02 agosto 2010

Rubens Barrichello: audácia e caráter


Sou um apaixonado pela Fórmula 1 desde os tempos de Emerson Fittipaldi. De lá pra cá vi correr grandes pilotos como Michele Alboreto, Jean Alesi, Michael Andretti, Jacky Ickx, James Hunt, José Carlos Pace, Jacques Laffite, Niki Lauda, Nigel Mansell, Ronie Peterson, Alain Prost, Clay Regazzoni, Carlos Reutemann, Jackie Stewart, Gilles Villeneuve e Michael Schumacher, entre outros.

Além de Emerson Fittipaldi, nosso primeiro grande campeão na categoria, e de Nelson Piquet, um nome quase esquecido, acredito até que pelas atitudes tomadas fora das pistas, o Brasil teve o privilégio de acordar em suas manhãs de domingo ao som dos gritos das vitórias de Ayrton Senna, o maior de todos eles, na minha opinião, é claro.

Felipe Massa é um piloto regular, que até pode vir a ser campeão, mas o meu destaque hoje é para Rubens Barrichello, um grande piloto, a quem sorte esqueceu. Sua maior chance de se tornar um campeão, e capacidade para isso não lhe falta, veio quando ele se sentou no cockpit da Ferrari, infelizmente, na mesma época de Michael Schumacher, que sempre teve a preferência da equipe italiana. Dizem até que as vantagens do alemão estavam previstas nos contratos assinados por ambos com a Casa de Maranello. Mas isso é passado...

Ontem, porém, no GP da Hungria, o nosso Rubens Barrichello deu a todos duas demonstrações: uma de coragem, na pista, numa das ultrapassagens mais espetaculares da história da Fórmula 1, e a outra, do caráter que ele sempre teve como piloto e como homem.

Após a manobra suja de Michael Schumacher, que poderia ter causado um acidente de proporções muito graves, Rubinho desabafou e disse que o alemão da Mercedes não foi limpo na disputa quando o espremeu no muro da reta dos boxes do circuito de Hungaroring. Ele usou palavras duras (mas educadas, como é de seu feitio) para atacar o rival em entrevista concedida à imprensa inglesa.

- Gosto de uma disputa justa, mas não acho que tenha sido o caso. Foi uma manobra com um pouco de kart. Se ele quiser ir para o céu antes de mim - se é que ele vai para o céu. Não sei se ele vai para lá. Mas se ele quiser ir antes de mim, para cima ou para baixo, não quero ir antes dele. Nunca vou recuar em uma situação como esta. Não é justo para mim comentar e estou feliz pela equipe porque marcamos bons pontos após uma classificação não tão boa. Foi uma pena que o safety car tenha entrado e eu perdido tempo – disse ele.

Após a corrida, os comissários de prova da Federação Internacional de Automobilismo – FIA decidiram punir Schumacher por ter jogado Barrichello no muro quando o brasileiro tentava a ultrapassagem a poucas voltas do fim. O alemão da Mercedes vai perder dez posições no grid de largada do GP da Bélgica, próxima corrida da temporada, no dia 28 de agosto.

Rubinho parece ter concordado com a decisão, tanto que disse:

- Não cabe a mim aplicar punições. Mas se eu estivesse sentado lá, saberia exatamente o que fazer. Sou um piloto e nunca desistiria em uma situação como esta, especialmente após tudo o que passei na minha vida e ver quem estava no outro carro. Ele veio para cima de mim, mas deveria ter escolhido sua linha muito antes. De repente, ele me apertou no muro.

Mas ultrapassagem à parte, o grande lance de Rubens Barrichello veio ao final da entrevista que ele deu, divulgada hoje no Bom Dia Brasil, da Rede Globo. Com a humildade que sempre lhe foi característica, disse ele ao repórter que o entrevistou:

- Se eu precisar ser segundo na minha vida, se é essa a bricandeira que as pessoas às vezes fazem, que é ser segundo, mas ser a boa pessoa que eu sou, é o que eu vou ensinar aos meus filhos - finalizou o injustiçado Rubinho com os olhos cheios de lágrimas.

Valeu, Rubens Barrichello, pela audácia na pista e caráter fora dela!

Veja o vídeo: 


 

Sobre o Autor:
Carlos Roberto Carlos Roberto de Oliveira é advogado estabelecido em Nova Iguaçu - RJ. A criação do Dando Pitacos foi a forma encontrada para entreter e discutir assuntos de interesse geral.

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4 comentários:

  1. sempre gostei da F1, mas não assisto +, perdeu a graça depois de tanta coisa feia acontecendo, me lembra a política brasileira. Mto bom o post, Rubinho deu um show msm.

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  2. Valeu, Nathalia!

    Já comentei no diHITT que pensava não receber nenhum comentário sobre essa postagem, porque no esporte as pessoas só valorizam os vencedores, mesmo que o caminho trilhado para a vitória não seja muito ético, como fez o Schumacher, por exemplo, em sua carreira. Um grande piloto, ninguém pode negar, mas egoísta e sem respeito para com os adversários.

    Rubens Barrichello é um sujeito diferente, com outra educação e elevados conceitos éticos. Um cara de palavra e amigo de todos, por isso me emocionei quando ele disse que se tiver que continuar sendo o segundo para ser o bom sujeito que é, ele o fará, e é isso que ensinará aos filhos.

    Para mim um homem não pode ser campeão apenas dentro da sua profissão ou atividade, mas fora dela também. Por isso o vejo como um grande campeão!

    Um abração abração...

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  3. Saudações!
    Amigo Roberto:
    O seu artigo registra a trajetória de um dos mais importantes esportistas da atualidade no mundo do da Fórmula 1.
    Eu também comungo com a sua linha de pensamentos. O Rubens Barrichello está mais que correto. De que adianta conquistar prêmios passando por cima dos outros, ora, todos estão acompanhando os procedimentos e depois que valores ele passaria para toda uma geração se usasse de tais recursos.
    O seu artigo além de prestar uma justa homenagem a este grande cidadão é reflexivo e educativo.
    Parabéns por mais uma excelente matéria!
    Fraternalmente,
    LISON.

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  4. Foi exatamente o que eu quis fazer, Lison!

    A minha intenção com o texto, além de reconhecer o talento do desportista, foi mostrar às pessoas que um grande homem ou ser humano não é forjado apenas nas vitórias, mas também na tentativa de alcançá-las, e até mesmo nas derrotas, de onde muitas vezes acabamos tirando as maiores lições de vida.

    O grande lance do Barrichello na entrevista que está no vídeo, muitos não devem ter percebido, está na noção de caráter que ele demonstrou ao dizer que não tem medo de continuar sendo o segundo, se isso o mantiver como a pessoa boa que ele sempre foi, porque essa é a lição que ele quer deixar para os filhos.

    Esse tipo de exemplo não será repassado, tenho absoluta certeza, para os filhos do Schumacher, do Fernando Alonso, de Fernando Collor de Mello, Paulo Maluf, José Dirceu, José Sarney, Renan Calheiros, etc, etc, etc.

    Aliás, caráter é mercadoria rara nos balcões do mundo em que vivemos!

    Um grande abraço...

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