores para perto da Cordilheira dos Andes, que é bem alta, não deixa os ventos passarem e os empurram de volta para o Brasil, a Argentina e o Uruguai. Sempre que os rios voadores estão presentes na atmosfera de uma cidade, a chance de chover é bem maior.

Só isso, a meu ver, já deveria ser suficiente para mostrar a todos nós, humanos predadores, porque é tão importante cuidar da floresta Amazônica e porque a derrubada criminosa e insana de árvores, o que desregula a quantidade de vapor de água que chega ao restante do país, pode causar grandes tempestades em algumas regiões, enquanto outras experimentam secas devastadoras.

Veja mais detalhes sobre os filhos da floresta que comandam o tempo no Brasil lendo a reportagem da Planeta Terra (julho 2010), revista que vem encartada no jornal O Globo:


O jato de baixa altitude
Foto: divulgação Margi Moss
"Ele tem de 200 a 300 quilômetros de largura, milhares de quilômetros de extensão, carrega um volume de água que chega a ser equivalente ao do Rio Amazonas, mas ninguém vê. Isso porque trata-se de um dos maiores "rios voadores" do mundo, uma corrente de vento, conhecida como jato de baixa altitude, que sopra entre um e três quilômetros de altura e traz umidade da Amazônia até a região centro-sul do Brasil. Esse enorme rio, porém, pode ter sua rota e o seu volume alterados pelo aquecimento global e o desmatamento, com graves consequências para a agricultura e produção de energia no país.

O maior rio voador brasileiro nasce onde os principais rios "terrestres" do país deságuam, o Oceano Atlântico. A ação do Sol sobre a região equatorial do mar evapora grande quantidade de água. Esta umidade é carregada pelos ventos alísios, que sopram de leste para oeste, para a Região Norte do Brasil. No total, são cerca de 10 trilhões de metros cúbicos de água por ano que chegam à Amazônia na forma de vapor. Parte cai como chuva, enquanto outra parte segue até encontrar a muralha da Cordilheira dos Andes. Lá, precipita como neve, que quando derreter vai alimentar os rios da Bacia Amazônica. A maior parte da chuva que cai sobre a floresta, no entanto, volta a evaporar, numa proporção que pode chegar a 75%, conta Pedro Leite da Silva Dias, diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo.

É esta umidade que vai dar corpo ao rio voador da Amazônia, que flutua então sobre a Bolívia, o Paraguai e os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e São Paulo, podendo alcançar ainda Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, levando a maior parte das chuvas para todas essas regiões.

O desmatamento da Amazônia pode secar, e muito, o rio aéreo, alerta Pedro Dias. Enquanto um metro quadrado de mar evapora um litro de água por dia, uma área equivalente da floresta perde entre oito e nove litros diários. Nesse processo, o maior rio voador brasileiro pode até dobrar de volume, atingindo uma vazão similar à do Rio Amazonas, que despeja cerca de 200 milhões de litros de água no Oceano Atlântico por segundo. Mas, segundo Dias, modelos climáticos mostram que, sem a floresta, a quantidade de chuva que cai na Amazônia diminuiria em até 30%. Além disso, sem as árvores a região perderia a capacidade de armazenar parte da umidade, o que faria com que o rio voador corresse mais depressa, provocando tempestades severas no sul do Brasil e na Bacia do Prata.

- Daí a preocupação com o impacto climático do uso da terra na Amazônia. Sem a cobertura vegetal, teríamos menos 15% a 30% das chuvas lá, com impactos semelhantes nas bacias adjacentes e aumento da frequência de eventos extremos. O clima não é só atmosfera. É o oceano, o Sol, a terra, as plantas. O clima é interação - destaca Dias.


Foto: divulgação Margi Moss

Para melhor compreender como funciona este rio voador, sua rota e influência no clima e no regime de chuvas no Brasil e na América do Sul é que teve início, em 2007, o projeto Rios voadores. Idealizado pelo aviador e ambientalista Gerard Moss, ele conta com a participação de cientistas de diversas instituições brasileiras, entre eles Dias. Pilotando um monomotor modelo Sertanejo, da Embraer, Moss realizou, entre 2008 e o início do ano passado, 12 campanhas, nas quais recolheu mais de 500 amostras da umidade que corre no rio voador sobre o céu brasileiro, passando por cidades como Belém, Santarém, Manaus, Alta Floresta, Porto Velho, Cuiabá, Uberlândia, Londrina e Ribeirão Preto. Para tentar identificar a origem, a dinâmica e o deslocamento das massas de ar e da água, foi feito um estudo de isótopos de hidrogênio (H2, deutério) e oxigênio do vapor d'água recolhido por Moss. Estas amostras foram analisadas pelo Laboratório de Ecologia Isotópica da USP, no Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), em Piracicaba. Nelas, ficou confirmado que grande parte da água do rio voador vem mesmo da Floresta Amazônica.






- Por terem propriedades físico-químicas distintas, as moléculas de água que contêm esses isótopos comportam-se diferentemente nos processos de evaporação, transpiração e condensação do vapor d'água - explica o engenheiro agrônomo Eneas Salati, diretor da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável (FBDS) e coordenador científico do projeto".


Essa é a máquina mais perfeita que existe sobre a face da Terra!
Essa é a Mãe-Natureza, que o homem vem tentando destruir a todo custo!


Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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13 comentários:

  1. QUE POST FANTÁSTICO!
    AMIGO ROBERTO:
    Mais uma excelente matéria que você nos brinda e ressalte-se um artigo que deve ser lido e relido quantas vezes forem necessária para a boa compreensão.
    O que me deixa triste, amigo, é assistir tanto descaso que esse tesouro que a mãe natureza nos presenteou!
    Faço questão de parabenizá-lo pela pesquisa para poder nos proporcionar mais um artigo de grande relevância.
    Parabéns pelo excelente Post!
    Já adicionei o link da sua matéria ao Topo do meu Blog.
    Abraços fraternos,
    LISON.

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  2. QUE POST FANTÁSTICO!
    AMIGO ROBERTO:
    Mais uma excelente matéria que você nos brinda e ressalte-se um artigo que deve ser lido e relido quantas vezes forem necessária para a boa compreensão.
    O que me deixa triste, amigo, é assistir tanto descaso para com esse tesouro que a mãe natureza nos presenteou!
    Faço questão de parabenizá-lo pela pesquisa para poder nos proporcionar mais um artigo de grande relevância.
    Parabéns pelo excelente Post!
    Já adicionei o link da sua matéria ao Topo do meu Blog.
    Abraços fraternos,
    LISON.

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  3. A convivência com os seus textos, Lison, tem aguçado o meu interesse por matérias desse tipo, apesar de seu eu, já há algum tempo, um interessado pelas coisas do meio ambiente.

    Acho até que lhe devo um pedido de desculpas por estar invadindo a área de um assunto que você domina com riqueza de detalhes, mas achei o tema muito interessante, e porque não dizer, também emocionante, reação que se tem ao perceber como é perfeita a Natureza, como tudo nela funciona com precisão assombrosa.

    Pena que o homem ainda não percebeu isso!

    Um grande abraço...

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  4. Roberto,adorei conhecer "os rios voadores",jamais poderia supor que a chuva que ocorre aqui no sudeste vem de tão longe,sem dúvida uma informação magnífica que nos impele a respeitar ainda mais a tão sofrida Amazônia.
    Bjos

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  5. É verdade, Cecília!

    Confesso que também desconhecia o assunto, e fiquei impressionado. A Natureza é realmente perfeita. A importância da Amazônia, como se pode ver, é bem maior do que se imaginava, por isso ela precisa de mais respeito e proteção.

    Um grande abraço...

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  6. Blog também é cultura. Vivaaaaa!
    Desconhecia o assunto e vou copiá-lo para ler de novo depois.
    Obrigada pela contribuição.
    abçs
    Atena

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  7. É isso aí, Atena!

    Vivendo e aprendendo, Eu também não sabia que rios podem voar sobre nossas cabeças. Achei sensacional a matéria, e por isso a publiquei aqui no Dando Pitacos.

    Um grande abraço...

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  8. Eu sempre soube que o Amazonas é o pulmão do Brasil. Ah se os brasileiros soubessem que, o Amazonas é a nossa maior riqueza. Não apenas como a mídia mostra. Eu me refiro a alma do Amazonas, que raros são os que sabem.
    Essa dos rios voadores foi mais um alimento para alma.
    abçs

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  9. Legal, Diego!

    São poucos os que têm a noção exata do que a floresta Amazônica representa, não só para o Brasil, mas para todo o mundo.

    É bom saber que você é mais um na corrente em favor do meio ambiente!

    Um grande abraço...

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  10. Olá meu querido Roberto!
    Muito bacana essa matéria! Conscientizadora e didática. Quando li o título já me encantei, pois entrou-me como poesia aos olhos e depois de ler a matéria, entrou no coração também!
    A natureza é perfeita! Uma verdadeira obra que, ao meu ver, se não tiver a "mão" de uma força maior, não sei o que pensar. As imagens são belíssimas e fico imaginando a emoção de estar sobrevoando e testemunhando esse acontecimento.
    Bom, gostaria que mais pessoas vissem a riqueza que é a selva Amazônica e o que ela nos dá de presente, enquanto o homem ingrato e ignorante ainda a devasta.
    Grande beijo, meu amigo! Foi ótimo ter parado aqui para ler!
    Jackie

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  11. Engraçado, Jackie! Quando me deparei com a matéria, também tive a impressão de que ia ler alguma coisa poética ligada ao meio ambiente, e acabei esbarrando nessa linda história sobre detalhes da Natureza, que eu confesso, não conhecia.

    Mas acho que a primeira impressão que tivemos não foi errada, porque a Natureza é um verdadeiro poema aos olhos dos que a conseguem enxergar como ela é: sutil e maravilhosamente perfeita! Obra de uma força superior, com certeza!

    Um grande abraço...

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  12. Maravilha!
    Vou reler com a calma que o texto merece.
    Um abraço.

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  13. Com certeza, Beth!

    Tenho certeza que você conhece a importância da Natureza, mas o texto traz alguns detalhes que nos mostram que ela, além de importante é maravilhosa, perfeita!

    Um grande abraço...

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